12/09/2005
A favor da proibição - Sou da Paz: O "SIM" nas urnas
da Folha Online
Tão importante quanto a aprovação do "SIM" no referendo do dia 23 de outubro, será a discussão suscitada pela campanha que já começa a ganhar fôlego e espaço em veículos de comunicação de todo o país. Mais do que simplesmente apertar o número 2 na urna eletrônica, é essencial que a população saiba o por quê e qual a importância da proibição da venda de armas e munição no Brasil.
É importante trazer à tona todas as razões pelas quais nós temos certeza de que arma não foi feita para defender, e sim, para matar. Para isso precisamos ressaltar e fazer com que toda a população saiba que diariamente 108 pessoas morrem no Brasil, vítimas de armas de fogo. E que a grande maioria das armas que matam são armas de pequeno porte e de fabricação nacional.
Precisamos que toda a população saiba que essas armas que mais matam são aquelas que um dia foram registradas e que após terem sido roubadas, furtadas ou revendidas indiscriminadamente como moeda corrente da criminalidade, chegaram às mãos dos bandidos (para se ter uma idéia, de acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública, só no estado de São Paulo, entre os anos de 1993 e 2000, mais de 100 mil armas foram roubadas, furtadas ou perdidas, o que representa cerca de 14.300 por ano).
Criminosos esses que dão às vidas de suas vítimas um valor muito menor do que aquele utilizado para pagar a arma que recorrentemente precisam ter em mãos, e que, por isso mesmo, fazem o que for preciso para tirá-las de quem as tem.
Durante a Campanha pelo Referendo, precisamos fazer com que as pessoas saibam da importância de tirar de circulação as armas que alimentam a maioria dos assassinatos registrados, cometido entre pessoas que já se conheciam e que não possuíam antecedentes criminais, que são aqueles crimes cotidianos e intempestivos, motivados por causas fúteis, como brigas de trânsito, em bares ou pelo estímulo do álcool. Armas que matam por acidente, sendo que as principais vítimas são crianças.
Queremos que o brasileiro saiba que, quanto mais armas em circulação, mais mortes são registradas e que a chance de uma pessoa morrer numa reação armada a roubo é 180 vezes maior de que morrer quando não há reação [ISER, 1999]. Além de tudo isso, a Campanha para o Referendo fará com que possamos dizer à população que o desarmamento não é a solução da criminalidade, mas que é um passo insubstituível para sua conquista.
E podemos enfatizar isso utilizando dados de um estudo feito pelo pesquisador Túlio Kahn, pelo Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Oxford, que mostra que dos 37% da queda de homicídios em São Paulo, entre 2002 e 2004, 14,8% se devem exclusivamente ao Estatuto do Desarmamento.
Por fim, queremos que todos os cidadãos saibam que o desarmamento salva vidas e que esse argumento por si é mais forte do que qualquer outra teoria que se esconda por trás do verdadeiro desejo de fortalecer uma indústria que só lucra com a morte alheia e que será tão mais poderosa quanto mais debilitada estiver a sociedade vitimada pela violência.
Denis Mizne é diretor-executivo do Instituto Sou da Paz
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