Brasil
2º mandato
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09/11/2006

O reeleito

Alan Marques/FI
Nome: Luiz Inácio Lula da Silva
Nascimento: 27/10/1945, em Garanhuns (PE)
Profissão: torneiro mecânico (curso técnico)
Estado Civil: casado com Marisa Letícia da Silva desde 1973. Foi casado com Maria de Lourdes da Silva, que morreu em 1970
Filhos: Marcos Cláudio, Lurian, Fábio Luiz, Sandro Luiz e Luiz Cláudio
Partido: PT

CONTRA X A FAVOR

Pena de morte
Contra
Descriminalização da maconha
A favor
Adoção por casais homossexuais
A favor
Serviço militar obrigatório
Contra
Experiências com clones humanos
Contra
Eutanásia em casos terminais
Decisão da família
Esmolas
Contra
Acredita em Deus?
Sim
Após três derrotas e oito anos de oposição quase sistemática a Fernando Henrique Cardoso (com críticas ao modelo econômico e ao legado na área social), o ex-torneiro mecânico Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou à Presidência da República em outubro de 2002.

Em 2006, Lula foi reeleito com 60,83% dos votos válidos. O petista contabilizou 58.294.988 de votos, enquanto seu adversário, o tucano Geraldo Alckmin, obteve 37.543.083 de votos (39,17%).

Lula é o primeiro líder de um partido de esquerda eleito presidente e, no cargo, o primeiro operário, o primeiro civil sem diploma universitário e o primeiro natural de Pernambuco a exercê-lo como titular.

A cidade de Garanhuns (230 km a sudoeste de Recife), no agreste nordestino, é a terra natal do presidente da República. Lula viveu na localidade de Vargem Grande, em Caetés, então distrito de Garanhuns, até os 5 anos, quando migrou com a mãe, Eurídice, para Vicente de Carvalho (SP), onde o pai, Aristides, já trabalhava na estiva do porto de Santos.

Na infância, o sonho do presidente era virar jogador do Corinthians.

Ao chegar a São Paulo, Lula começou a trabalhar, aos 12 anos, como engraxate e entregador de roupas em uma lavanderia. Em 1963, formou-se torneiro mecânico no Senai e, em 1964, transferiu-se à metalúrgica Aliança. Foi aí que perdeu o dedo mínimo da mão esquerda, em acidente.

A passagem da vida de operário para a de político aconteceu com a atividade sindical, para a qual entrou em 1966, por intermédio de seu irmão José Ferreira da Silva, o Frei Chico, militante do extinto Partido Comunista.

Em 1972, foi eleito primeiro-secretário do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema. Em 1975, elegeu-se presidente da entidade.

Na época, ele surgia como uma nova liderança no país. O Brasil vivia sob o regime militar, e os sindicatos dos metalúrgicos do ABC desafiavam o poder constituído na luta por melhores salários.

Na paralisação de 1979, o sindicato de São Bernardo e Diadema sofreu intervenção do governo federal, e Lula foi destituído do cargo. Em 1980, mais de 100 mil trabalhadores aderiram ao que foi considerado pela imprensa na época de "a maior paralisação operária da história do sindicalismo brasileiro".

Lula e mais sete sindicalistas --entre eles o ex-presidenciável do PSTU José Maria de Almeida-- foram presos pelo Dops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social) como forma de pressionar a volta ao trabalho. Lula foi solto após um mês de prisão.

Em 1981, foi condenado pela Justiça Militar a três anos e seis meses de detenção por incitação à desordem coletiva, mas a sentença acabou anulada no ano seguinte.

Em fevereiro de 1980, Lula participou da fundação do Partido dos Trabalhadores, em São Paulo e, em 26 de maio, sua chapa foi eleita para comandar a Executiva da sigla.

Em 1982, Luiz Inácio da Silva acrescentou o apelido "Lula" ao nome e disputou o governo de São Paulo. Em 1986, foi eleito com a maior votação do país para a Assembléia Nacional Constituinte. Em 1989, disputou pela primeira vez à Presidência da República e foi derrotado por Fernando Collor de Mello no segundo turno.

Em 1994 e 1998, perdeu a eleição no primeiro turno para Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Em 2002, o petista venceu a disputa à Presidência com 61,27% dos votos (52.792.865). Seu adversário na ocasião, José Serra (PSDB), obteve 38,73% dos votos (33.370.441).

1º mandato

Na eleição de 2002, quem votou em Luiz Inácio Lula da Silva (PT) insatisfeito com a política neoliberal do PSDB, que governara o país por oito anos, ou esperava uma guinada na condução da política econômica, se frustrou. A manutenção da política de juros altos, um aperto maior ainda para manter o superávit primário e a continuidade de acordos com o FMI (Fundo Monetário Internacional) permaneceram.

O resultado positivo foi o controle da inflação, a estabilidade do câmbio e o aumento das exportações, mas com pequeno crescimento econômico. Elogiada ao redor do mundo, a economia se transformou em uma das vitrines do governo petista.

A gestão de Lula, porém, não trouxe apenas boas notícias na área econômica. Foi marcada também por polêmicas e escândalos.

A maior crise enfrentada pelo presidente e seus aliados começou em junho de 2005. Vieram em seqüência, às vezes acumulando-se, a eleição de Severino Cavalcanti (PP) para a presidência da Casa, em fevereiro, a desintegração da base aliada em março, a (fracassada) operação abafa da CPI dos Correios em maio, o escândalo do "mensalão" em junho, a queda de Severino em setembro e os processos de cassação a partir de outubro.

Tudo começou com a entrevista à Folha pelo então deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), afirmando que deputados do PP e do PL recebiam do tesoureiro do PT, Delúbio Soares, um "mensalão" de R$ 30 mil. Em troca, os parlamentares votavam projetos de interesse do Executivo.

Jefferson resolveu "contar o que sabia", como explicou, depois de ser apontado como um "avalista" de um esquema de corrupção nos Correios --uma gravação de um funcionário da entidade negociando propina e que citava Jefferson já havia desencadeado a CPI dos Correios, que investigaria as denúncias de corrupção nas estatais. No entanto, nas semanas seguintes da denúncia à Folha, outros testemunhos começaram a trazer à tona elementos que sustentaram em parte o depoimento do então deputado.

Os integrantes da CPI dos Correios tentaram mudar o foco da investigação para o mensalão, mas acabou-se por criar outra CPI. Apesar disso, os possíveis fornecedores do pagamento mensal a parlamentares da base aliada pelo governo se tornou o foco dos trabalhos do primeiro grupo, o que chegou até a ocasionar depoimentos duplicados nas comissões.

Segundo Jefferson, o dinheiro do "mensalão" vinha de estatais e empresas privadas e chegava a Brasília "em malas" para ser distribuído em ação comandada pelo tesoureiro do PT, com a ajuda de "operadores" como o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza. Para apurar as denúncias, os parlamentares criaram a CPI do Mensalão.

Uma das peças-chave das denúncias foi Fernanda Karina Somaggio, ex-secretária do publicitário, que confirmou em entrevista à revista "IstoÉ Dinheiro" o envolvimento do ex-chefe no suposto esquema de mesada.

O principal "interlocutor" de Marcos Valério no esquema das mesadas, segundo apurou a CPI e apontou Karina Somaggio, era Delúbio Soares, então tesoureiro do PT. Ele negou as acusações, mas saiu da cena política e se afastou da cúpula do PT depois que surgiram provas de que uma agência do Banco Rural de Belo Horizonte, que tem relações com Marcos Valério, havia e emprestado ao PT, em 2003, cerca de R$ 3,6 milhões. Os documentos do empréstimo eram assinados por Delúbio.

Assim, aos poucos, dezenas de pessoas foram convocadas para depor, entre elas o então ministro José Dirceu e o presidente do PT à época, José Genoino. Acusado por Jefferson de ser o "mentor" do mensalão, Dirceu, mesmo negando as acusações, renunciou ao cargo de Ministro da Casa Civil no dia 16 de junho.

No final das investigações, o relatório da CPI dos Correios, aprovado pelos parlamentares, mas condenado por alguns dos 40 denunciados, contestou a versão dos petistas e seus aliados: de que a distribuição de recursos a parlamentares seria um "caixa dois" para bancar despesas de campanhas eleitorais.

Durante todo o processo, trabalhou paralelamente às CPIs o Conselho de Ética, que analisou se parlamentares envolvidos no caso do mensalão teriam quebrado o decoro parlamentar. Poucos foram cassados e a maioria foi absolvida, sendo que alguns renunciaram. Entre os que perderam o mandato está, além de Roberto Jefferson, José Dirceu.

Após a crise do mensalão, se instalou no governo a polêmica acerca da quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa --a conta estava na Caixa Econômica Federal. A quebra ocorreu depois que Francenildo acusou o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci de freqüentar uma casa em Brasília usada para encontro de lobistas e festas com garotas de programa. Palocci negou ter estado na casa para fins ilegais, mas acabou renunciando ao cargo após ser acusado de ordenar a quebra do sigilo. Também caiu o então presidente da Caixa, Jorge Mattoso.

No decorrer das CPIs, denúncias contra ministros e integrantes do PT, o presidente Lula foi poupado. Em sua defesa, declarou que se sentia "traído por práticas inaceitáveis" e que nunca teve conhecimento das mesmas. Apesar disso, Lula chegou a ser citado várias vezes. Foram apontadas como ilícitas as ligações entre Lula e o presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, por exemplo --ele teria pago contas de Lula e de sua família--, além das relações da Telemar com Fábio Luiz Lula da Silva, o Lulinha, filho do presidente.

Dossiê

O último escândalo envolvendo o PT e o governo Lula veio durante a campanha eleitoral de 2006. Em setembro, a Polícia Federal apreendeu vídeo, DVD e fotos que mostravam o então candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra (PSDB), que foi eleito, na entrega de ambulâncias da máfia.

O material seria entregue pelo empresário Luiz Antonio Vedoin, acusado de chefiar a máfia dos sanguessugas, a Gedimar Pereira Passos, advogado e ex-policial federal, e Valdebran Padilha da Silva, filiado ao PT do Mato Grosso.

Gedimar e Valdebran foram presos, em São Paulo, com R$ 1,7 milhão. Eles estavam no hotel Ibis, e aguardavam por um emissário de Vedoin, que levaria o dossiê contra o tucano.

Em depoimento à PF, Gedimar disse que foi "contratado pela Executiva Nacional do PT" para negociar com a família Vedoin a compra do dossiê, e que do pacote fazia parte uma entrevista --supostamente à "IstoÉ"-- acusando Serra de envolvimento na máfia dos sanguessugas.

Ele disse ainda que seu contato no PT era alguém de nome "Froud ou Freud". Após a denúncia, o assessor especial da Presidência da República, Freud Godoy, pediu afastamento do cargo. Ele nega as acusações.

Após o episódio, outros nomes ligados ao PT começaram a ser relacionados ao dossiê. A crise derrubou o coordenador da campanha à reeleição de Lula, Ricardo Berzoini, presidente do PT. Ele foi substituído por Marco Aurélio Garcia.

O ex-secretário de Berzoini no Ministério do Trabalho, Oswaldo Bargas, que integrava a campanha do presidente, e Jorge Lorenzetti, analista de mídia e risco do PT e churrasqueiro de Lula, procuraram a revista "Época" para oferecer o dossiê. Também caíram.

O ex-diretor do Banco do Brasil Expedito Veloso também foi afastado da instituição, após denúncia sobre seu suposto envolvimento com o dossiê. Valdebran disse que recebeu parte do dinheiro de uma pessoa chamada "Expedito". Ele teria participado da operação de montagem e divulgação do documento.

Em São Paulo, o então candidato ao governo Aloizio Mercadante (PT) afastou o coordenador de comunicação da campanha Hamilton Lacerda, que teria articulado a publicação da reportagem da "IstoÉ" contra Serra.

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