20/02/2005
Ciências biológicas: Cientista mais curioso sai na frente na pesquisa
BRUNO LIMA
da
Folha de S. Paulo
De onde vêm os micróbios? Por que os filhos se parecem com os pais? Como é, de perto, a barbata na de um peixe? Curiosidades como essas fizeram o avanço da biologia e trouxeram o homem a seu atual estágio de evolução.
"Ser curioso é uma característi ca evolutiva da nossa espécie, é uma imensa vantagem adaptativa", defende Gilberto Xavier, presidente da Comissão de Pós-Graduação do Instituto de Biociências da USP. Segundo ele, a curiosidade é também uma ferramenta de seleção no mercado de trabalho: sobrevive quem faz mais perguntas --e encontra respostas.
O desejo de desmontar para sa ber como é por dentro, que lembra brincadeira de criança, é o que leva profissionais à biologia. "A própria escolha da carreira já indica inclinação para a pesquisa."
E os especialistas defendem que os estudos não devem sempre se preocupar com a aplicação práti ca. "É a pesquisa básica que leva ao conhecimento aplicado", diz José Daniel Lopes, coordenador da pós-graduação de microbiologia e imunologia da Unifesp.
Mercado microscópico
O outro lado dessa atividade lú dica é o que restringe o campo de atuação na área: além da pesquisa e do ensino, não há muitas opções. Mesmo em ONGs, na indústria e em órgãos públicos, a rotina é a de investigação científica --e a pós-graduação é essencial. Nos grandes centros de estudo, a exigência é o pós-doutorado.
Em São Paulo, o mercado é res trito e bastante competitivo, mas há fartura de oportunidades em outras regiões do país. Isso significa que quem estuda deve estar preparado para deixar o Estado.
Um espaço que deve se expandir é o das instituições privadas de ensino. A lógica é que os doutores pagam seu próprio salário. Como pesquisadores, são capazes de obter recursos (como verbas para equipamentos e bolsas) maiores que seus rendimentos.
Essa é a estratégia da UMC (Universidade de Mogi das Cruzes), única particular com mestrado na lista de alto nível da Capes. "Vamos começar com o doutorado em março", revela João Lúcio de Azevedo, coordenador do núcleo de biotecnologia da escola.
Um terço do corpo docente veio da USP, um quarto da Unicamp, e o restante, quase todo da Unifesp. Entre os 54 programas de biológicas recomendados pela Capes, há oito com nota 7, todos públicos: 1 da Unicamp, 2 da Unifesp e 5 da USP (três deles no campus de Ribeirão Preto).