Folha de S.Paulo Moda
* número 16 * ano 4 * sexta-feira, 16 de dezembro de 2005
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A virada urbana do sarongue e da saruel



Caetano Veloso na entrega do prêmio Sharp em 1993

A influência balinesa do sarongue se confirma nas coleções masculinas do verão brasileiro. Originalmente usado por homens e mulheres como um traje religioso, este tecido, que pode variar de 5 m à 8 m de comprimento com 1,5 m de largura, usado fortemente enrolado ao redor do corpo e posteriormente transpassado por entre as pernas, forma uma espécie de saia-calça, criando uma imagem que combina muito com a nossa descontração.

A calça saruel, de origem marroquina, proporciona uma versão bem mais urbana dessa imagem. O desenho do gancho é o que mais a diferencia de uma calça convencional, sendo necessariamente grande e podendo variar entre medidas mais usuais ou mais conceituais. Nos modelos mais fiéis à construção original, esta característica é gerada por um inusitado recorte transversal existente entre as pernas. Assumir este novo volume no quadril faz parte do estilo, e isso que é o legal.

Desde a época da Tropicália, quando Caetano Veloso usava de forma impetuosa e transgressora seus trajes indianos, até os dias de hoje, muita coisa mudou, mas a polêmica perdura. "Naquela época era todo um trabalho de arte e quebra de conceitos, mas hoje significa mais um exercício de imagem, de consumo e estilo de vida", diz o estilista Igor de Barros. "Hoje, o desejo do saruel é a confirmação do momento de busca do conforto e rompimento com o tecnológico", afirma.

O que inicialmente representava uma identidade exclusivamente jovem, mais ligada ao jeanswear, ganha adesão das principais marcas e aparece em versões risca de giz, sarja e tricoline, lisos ou estampados, criando opções para qualquer tipo de adepto.

Autenticidade e cuidado são indispensáveis nessa escolha. Para usar um sarongue ou uma calça saruel, deve-se obedecer aos mesmos critérios de autocrítica e adequação que usamos para qualquer situação. "Estive recentemente no Butão e achei muito bonitos e elegantes os robes que os homens usam em cerimônias religiosas. Fora delas, entretanto, alguns deles optam por usar roupas ocidentais, por não se sentirem à vontade", afirma o empresário Paulo Lima.

Quanto maior a quebra do visual, melhor. Não seja óbvio na composição. Essa proporção volumosa da parte de baixo deve ser usada em looks streetwear megadescolados nos homens mais baixos. Já os homens mais altos têm, além desta, a opção por versões mais formais e sofisticadas. Neste novo momento, a saruel não deve ser usada como uma imagem étnica, e sim urbana. Quanto maior a mistura de referências, melhor: camisas, camisetas, polos, jaquetas… misture tudo e esteja atento!

A escolha das peças da parte de cima deve ser muito precisa. Qualquer escorregão pode virar exagero, e a intenção despo- jada se perderá. Use sandálias mais refinadas em couro, quando a proposta for mais casual, tênis para o dia-a-dia e até mesmo sapato, se a festa for realmente incrível. "Ir a jantares, passear por seu bairro ou até mesmo em seu trabalho, tudo é possível se bem usado", afirma o arquiteto Marcelo Rosenbaum. Fica claro o desejo masculino de desfrutar de novas possibilidades.

por Vitor Santos
fotos Debby Gram
produção Heleno Jr.
modelo Lucas D’Lana (Elite)
beleza Cahuê Costa (Molinos & Trein)

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