Folha Online 
Revista da Folha

Em cima da hora

Brasil

Mundo

Dinheiro

Cotidiano

Esporte

Ilustrada

Informática

Ciência

Educação

Galeria

Manchetes

Especiais

Erramos

BUSCA


CANAIS

Ambiente

Bate-papo

Blogs

Equilíbrio

Folhainvest em Ação

FolhaNews

Fovest

Horóscopo

Novelas

Pensata

Turismo

SERVIÇOS

Arquivos Folha

Assine Folha

Classificados

Fale com a gente

FolhaShop

Loterias

Sobre o site

Tempo

JORNAIS E REVISTAS

Folha de S.Paulo

Revista da Folha

Guia da Folha

Agora SP

Alô Negócios

Revista Lugar
09/06/2006

La dolce vita - Itália by bike

Passeio de bicicleta por uma das regiões mais belas da Itália mistura luxo e alta gastronomia com direito a ventinho no rosto

POR ROBERTO DE OLIVEIRA

Ilustração Rafaela Ranzani/Renata Buono

Não precisa abrir o vidro para cabecear a bola que o garoto, com a camiseta do craque Ronaldinho, num passe inesperado, desviou em sua direção. Da janela de um casarão medieval, um simpático casal de velhinhos vê graça na cena. A gargalhada logo se perde na batida do salto alto da bonitona que cruza o caminho, indiferente, como se estivesse numa passarela de Milão.

Estamos longe do purgatório industrial de fumaça e caos. O cenário da região de Emília-Romanha, no coração italiano, é bem diferente. Céu azul, sol, pássaros, videiras, cidades históricas, vilarejos medievais, diversidade arquitetônica e gente amistosa pra dedéu. Na sinuosa estradinha que corta colinas e planícies do vale do rio Pó, o mais extenso da "bota", a brisa injeta fôlego para acionar mais uma vez o pedal da bicicleta.

Pedalar é o verbo desta viagem, conjugado sempre em parceria. A impressão é que os cinco sentidos estão mais aguçados quando não existem tantas barreiras dispostas pela frente.

Qualquer paisagem, som, movimento ou cheiro é um bom motivo para uma parada. Sem correria. Afinal, não existe a preocupação de sair à caça de um lugar para estacionar o carro nem ser atropelado pela ansiedade de outros viajantes emburrados à sua espera, dentro de um ônibus lotado.

Essa talvez seja a grande vantagem de sair por aí, deslizando sobre duas rodas. A bordo de uma bicicleta, a viagem segue sua própria toada. Andar de bike pelas cidades planas da Emília-Romanha, que se estende entre as regiões da Toscana, ao sul, e do Vêneto e da Lombardia, ao norte, é mais comum do que movimentar-se a pé, mesmo de terno e salto alto, o que certamente não será o seu caso.

O ponto de partida é a capital da região, Bolonha. Faça um pré-aquecimento, caminhe pelo centro histórico, com seus palácios medievais, praças e monumentos, como a famosa fonte de Netuno, de 1566, imponente, na Via Dell'Indipendenza, perto da Piazza Maggiore –dica perfeita para uma parada prolongada. Em frente à praça, está a igreja de San Petronio, que abriga em sua capela o Martírio de São Sebastião, do século 15.

Bolonha é uma tentação. Para todos os sentidos. Dona da universidade mais antiga da Europa, fundada oficialmente no século 10, atrai jovens de todas as partes. Há um clima constante de festa borbulhando no ar. De dia, à tarde ou à noite, baladas pipocam em todos os cantos.

Cafés, bares, clubes, restaurantes e lojas se espalham por cerca de 40 km de calçadas cobertas e convivem em harmonia com monumentos históricos e sagrados, como a imponente Torri degli Asinelli e Garisenda, de quase 100 m de altura, que foi construída por uma importante família de Bolonha no século 12.

Entre pedaladas e pausas para degustar frutas, castanhas, chocolates e um prosseco gelado,desvenda-se a belíssima paisagem da Itália
Outra particularidade tentadora: a cidade oferece aquela que é considerada a melhor mortadela do mundo. Ótima para ser saboreada com vinho ou cerveja.

Para não acumular pneuzinhos, o jeito é pedalar, pedalar e pedalar. São percorridos em média 60 km por dia de bicicleta, durante seis dias de viagem. Mas não tenha pressa. O gostoso dessa experiência é que cada um pedala no seu ritmo. Não é necessário seguir o grupo, que reúne, no máximo, 24 ciclistas.

Com o roteiro na mão, ou melhor, fixo na cesta de bagagem à sua frente, o importante é curtir cada detalhe da paisagem. Com o tempo, pedalar e contemplar se convertem na mesma ação.

Arte bizantina Segunda paragem, Ravena merece ao menos meio dia para ser apreciada. A cidade ganhou poder no século 1º a.C., famosa por seus mosaicos.

Depois de apreciar o que há de mais representativo dos anos de governo romano e bizantino em San Vitale e no Mausoleo di Galla Placidia, cai bem se entregar a uma dose de "limoncello" ou a uma xícara de café para dar uma turbinada no ânimo.

Ao lado de um charmoso bar numa rua antiga de Ravena, perto dos famosos prédios históricos, serve-se um expresso excepcional. Ao lado, lá estão os guias montando as bicicletas que serão retomadas pelos turistas após a pausa. O espanhol Rafael Prieto Martin, 31, que já morou em diferentes partes do mundo –vive no Rio há seis anos–, é um deles. Rafa fala fluentemente inglês, alemão, francês, italiano, português e um pouco de japonês. Trabalha como "bike-guia" desde 1999.

Embalado no ritmo dos ciclistas, ele "viaja": "A Itália é um país que, aos olhos dos brasileiros, sempre tem algo familiar. Em cima de uma bicicleta, ela parece ainda mais cordial, sem deixar de nos surpreender a cada momento. A gente esquece que é estrangeiro".

Nas estradinhas que circundam Imola, cidade famosa por ser uma das etapas do Mundial de F-1 e onde morreu acidentalmente o piloto brasileiro Ayrton Senna, em 1994, a tese de Rafa se confirma em cada curva.

Naquela manhã, o tour tinha começado num luxuoso hotel no alto de uma colina cercada de videiras. Corta-se plantações, passa-se por pequenos vilarejos até se chegar às arborizadas ruas de Imola e ao seu centro histórico, onde o grupo estaciona suas bikes para almoçar num restaurante na linha "slow food".

Imola, etrusca, depois romana, tem uma série de edifícios históricos concentrados numa área relativamente próxima. Há referências arquitetônicas renascentistas, barrocas, toscanas, românicas. É um lugar para deixar a bike descansando, enquanto se perambula lentamente por seus monumentos eternos.

Vai aí mais uma dica que pode fazer diferença: saboreie cada passo. No começo da noite, você retornará a Imola para jantar num excelente restaurante, estrelado, que possui uma adega com vinhos raríssimos e um cardápio diversificado para viajante nenhum botar defeito.

Ainda bem que, na manhã seguinte, a viagem até Ferrara exigirá uma dose extra de energia. Aos preguiçosos, um consolo: ela reserva uma das paisagens mais bonitas de toda a região.

Você se sentirá em casa. Ferrara tem muitos ciclistas. Nas ruas estreitas do centro histórico, nas avenidas e nas ciclovias que circundam suas muralhas. Não à-toa, Ferrara, cidade que ainda mantém um clima provinciano e tranqüilo, é chamada de "cidade das bicicletas".

É também uma das mais belas cidades renascentistas da Europa. Em Ferrara, a dinastia d'Este, que comandou uma importante corte do continente, imprimiu uma marca permanente. Graças ao seu passado, ela é também uma das cidades mais fortificadas da Itália.

O Castello Estense, de 1385, foi sede da dinastia, que dominou a cidade no fim do século 13 até o final do século 16. Sua construção, no centro histórico da cidade, passa a impressão de que o edifício continua a vigiar a vida mansa de seus moradores.

O Duomo de Ferrara, obra que mistura estilos românico e gótico, é do século 12. Estacione sua bike na calçada –por precaução, coloque o cadeado. Você vai literalmente se perder na fachada, na qual seus relevos mostram cenas do Juízo Final.

André Klotz
Bolonha é o ponto de partida do passeio ciclístico. O centro é repleto de palácios medievais, prédios e monumentos históricos

Baile de máscaras O destino está próximo do seu fim e nada mais fascinante do que conclui-lo em Veneza. Para chegar até lá, os viajantes costuram parte do Delta do Pó (os cinco canais do rio que formam um labirinto antes de desembocar no mar Adriático).

As bikes seguem numa van, e os bikers, num ônibus. Para alcançar o extremo nordeste do país, a viagem ainda vai se dividir entre pedaladas e travessias de barco, passando por canais e "braços" do delta. A primeira parada no "circuito das águas" é em Chioggia, uma deliciosa cidadezinha de origem romana que representa uma versão rústica da "irmã" Veneza.

Em seu porto, chamam a atenção os "bragozzi"–barcos de pesca com velas. Pedalando, água de um lado, monumentos de outro, como as igrejas de São Domingos e San Giacomo.

Os ciclistas se despedem de suas bicicletas no Lido de Venezia, uma "língua" de terra que separa uma laguna do mar aberto. De lá, partem para Veneza num ligeiro "táxi-barco".

André Klotz
Música faz parte do clima de Bolonha, Ferrara e de toda a região de Emília-Romanha, no coração italiano
Música faz parte do clima de Bolonha, Ferrara e de toda a região de Emília-Romanha, no coração italiano
Cruzam a desembocadura do Canal Grande, passam pela Santa Maria della Salute, a imponente igreja barroca sustentada por mais de 1 milhão de estacas de madeira, e por debaixo de uma pequena ponte, com uma multidão circulando dos dois lados.

À esquerda, fica o Harry's Bar –o escritor norte-americano Ernest Hemingway (1899-1961) é seu famoso patrono. O motor é desligado, e o barco perde força lentamente para ancorar no final do canal. O lugar é estratégico, a meia quadra da Piazza San Marco. A entrada do hotel fica a menos de dez passos da água.

Quando você chegar ao seu quarto, encontrará em cima da cama uma máscara típica veneziana. Não se acanhe, saberá exatamente a hora de usá-la. À noite, com roupas de gala de época, os guias, devidamente mascarados, recepcionam os turistas no lobby do hotel.

Lá fora, os famosos gondoleiros estão estacionados, à sua espera. Eles recortam o Canal Grande, com as luzes da cidade ao redor, e quase em frente ao Colezzione Peggy Guggenheim será a hora de estourar o prosseco e brindar a despedida.

André Klotz
Cabe aqui um registro, o Palazzo Venier dei Leoni, do século 18, foi comprado pela milionária norte-americana Peggy Guggenheim (1898-1979) e abriga uma das coleções de arte moderna mais impressionantes da Europa, com um acervo de 200 pinturas e esculturas.

As gôndolas seguem as luzes de vela de uma ampla sacada de um palacete do século 17, do outro lado do canal. Duas violinistas estão às margens, dando boas-vindas. Todos os cômodos do casarão são mantidos com objetos da época, com afrescos no teto, piso em mármore e repletos de obras de arte.

A dona do edifício, uma charmosa senhora veneziana, aparece para cumprimentar os hóspedes privilegiados daquela noite. No salão oval será servido o jantar sob um lustre de cristal original, que ilumina os cerca de 20 lugares da mesa redonda. Ninguém consegue fixar o olhar numa só direção. Há muito o que estimar nesse museu particular de acesso restrito. Dá uma vontade louca de abrir os braços como se fosse uma criança em festa quando pedala.

Roberto de Oliveira viajou à Itália a convite da Butterfield & Robinson e do STB (Student Travel Bureau).

Requinte e tecnologia

Duas rodas
Nos modelos masculino, feminino e infantil, as bicicletas profissionais da canadense Rocky Mountain e da italiana Pinarello são reguladas (assento, pneu, guidão), antes dos passeios, de acordo com a altura e o porte físico de cada integrante

As bicicletas contam com 24 combinações diferentes de marcha, o que possibilita os participantes pedalarem num ritmo descontraído em qualquer tipo de terreno

Todas as bicicletas contam com uma cestinha de bagagem à frente do guidão, para guardar coisas pequenas, como máquina fotográfica, agasalho e cadeado. Recomenda-se trancar a bike nas paradas

Se ocorrer algum problema técnico com a bicicleta (furar pneu, marcha falhar), os técnicos da van de apoio a trocam por outra
Itinerário
Diariamente, durante o café da manhã no hotel, os bikers recebem um "script" com o roteiro detalhado do dia, em inglês, além de um cartão com o telefone dos guias

No roteiro está mencionado quantos quilômetros serão pedalados, os locais de parada, onde há telefone público, caso alguém se perca, além de placas e momentos históricos que servirão de referência ao viajante

O grupo costuma sair para pedalar sempre pela manhã; quem quiser pode fazer o passeio sozinho, basta seguir o roteiro; os ciclistas são acompanhados sempre por dois guias, um de carro e outro de bike

Em média, a cada 3 km, dependendo do trajeto, a van de apoio monta um "acampamento" de parada, onde há frutas, chocolates, castanhas, salgados, bebidas, inclusive vinho e prosseco –ideal para reabastecer as garrafinhas de água

Caso o ciclista não queira cumprir todo o trajeto do dia, um van de apoio vai "resgatá-lo", juntamente com sua bicicleta, e levá-lo até o hotel ou a outro local de conveniência

Quem leva

Butterfield & Robinson
Tel. (0/xx/21) 2259-8292 www.butterfield.com.br
A partir de US$ 5.195. Sem o aéreo. Inclui cinco noites em hotéis cinco estrelas com café da manhã, traslados, guias especializados bilíngues, bicicleta com capacete, lanches, refeições com bebidas, inclusive alcoólica, transporte de bagagem e van de suporte e apoio.
Queensberry
Tel.(0/xx/11) 3217-7100 www.queensberry.com.br
A partir de US$ 5.195. Sem aéreo. Inclui bicicleta, traslados, cinco noites em apartamento duplo com café da manhã, quatro almoços e quatro jantares, incluindo bebidas, e acompanhamento de guias.
Ski Brasil
Tel. (0/xx/11) 2196-9399 www.skibrasil.com.br
A partir de US$ 7.540. Inclui aéreo (classe executiva), traslados, cinco noites em hotéis cinco estrelas, com café da manhã, refeições com bebidas, bicicletas, van de apoio para bagagem, guias e gorjeta.

     

Assine a Folha

Classificados Folha

CURSOS ON-LINE

Aprenda Inglês

Aprenda Alemão


Copyright Folha de S. Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).