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Sucessão no Vaticano
18/04/2005

Hondurenho é conhecido por luta contra a corrupção e a pobreza

da Folha Online

Plinio Lepri/AP
Oscar Andres Rodríguez Maradiaga: arcebispo de Tegucigalpa (capital de Honduras)
Oscar Andres Rodríguez Maradiaga: arcebispo de Tegucigalpa (capital de Honduras)
Oscar Andres Rodríguez Maradiaga, arcebispo de Tegucigalpa (capital de Honduras), é o primeiro cardeal da história de seu país, uma pequena nação localizada na América Central. Socialmente engajado, mas conservador na doutrina moral Maradiaga é um dos principais nomes latino-americanos para suceder João Paulo 2º.

Contam a seu favor o fato de ser classificado como um bom comunicador e adotar o conservadorismo moral, permeado pela preocupação social --assim como era João Paulo 2º. Apesar da rigidez neste campo, Maradiaga é engajado nas discussões com o FMI (Fundo Monetário Internacional) sobre a dívida dos países pobres e na luta contra a corrupção política.

Em recente entrevista ao jornal italiano "La Repubblica", ele colocou a globalização, o avanço da pobreza e a biogenética como os principais desafios da igreja atualmente.

A globalização, aliás, foi o tema escolhido por ele para nortear o doutorado honoris causa em Ciências da Educação, que lhe foi conferido pela Pontifícia Universidade Salesiana. Intitulada "Educação para os valores em um mundo globalizado desde uma perspectiva latino-americana", a tese apresenta o a globalização como o novo contexto do qual se deve partir para uma prática educativa da juventude.

Aos 62 anos, o religioso, nascido em 29 de dezembro de 1942 na capital hondurenha, é considerado jovem para os padrões do Vaticano.

Início

Maradiaga foi um bebê prematuro que pesava 1,3 quilos ao nascer, motivo pelo qual os médicos acreditavam que não resistiria. "Minha mãe começou a orar e pedir a Deus que salvasse seu filho. Todos os dias, até o dia de sua morte, ela rezava um santo rosário", recordou ele dias antes de ser designado como primeiro cardeal hondurenho.

Terceiro de quatro irmãos, Maradiaga também contou que sonhava, durante sua infância, ser piloto de avião (pilotou as primeiras aeronaves aos 14 anos) e saxofonista de um cabaré famoso --aos 10 anos, ele já era pianista.

Multi-instrumentista, o cardeal de Honduras toca saxofone, piano, acordeão, violão e bateria --estudou harmonia de composição e já ensinou música sacra. Poliglota, qualidade apreciada pelo Vaticano, fala espanhol, inglês, francês, alemão, italiano e português, sem contar o grego e o latim.

Maradiaga decidiu ingressar na vida religiosa em 1961, em uma escola salesiana. Os padres ou freiras salesianos pertencem à Congregação de São Francisco de Sales, fundada por são João Bosco em 1859, cujo foco dos trabalhos é a formação da juventude.

Formação e atuação

O cardeal hondurenho completou seus estudos primários e secundários no Instituto Salesiano de San Miguel e, em 1965, formou-se como professor do ensino médio em física, matemática, ciências naturais e química, na Escola Normal Masferrer de El Salvador. Nesse mesmo ano, obteve o grau de bacharel em filosofia pelo Instituto Don Rúa de El Salvador.

Em 28 junho de 1970, Maradiaga recebeu a ordenação sacerdotal (que permite o sacerdócio), ocasião em que optou "com firmeza em fazer os votos de pobreza, castidade e obediência". Em 1978, ele recebeu a ordenação de bispo titular de Pudenziana e Auxiliar de Tegucigalpa, sendo promovido a arcebispo da mesma diocese em 8 de janeiro de 1993.

A consagração de cardeal veio em fevereiro de 2001, sob o título "Nossa Senhora da Esperança" ("Our Lady of Hope"). No mesmo consistório foram nomeados cardeais os brasileiros dom Geraldo Majella e dom Cláudio Hummes.

Quando ficou sabendo da nomeação, Oscar Maradiaga afirmou que jamais sonhou ser bispo e muito menos cardeal. "Sempre acreditei que serviria a Deus, sendo professor de seminaristas, cujo trabalho foi o primeiro que desempenhei na igreja", afirmou.

O cardeal hondurenho é doutor em teologia pela Pontifical Lateran University (Pontifícia Universidade Luetrana), em Roma, e formado em psicologia e psicoterapia pela Leopold Franz University, de Innsbruck.

Entre outras funções, Maradiaga foi secretário-geral e presidente do Celam, o Conselho Episcopal Latino-americano. Também ocupou o cargo de professor de teologia no Salesian Theological Institute (Instituto Teológico Salesiano), na Guatemala, e de reitor do Salesian Philosophical Institute (Instituto Filosófico Salesiano), no mesmo país.

Dentro da Igreja Católica, já integrou os seguintes organismos da Cúria Romana no Vaticano: Congregação do Sacerdócio, Conselho de Justiça e Paz, Conselho de Comunicação Social, Comissão para a América Latina (CAL); Conselho Especial para a América da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos.

Luta contra a pobreza

Oscar Andres Rodríguez Maradiaga é uma das personalidades mais importantes de seu país por sua luta contra a corrupção e a pobreza. Ele acredita que os países pobres e em desenvolvimento "não devem continuar a pagar uma dívida externa que já foi integralmente paga".

Para o cardeal, os tratados de livre comércio, como os que existem entre os Estados Unidos e os países da América Central, não beneficiam em nada as pequenas nações, porque estas não podem exportar o que produzem justamente por conta das barreiras impostas pelas grandes economias. A conclusão, segundo Maradiaga, é de que tal processo só serve para aprofundar a pobreza nessas regiões em desenvolvimento.

"A justiça social tem de ser a agenda do século 21 em todos os países da América Latina", disse Maradiaga em 2001, mesmo ano em que se tornou cardeal. Em tom semelhante, já disse à imprensa que o "marxismo caducou" e criticou e neoliberalismo: "o capitalismo neoliberal carrega a injustiça e a desigualdade em seu código genético", afirmou.

Em congressos da igreja, ele já defendeu idéias polêmicas, entre elas a necessidade de criar um tribunal internacional que investigasse delitos econômicos cometidos por ditadores. Outro ponto delicado é a forte crítica feita às privatizações. "A globalização das multinacionais está reduzindo as oportunidades para os empresários locais. Na Argentina, por exemplo, privatizou-se tudo o que era possível, e todo o dinheiro foi perdido. Uma situação similar ocorreu no Peru".

Maradiaga costuma ser criticado justamente pela franqueza com que trata esses e outros assuntos. Para vaticanistas, ele fala além do que a igreja gostaria. O cardeal foi um dos únicos, por exemplo, que falou abertamente da suposta disposição do papa João Paulo 2º em renunciar caso este percebesse que chegara a hora de tal ação. Após algumas repreensões, deixou de tocar no assunto.

Luta contra a corrupção

Em várias entrevistas concedidas à imprensa internacional, Maradiaga afirma que os principais valores que devem ser resgatados pelos latino-americanos são a auto-estima e a honestidade. "A grande maioria de nosso povo tem uma auto-estima muito baixa, porque estão sempre ouvindo que não servimos para nada, que este é um país atrasado", disse certa vez.

Sobre o valor da honestidade, Maradiaga acredita que, na região, criou-se o que ele denomina de "cultura da corrupção". "Especialmente no âmbito político, com base na crença de que o que vale é o que tem dinheiro. Não importa como o obteve, ou se foi roubado. O importante é que tenha dinheiro. Por isso necessitamos de uma cultura da honestidade, da verdade", diz ele.

Assim, como "conseqüência lógica" do combate à corrupção, o cardeal acredita que serão resgatados "os valores da família" e da "integração social". Para ele, hoje em dia uma criança já nasce com uma bandeira partidária na mão. "Por isso empreendemos uma campanha de educação política através da igreja, que provocou alguma estranheza, mas que ao longo do tempo vai dar muitos resultados".

Sobre a resistência da sociedade com relação ao fato de Igreja Católica desempenhar um papel de destaque nesse âmbito, Maradiaga diz que não vê problemas. "Nas décadas da repressão militar a igreja sempre teve uma voz, quando muitas outras instituições se calaram. Hoje nossa voz procura fazer com que a sociedade reflita sobre a ética, a integração social, a globalização com eqüidade".

Pedofilia

O cardeal de Honduras não poupa críticas à televisão e aos meios de comunicação, os quais ele classifica como sensacionalistas. "Creio que os meios de informação, especialmente a televisão, estão excessivamente comercializados e concentrados nas más notícias", já afirmou Maradiaga.

A principal crítica aparece quando são mencionados os recentes escândalos e denúncias de abusos sexual cometidos por padres, principalmente nos Estados Unidos. "Tudo é uma montagem dos meios de comunicação. Esses casos de abusos representam uma porcentagem mínima do clero, mas ganharam dimensão maior porque se procura desprestigiar a igreja", disse ele.

O motivo desse tratamento por parte da imprensa, segundo ele, é o fato de a "Igreja Católica, sobretudo na América Latina, começar a erguer-se contra as injustiças, por exemplo contra a dívida externa. Isso incomoda as nações opulentas".

     

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