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Sucessão no Vaticano
15/04/2005

Moderado, Tettamanzi critica neoliberalismo, e é considerado "amigo de todos"

da Folha Online

Kimimasa Mayama/Reuters
Dionigi Tettamanzi: arcebispo de Milão
Dionigi Tettamanzi: arcebispo de Milão
"Amigo de todos". Foi assim que a mídia italiana definiu o cardeal de Milão Dionigi Tettamanzi, 71, um dos principais candidatos a assumir a vaga deixada por João Paulo 2º no comando da Santa Sé. De orientação moderada, explorou as fronteiras da bioética e da ética econômica na era da globalização, da qual é crítico ferrenho.

João Paulo 2º tinha um apreço especial pelo cardeal de Milão, que era uma espécie de referência teológica às questões de cunho moral. Do último sumo pontífice, ele carrega as mesmas opiniões sobre o aborto e a eutanásia, defendendo o valor da vida, e rejeitando a adoção de qualquer uma dessas práticas.

Apesar de sua posição sobre as questões sociais, que agrada a boa parte da ala progressista da igreja, Tettamanzi mantém um forte vínculo com o Opus Dei, grupo conservador da igreja, muito prestigiado pelo papa João Paulo 2º. Em 1998, por exemplo, publicou um artigo elogiando o fundador da organização, José Maria Escrivá de Balaguer.

É considerado por vaticanistas e teólogos como a opção mais sólida para a continuação do trabalho desenvolvido por João Paulo 2º. Mas ao contrário do antigo papa, ele não viajou muito, e não fala nenhuma língua, a não ser o italiano.

Alguns italianos o comparam com o papa João 23 (1958-1963), "o papa da bondade". Seus críticos dizem que é dotado de pouco carisma, mas é um bom comunicador, como afirmou o jornal "Corriere della Sera", citando uma de suas mais famosas frases: "Eu sou o primeiro a esquecer um discurso, mas jamais esqueço um aperto de mãos", falou aos jornalistas, quando ainda era cardeal milanês.

Ascensão

Tettamanzi foi ordenado padre em 28 de junho de 1957, e continuou seus estudos até 1960. Por 20 anos, lecionou teologia fundamental no seminário de Venegono Inferior, e teologia pastoral no Instituto Sacerdotal Maria Imaculada, e também deu aulas no Instituto do Ministério Pastoral da Lombardia.

A ascensão de Tettamanzi dentro dos postos elevados da igreja foi muito rápida.

Foi eleito arcebispo pela primeira vez em 1989, quando passou a cuidar da arquidiocese da Província de Ancona (na região central de Marche), que abriga a basílica de Loreto, um dos lugares preferidos por João Paulo 2º.

Durante o período que passou em Acona, Tettamanzi também foi presidente da Conferência Episcopal da região de Marche, e em junho de 1990, e presidente da Comissão dos Bispos da Conferência Episcopal Italiana (CEI) para a Família.

Em 14 de março de 1991, foi eleito secretário-geral da CEI e, em 6 de abril do mesmo ano, renunciou ao cargo de arcebispo de Ancona. Por quatro anos, trabalhou ativamente dentro da CEI, até que, em 20 de abril de 1995, assumiu a arquidiocese de Gênova (região da Ligúria, noroeste do país).

No ano de 2002, João Paulo 2º o nomeou arcebispo de Milão, a maior arquidiocese católica da Europa, com mais de 5 milhões de fiéis e cerca de mil paróquias. Ele substituiu o cardeal Carlo Maria Mariani, que havia chegado à idade limite de 75 anos.

A nomeação dividiu o Vaticano na época. Alguns religiosos consideraram o ato de João Paulo 2º como um "sinal de reconhecimento" do trabalho de Tettamanzi. Críticos afirmaram, na época, que o arcebispo tinha, na verdade, se oferecido para o cargo.

Projeção

"Uma criança africana com Aids conta mais do que o universo inteiro", afirmou, durante um protesto antiglobalização durante a cúpula do G-8 (grupo que reúne os sete países mais ricos do mundo Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Canadá, mais a Rússia), em julho de 2001, quando ainda era arcebispo de Gênova.

Um dos grandes momentos da atuação de Tettamanzi foi durante essa reunião, de um dos grupos econômicos mais poderosos do mundo. A cidade na época foi invadida por centenas de milhares de manifestantes que protestavam contra a distribuição desigual de renda nos mercados globalizados.

Durante os protestos, um manifestante foi morto pela polícia. Os líderes, entre eles o presidente americano, George W. Bush, fizeram suas reuniões no centro histórico da cidade, que teve, na época, seu acesso bloqueado pela polícia.

Em um artigo publicado no jornal da conferência dos bispos "Avvenire", Tettamanzi criticou a atuação dos policiais e o isolamento dos líderes: "Estamos testemunhando um contraste claro entre capital e trabalho (...) no mercado da aldeia global, quem paga o preço não são os industriais, e sim as mulheres e homens que trabalham. (...) O lucro não determina absolutamente o valor de um homem."

O artigo foi muito criticado, e interpretado por alas da sociedade italiana como um "combustível" aos manifestantes.

Apesar de suas críticas a globalização, uma de suas obras, "Bioética Cristã", foi patrocinada pela Microsoft. A gigante da tecnologia lançou, em 2000, o livro em um CD-ROM, e criou uma página na internet dedicada ao assunto.

Ele também se posicionou a favor da integração dos imigrantes na sociedade italiana, um tema controverso no país, que o levou a bater de frente com os partidos de direita. O jornal "El Foglio", partidário do primeiro-ministro Silvio Berlusconi, chegou a classificá-lo como "o último comunista".

Doutrina social

Durante seus estudos, Tettamanzi especializou-se em teologia moral, e em doutrina social. Sua carreira acadêmica foi muito valorizada dentro da Igreja Católica.

Aos 23 anos, graduou-se em teologia e, três anos depois, em 1959, obteve a titulação de doutor pela Pontifícia Universidade Gregoriana, uma das mais importantes instituições de ensino religioso para o Vaticano.

Trabalhou com João Paulo 2º em duas das mais importantes encíclicas, e é freqüentemente citado como um dos religiosos que auxiliou o sumo pontífice no desenvolvimento de vários outros textos sem, no entanto, ser citado diretamente.

Uma delas, escrita por João Paulo 2º em 1993, e denominada "Esplendor da Verdade", há uma clara defesa pelos valores morais absolutos, contra os conceitos teológicos mais liberais.

A outra, "Evangelium Vitae", redigida em 1995, é conhecida pela denúncia que João Paulo 2º fez à "cultura de morte" ocidental, condenando com veemência o aborto, eutanásia, e os experimentos científicos com o uso de embriões, além de banir o uso de qualquer método contraceptivo.

Em 24 de janeiro de 2004, Tettamanzi foi eleito membro do Pontifício Conselho para a Cultura.

De João Paulo 2º, o cardeal também herdou a defesa pelos direitos dos trabalhadores, pela liberdade, as críticas contra o "capitalismo desenfreado".

Opus Dei

Tettamanzi mantém boas relações com o grupo conservador Opus Dei (Obra de Deus), a quem João Paulo 2º conferiu o estatuto especial de "prelatura pessoal", em 1982. Desta forma, a organização obteve poderes de uma diocese sem território, regida pelo direito canônio e por seus próprios estatutos.

Estima-se que a Opus Dei tenha cerca de 80 mil membros em todo o mundo, sendo 30 mil somente na América Latina. Anticomunista, o grupo possui um incondicional apego ao aparato eclesiástico mais tradicional, de antes do Concílio Vaticano Segundo, que modernizou a igreja no final dos anos 60.

Conhecida como "máfia santa" e "Exército do papa", a Opus Dei controla e influencia escolas, universidades, centros de capacitação e meios de comunicação em diversos lugares do mundo. Entretanto, jamais assume seu apoio juridicamente. A missão do Opus Dei é a de promover o papel dos laicos dentro da igreja.

Classe operária

As idéias sociais defendidas por Tettamanzi são fruto não só de seus estudos e experiências na igreja, mas de sua infância.

Sua cidade de nascimento, Renate, é um reduto operário perto de Milão. Lá, nasceu em 14 de março de 1934, filho de Egidio e Giuditta Ciceri.

Aos 11 anos, foi levado por seus pais ao seminário diocesano de Seveso San Pietro, onde deu início aos seus estudos teológicos.

     

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