10/12/2005
Brinquedo não pode ser compensação
MARIANA IWAKURA
Colaboração para a
Folha
Fernando Moraes |
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Se a vontade de ter o brinquedo é grande, mas o orçamento nem tanto, valem sacrifícios da parte dos pais para que o desejo infantil seja satisfeito? A resposta não é fácil. Dar um presente caro para o filho pode tanto ser uma compensação como a realização de um sonho.
"É difícil romper com o aspecto afetivo do presente de Natal, que é cultivado desde que a criança é um bebê", avalia Sonia Maria Perroud da Silveira Foresti, doutora em psicologia escolar pela Universidade de São Paulo. Para ela, muitas vezes os pais dão presentes caros para compensar sua ausência no dia-a-dia ou um relacionamento que deixa a desejar.
"Eles pensam que, se satisfizerem a vontade dos filhos, continuarão sendo amados por eles."
Mas o brinquedo pode ser também a concretização de uma boa intenção. O consultor de recursos humanos Ary Whitacker, 45, junta dinheiro desde o começo do ano para presentear o filho Érico, 11, com um videogame.
A economia não foi fácil, já que Whitacker passou a maior parte do ano desempregado e chegou a trabalhar como garçom. "Incluí o presente, que já estava prometido desde o ano passado, no orçamento. Juntei até o dinheiro do seguro-desemprego", conta.
Agora, Whitacker está voltando ao mercado, como consultor da Confraria Britânica do Abraço Corporativo. "O Érico entende que há altos e baixos, mas ele espera pelo brinquedo, está até me olhando de maneira diferente. Estou feliz por ter conseguido."
Já a manicure Lilian Conceição Chaves, 47, espera que os filhos Michael, 14, e Victor, 11, entendam que não vão ganhar a bicicleta e o computador que pediram. "Há dois anos, fizemos uma ‘vaquinha’ na família para comprar um Playstation. Neste ano, não vai dar. Sou comissionada e tenho de me preparar para meses de menor movimento no salão. Eles vão ganhar os mais baratos.’’
Mas o resultado não precisa ser tão frustrante. "Adequando a criança à realidade, antes do Natal, ela reage com menos tristeza, caso o presente seja diferente daquele que ela estava esperando", diz a psicopedagoga Tânia Fortuna, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Entretanto, para ela, nem sempre o sacrifício dos pais deve ser condenado. "Eu respeito os esforços dos adultos para ir ao encontro dos sonhos dos seus filhos, desde que esses esforços sejam cabíveis. Esse é um dos componentes da magia do Natal. Às vezes, tudo o que os adultos querem é realizar um sonho."