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Como assim BALENCIAGA?

Considerado o arquiteto da moda, o espanhol é a principal referência da estação, em linhas e volumes

texto Costanza Pascolato
pesquisa de imagem Bernardo de Aguiar

O nome de Cristobal Balenciaga (1895-1972), o espanhol taciturno, austero, remoto, avesso à publicidade e inquestionavelmente o maior de todos os costureiros, circulou incessantemente entre os "cognoscenti" durante a temporada. Qual a razão? Simplesmente porque a "moda pronta" de luxo resolveu tomar do passado um certo chic aristocrático, com roupas infinitamente mais trabalhadas no corte e na modelagem, que viveu o auge na alta-costura parisiense do final dos anos 40 até o início dos 60 -da qual Balenciaga foi a figura mais próxima do mito.

A própria Chanel confessou que ele foi o único "príncipe", acima de todos os outros, porque além de criador com idéias realmente inovadoras, sabia cortar, montar e costurar qualquer vestido. Esse homem esquivo, maníaco por perfeccionismo, inventou cortes, volumes e formas inéditas de qualidade estrutural independente da silhueta humana. O arquiteto da moda, como o chamaram, conseguia fazer viver o traje, acompanhando o corpo, sem o revelar, com construções movimentadas pelo gesto. Entendeu que a elegância vem da eliminação dos detalhes e da perfeição do corte. Uma espécie de minimalismo suntuoso que exigia, entretanto, uma certa elegância na atitude. Sofisticação elitizada.

Justamente o oposto do que vem acontecendo na maneira de vestir contemporânea, que privilegia o corpo. Também o gesto e a atitude passaram por uma deselitização radical, fruto de um viver mais descontraído e democrático. Nas ruas, o enfeite passa por um momento de exuberância e exotismos. Portanto, é arrojada a iniciativa do prêt-à-porter de luxo em partir para uma espécie de arremedo de alta-costura (de alta sobriedade) do passado. Parece ser uma estratégia -meio aflita- do luxo em querer se distanciar dos copistas, que com grande velocidade e a uma fração do preço conseguem colocar as imitações nas lojas muito antes dos autênticos. Inevitavelmente, entretanto, um ou outro cacoete do principesco estilo irá aparecer, diluído, nas ruas.

Apesar da autoridade Prada em Milão, que abraçou com entusiasmo a nova sobriedade sofisticada, Paris dominou nesta nova vertente do chic. Inteligente a interpretação dos arquivos do lendário Cristobal por Nicolas Ghesquière para Balenciaga. Afastando-se do preciosismo retrô dos anos 50, Ghesquière mergulhou nos volumes modernistas, lineares, de Balenciaga dos anos 60, que influenciaram definitivamente a interpretação futurista de André Courrèges, à época. Tecidos compactos, formas lapidadas de excessos, volumes dramáticos nos ombros para realçar a fragilidade da cabeça, o uso do gazar (tecido fetiche do mestre) e a simples perfeição dos volumes suavemente geométricos convenceram. Roupas de rigor histórico com sotaque contemporâneo.

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