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09/06/2006

Cultura pop - Na recepção do Chelsea

O hotel que acolheu estrelas como Bob Dylan, Sid Vicious e Jimmy Hendrix, e foi palco de histórias memoráveis, continua sendo um dos endereços mais undergrounds de Nova York

POR HENRIQUE PORTUGAL

Claudio Edinger
O hotel inspirou músicas, filmes e livros e ainda hoje atrai hóspedes interessados no seu currículo pop e bizarre
O hotel inspirou músicas, filmes e livros e ainda hoje atrai hóspedes interessados no seu currículo pop e bizarre
De tempos em tempos, nós fazemos umas viagens para saber o que está acontecendo fora do Brasil no cenário da música pop/rock. Às vezes, viajamos para assistir alguns shows de grandes bandas ou simplesmente para sentir qual a direção que os ventos da música estão tomando.

Em outubro último, passamos uma semana muito produtiva em Nova York, onde vimos os shows do U2, Paul McCartney, Beck e Athlete, em noites seguidas. Praticamente uma maratona musical! Mas a minha aventura pela Big Apple começou antes mesmo de sair do Brasil, naquela fase "vou viajar e preciso reservar um hotel". Como de costume, deixei a tarefa para última hora.

Samuel, Haroldo e Lelo já haviam feito a reserva num hotel muito interessante chamado The Maritime, de uma rede japonesa, moderno, tranqüilo e com todas as facilidades, como wi-fi nos quartos, restaurante japonês no subsolo e restaurante italiano no segundo andar (ótimo para uma happy hour). Mas quando fui fazer a minha reserva, já estava lotado. Logo pensei: "Tranqüilo, vou procurar um hotel perto do endereço desse, para facilitar nossos deslocamentos durante a semana". Tentei com algumas operadoras de turismo e cheguei à conclusão de que devia estar acontecendo algo muito importante em NY, pois não havia vagas nos principais hotéis. Não demorou muito e acabei descobrindo que era uma assembléia da ONU, além de eventos e convenções.

Preocupado, liguei para um amigo que mora lá para pedir alguma dica de hotel que não fosse um dos nomes tradicionais, pois a data de embarque estava chegando. Expliquei a situação, e ele me retornou dizendo que havia conseguido reserva no Chelsea. Na hora, não me liguei para a história do hotel, estava mais preocupado em conseguir um lugar para dormir.

Bob Dylan escreveu uma canção,"Sara", que fala sobre o hotel; Joni Mitchell também, com "Chelsea Morning". Já Leonard Cohen fez uma música em homenagem a Janis Joplin. E até Iggy Pop sucumbiu ao encanto marginal do Chelsea
Depois de uns dois dias, a ficha caiu e comecei a me lembrar de algumas histórias do lugar onde já moraram ou ficaram hospedados nomes como Janis Joplin, Bob Dylan, Robert Mapplethorpe e Jimi Hendrix. "Então, é esse o hotel!" Comecei a viajar mentalmente sobre coisas idiotas como: "Será que eu vou ficar em algum quarto onde já morou alguém famoso? Será que o hotel, aproveitando o seu passado glorioso, ofereceria opções temáticas –algo como ficar hospedado na suíte que acolheu o fotógrafo Henry Cartier Bresson e, no canto do quarto, encontrar um ampliador de foto preto-e-branco transformado em abajur? Será que existem essas possibilidades?"

Lembrei-me também que o Sid Vicious, baixista do Sex Pistols, morou no Chelsea com sua namorada. O final da relação deles não foi dos melhores, pois depois de deixá-la presa no quarto, acabou matando-a no próprio hotel e suicidou-se alguns dias depois. Diante de histórias tão significativas, resolvi verificar a situação atual do Chelsea. Se você entrar no site (www.hotelchelsea.com), verá que as personalidades que passaram por lá já morreram ou se hospedaram há muito tempo na casa.

Claudio Edinger


Flagrantes de Claudio Edinger de moradores do Chelsea; o hotel também serviu de locação de filmes: "The Chelsea Girls", de Andy Warhol, foi rodado lá
Ao chegar em Nova York, alugamos uma van no aeroporto JFK, pois estávamos em um grupo de nove pessoas, e seguimos para Manhattan. Como o Chelsea ficava no caminho, pedi para o motorista me deixar primeiro. Quando a van parou na porta, a galera logo comentou: "Vai ficar hospedado no hotel mais rock’and’roll de Nova York"! Confesso que na hora não entendi se esse comentário era porque eu iria me hospedar num hotel famoso pelas histórias ou se estava entrando numa "roubada". Em pouco tempo, a ficha caiu. Ao olhar para o prédio, já achei meio derrubado, mas ainda cheio de esperanças pensei: "Isso às vezes é normal em Nova York. Eles preservam a fachada exterior e reformam tudo por dentro."

Ao entrar, tive a impressão de estar num local que parou no tempo. Móveis antigos, sem vida, paredes desbotadas, o carpete surrado devido a anos de uso e a recepção praticamente vazia. Me senti num filme do Tarantino. Um recepcionista de origem latina, com muito gel no cabelo, me atendeu no balcão. Perguntei a ele sobre a minha reserva, que foi logo encontrada com um pedido de um cartão de crédito para fazer um cheque-calção de US$ 1.000 para os dias em que ficaria hospedado. Não questionei, tinha feito a reserva para seis noites.

Cover do Sammy Davis Jr. Enquanto estava conversando com ele, comecei a sentir algo mexendo na minha calça. Quando olhei, era um cão da raça pitbull me cheirando. O dono do cachorro devia ser um hóspede. "Isso deve ser normal por aqui", ponderei. Depois de passar o cartão de crédito, o recepcionista me avisou que o meu quarto só ficaria pronto depois de três horas. "Claro!", matutei. "O que mais poderia dar errado?" Conformado, decidi deixar a mala e conhecer o hotel onde o resto da banda estava hospedada. Apareceu um cover do Sammy Davis Jr, um pouco empoeirado, para carregar minha bagagem. Provavelmente, ele teria boas histórias para contar sobre o hotel, mas, definitivamente, não esperei para saber.

Tenho que confessar que comecei a me sentir mal naquele ambiente. Pode ser aquela coisa de "mineiro desconfiado", mas fiquei pensando se teria coragem de deixar meu notebook no hotel, que nessa altura do campeonato já estava rock'n'roll além da conta! Então, coloquei a mochila com o micro nas costas e fui conhecer o tão recomendado hotel japonês.

Na recepção, encontrei o meu amigo Marcelo Milk, que havia feito a reserva no Chelsea e estava lá porque tinha marcado um almoço com o Haroldo. Acho que ele percebeu o meu desespero, porque disparou, de cara: "Consegui uma reserva neste hotel para você, quer mudar?" Na hora, esqueci Sid Vicious, Cartier Bresson, Bob Dylan e só pensei no meu conforto. Aceitei e pronto! Mas tudo o que é bom dura pouco! Lembrei que tinha que voltar ao Chelsea para pegar a mala e cancelar o depósito.

Resumindo: voltei ao Chelsea, desisti de me hospedar no hotel, não consegui convencer o recepcionista a me devolver o depósito e tive que pagar uma diária de US$ 300 sem ao menos conhecer o quarto. Mas, mesmo assim, voltei feliz para o tranqüilo e confortável ambiente da minha nova morada por uma semana em Nova York, tendo a certeza de que certas experiências devem ficar restritas a boas histórias de livros de rock’n’roll.

Depois de contar esse caso para alguns amigos, eles me disseram que o hotel continua tendo uma vida movimentada e apimentada, principalmente durante a noite. É possível verificar algumas fotos dos moradores do hotel –e melhor, sem precisar se hospedar– no livro do fotógrafo brasileiro Claudio Edinger (www.claudioedinger.com).

Henrique Portugal é tecladista do Skank.
The Hotel Chelsea
222 W. 23rd Street Tel. (00/xx/1/212) 243-3700 www.hotelchelsea.com
Até 1902, era um condomínio de apartamentos e a construção mais alta de Nova York. Em 1905, se transformou em hotel e passou a abrigar gerações consecutivas de hóspedes famosos. A atriz francesa Sarah Bernhardt (1844-1923) e o escritor William Burroughs (1914-1996), por exemplo, foram assíduos do local. Alguns viveram anos nas dependências exóticas do Chelsea, como o escritor Arthur C. Clarke, que escreveu "2001, Uma Odisséia no Espaço" durante a sua estada. Cada quarto é único, nenhum é igual ao outro em forma ou tamanho. As acomodações são exóticas. Há conexão de internet wi-fi no lobby e internet rápida disponível em algumas suítes. Diárias a partir de US$ 195.

     

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