20/02/2005
Ciências humanas: Iniciativa privada abriga de filósofo a historiador
Colaboração para a
Folha
As ciências humanas chamam a atenção pela vastidão de carreiras. Tradicionalmente, seus profissionais são preparados para o magistério. Entretanto, o mundo contemporâneo tem proporcionado uma diversificação das possibilidades no mercado de trabalho.
Integrantes da maioria das profissões já se encaixam em áreas multidisciplinares de diversos ramos de atividade (gerontologia, por exemplo) e nas empresas (setores de RH, ONGs etc.).
O carro-chefe é a educação. Com 68 programas de pós-graduação recomendados pela Capes, a área deve crescer ainda mais. "É uma necessidade. A demanda é grande por pós na educação", afirma Roberto Leher, diretor da regional Rio de Janeiro do Andes (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior). "Temos problemas gravíssimos na educação brasileira, e isso demanda o fortalecimento da pós." Talvez isso explique a acirrada concorrência nos processos de seleção.
Luz no fim do túnel
Até mesmo áreas ainda consideradas exóticas no país, como a antropologia, já vislumbram uma luz no fim do túnel. "O antropólogo está sendo muito absorvido pelas ONGs e pelo poder público, no que tange às questões de inclusão social", diz Uirá Felippe Garcia, 28. A dois meses de defender sua tese de mestrado na USP sobre etnologia indígena, o antropólogo --que pretende partir para o doutorado-- trabalha na ONG Instituto Socioambiental, onde integra a equipe responsável por uma enciclopédia eletrônica sobre povos indígenas brasileiros.
Sociologia
Com 45 programas de pós no total, dez em São Paulo, a sociologia e a ciência política também têm "peso" nas humanidades. "[A área] é grande porque reúne a sociologia propriamente dita e programas multidisciplinares de ciências sociais", explica o professor Reginaldo Prandi, que representa a área na Capes.
Segundo ele, os cursos de mestrado e doutorado se interessam pela docência e pela pesquisa acadêmica. "Quem quer ir para a iniciativa privada faz especialização", diz. Mas isso deve mudar. "Está surgindo uma nova tendência de investir em programas temáticos, mais específicos, como estudos sobre a mulher ou os idosos. Isso vai gerar maior especialização entre os profissionais e ampliar sua atuação."
Geografia
Os programas de geografia, embora sejam em menor número (26, 5 em SP, dos quais 3 de excelência) e praticamente restritos às universidades públicas, estão atraindo profissionais como arquitetos, economistas, jornalistas e agrônomos, segundo diagnóstico da geógrafa Sonia Castellar, diretora da Associação de Geógrafos Brasileiros, seção São Paulo.
"É uma área promissora, engloba vários segmentos", explica ela. De planejamento urbano à questão agrária e ambiental, há muitos profissionais em empresas públicas e privadas. "Até empresas que fazem levantamento estatístico de publicidade estão contratando geógrafos para fazer perfil socioeconômico", conta ela.
As linhas de pesquisa de mestrado e doutorado, segundo Castellar, estão voltadas para todos esses setores e também para as áreas tradicionais (produção de mapas por meio de satélites e computadores, análise de problemas habitacionais, preservação do patrimônio histórico).
O único problema é que as escolas particulares ainda são raras. "A estrutura é cara. Precisa ter laboratórios e fazer pesquisa de campo e isso gera um alto custo", analisa a geógrafa.
História e filosofia estão entre os campos mais restritos. Além da docência e da pesquisa, profissionais formados em história encontram espaço em órgãos públicos voltados para a preservação do patrimônio histórico, em institutos de pesquisa, centros culturais, museus ou arquivos. Há profissionais prestando também assessoria a empresas. O filósofo tem a possibilidade de atuar como pesquisador em institutos culturais, crítico literário e crítico de arte, além de sua vocação para a docência.
"Na área de recursos humanos, o mestrado em psicologia é muito valorizado", avisa Fernando Carneiro, presidente da consultoria Spencer Stuart. "Se você é mestre em filosofia, também será bem-visto. A diversidade é valorizada pelas empresas", afirma ele.