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09/06/2006

Impressões - Os horizontes de Cunha

Cachoeiras, cerâmicas, caminhadas, festas, história: não são poucas as atrações dessa cidade encravada nas montanhas da Serra da Bocaina, pertinho de Paraty e a apenas duas horas de São Paulo

POR TARSO DE MELO

Roberto Catanni
Amanhecer visto da Pedra da Macela, o ponto mais panorâmico de Cunha, a 1.800 metros
Amanhecer visto da Pedra da Macela, o ponto mais panorâmico de Cunha, a 1.800 metros
Você escolhe: na Dutra, sair de Guaratinguetá em direção a Paraty ou, se estiver em Paraty, subir a estrada de terra que leva a Cunha. Em qualquer caso, você vai andar uns 40 e poucos quilômetros para chegar a Cunha. E vale a pena. Nem se compara com a realidade bruta da Dutra. Ou com a cenografia de Paraty.

Como quase todo lugar que não avançou outro ramo para exploração, Cunha é chamada de "estância climática". Você pode ir a Cunha por causa disso. De fato, a cidade fica a 1.000 m de altitude, com picos que chegam quase ao dobro dessa altura, e as cerca de 25 mil pessoas que moram lá estão protegidas por um raio de, no mínimo, 40 km de vegetação bastante conservada. Mas não precisa ter pressa, porque parece que ali a coisa vai durar: esse verde todo faz parte de dois parques de preservação da mata atlântica, um estadual e um federal.

A propaganda feita pela expansiva funcionária do portal parece contradizer todas as outras notícias que já tivemos de Cunha: enquanto estas vendem tranqüilidade, paz, coisas do tipo, a dela quer nos mostrar, desde a avalanche com que fala, que tudo ali nos envolve em aventura, longas caminhadas, passeios de fôlego.

Uma ilha de cerâmica, cogumelos, trutas e fuscas cercada de verde, cachoeiras e trilhas quilométricas –essa seria uma definição aceitável de Cunha. Mas não pegaria os detalhes. E os detalhes é que fazem com que o morador, o turista ou o visitante se apaixone ou odeie uma cidade, Cunha ou qualquer outra, em qualquer lugar, de qualquer tamanho.

Seria maldade dizer que a vista mais linda que a cidade de Cunha possibilita é para fora dela, para fora do estado de São Paulo, para fora e até das terras brasileiras. De cima da Pedra da Macela, depois da caminhada (leve, talvez, para os ecoturistas, mas violenta para quem se apresenta ao íngreme trajeto de uma hora calçando chinelos, sem levar água, sem preparo nenhum), é possível ver a baía que vai de Angra dos Reis a Paraty. A vista é incrível, mas não é a única graça de Cunha.

A sensação de ver parte do litoral carioca desde São Paulo, sob os nossos pés, é, de fato, forte. E é também muito interessante ver, de cima, o mar. Ainda que, para quem chegou àquela altura com sede e cansaço, a vista repleta daquelas águas –mesmo que não potáveis– seja um tanto torturante. Os pés doem, as costas parecem surradas, a cabeça gruda no fato de que há ainda por enfrentar o mesmo trajeto e não alivia muito saber que a volta é descida. Mas o horizonte impressiona.

Roberto Catanni
O forno noborigama; o ceramista Mario Konishi; e a Igreja Matriz, no centro de Cunha

Para alegria dos menos aventureiros, é bem verdade que se pode ver de todos os recantos de Cunha o mesmo que se vê de cima da Pedra da Macela. Estabelecimentos, cartões postais, folders de pousadas e restaurantes, tudo estampa –com uma clareza que eu, de cima, não pude ver– o panorama que se abre desde a pedra. Talvez seja uma boa alternativa à caminhada: ninguém precisa saber que você não foi lá pessoalmente e vai sobrar tempo para se devotar a outras delícias de Cunha.

Roberto Catanni
A cachoeira do Desterro, a mais bonita do Vale das Cachoeiras
A cachoeira do Desterro, a mais bonita do Vale das Cachoeiras
Há um grande catálogo de prazeres aos quais se dedicar em Cunha. Alguns são bastante alardeados, como a visita aos diversos ateliês de cerâmica. Isso porque Cunha concentra os discípulos de uma tradição oriental de ceramistas, que vitrificam suas peças em fornos do tipo noborigama, cujas câmaras se comunicam e formam uma escada, atingindo, se bem me lembro, até 1.350 graus. A abertura dos fornos tem direito a vernissage, coquetel, uma festa. Mas há outras Cunhas.

Existe a Cunha das igrejas do século 18, que devem ter surgido ali por conta de a cidade estar à beira do Caminho do Ouro, da Estrada Real, que liga Minas Gerais a Paraty, a Cunha da comida excelente do Recanto Uruguayo, a da doceria da Cidinha, a dos bancos de praça patrocinados pela funerária, a dos que se divertem contando fuscas (não tenho a estatística, mas já me disseram –e acredito– que é a maior concentração de fusca per capita do país!), a das ruas estreitas, a dos restaurantes fechados no feriado, a do mercado municipal, a dos caipiras vestidos como caubóis texanos no fim da tarde. E, claro, há a Cunha da pousada em que você estiver.

Nesse ponto, se der sorte, pode estar outro prazer. Há pousadas para todos os gostos e bolsos em Cunha. Algumas são paradisíacas, cravadas nos pontos mais altos da cidade, com vista para os vales encantadores e cercadas de um silêncio que, como diria o Leminski, dá para cortar com faca. E outras não chegam a ser infernais, se soubermos aprender a ocupá-las. A do prefeito, por exemplo, que pode ser indicada também como sendo a do dono do posto de gasolina ou a do grande fazendeiro local ou a do dono do mercadinho ou a do engenheiro da cidade –dá no mesmo.

Já faz algum tempo que me dedico a fazer propaganda de Cunha. E a prefeitura nem sabe disso –e é melhor assim. Já fiz muita gente se deslocar até lá. Eles dizem que gostam, mas talvez seja apenas para não me decepcionar. Alguns até voltam. Eu mesmo nunca tive a sorte de estar lá nas principais datas do calendário turístico de Cunha: a abertura dos fornos noborigama, a Festa do Divino ou a do Pinhão. Mas um dia estarei. É provável que ainda assim não obedeça ao "circuito" e continue achando que o melhor de Cunha (contar fuscas, por exemplo), assim como o melhor de todos os lugares que conheci e imagino, está justamente fora das trilhas.

Tarso de Melo é poeta e escritor, autor dos livros "Planos de Fuga" (Editora CosacNaify), "Carbono" (Alpharrabio/Nankin) e "A Lapso" (Alpharrabio).

Hotéis

Fazenda Hotel Alvorada
Acesso pelo km 22 da SP-171 Tel. (00/XX/12) 3127-1158 www.fazendaalvorada.com.br
A fazenda de 140 alqueires fica no alto de uma bela montanha entre as cidades de Cunha e Guaratinguetá. Diárias para casal a partir de R$ 160.
Pousada Recanto das Girafas
Rua Professor Agenor de Araújo, 251, Vila Rica - Tel. (00/XX/12) 3111-1965 www.recantodasgirafas.com.br
Para quem prefere ficar na cidade, mas sem perder o gostinho do campo. As janelas dos chalés têm vista para as montanhas. Diárias para casal a partir de R$ 130.

Restaurantes

Quebra-Cangalha
Rua Manuel Prudente de Toledo, 540, Cajuru - Tel. (00/XX/12) 3111-2391 www.quebracangalha.com.br
Entre abril e agosto, época de pinhão, vá de truta com crosta de pinhão e molho de açafrão. Escolha as mesas próximas à varanda.
Recanto Uruguayo
Rua Cel. João Olimpio, 92, Centro Tel. (00/XX/12) 3111-1304 www.pousadarecantouruguayo.com.br
No restaurante da pousada de mesmo nome, além de comida típica uruguaia, deliciosos pães de pinhão e de batata.

Não deixe de ir

Ateliê Suenaga e Jardineiro
Rua Dr. Paulo Jarbas da Silva, 150 Tel. (00/XX/12) 3111-1530
A próxima abertura dos fornos do ateliê está prevista para o dia 8 de julho. O evento é acompanhado por uma explicação sobre o forno noborigama.
Festa do Divino
Em julho, a cidade fica repleta de apresentações folclóricas. Confira o acervo da Igreja do Rosário. É em julho também que acontece o festival de inverno Acordes da Serra.
Cachoeiras
Entre as muitas quedas d'água pelas trilhas dos arredores da cidade, destaque para a do Desterro e a do Pimenta, na estrada do Monjolo.
Parque Estadual da Serra do Mar
Trilhas, cachoeiras e área para piquenique. Alguns caminhos requerem a presença de monitores. Acesso pelo km 53 da SP-171.

     

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