Folha de S.Paulo Moda
* número 17 * ano 4 * sexta-feira, 7 de abril de 2006
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moda / outono/inverno 2006

Rebeldia real

Designers brasileiros propõem inverno com streetwear rocker, referências aristocráticas e influências da alta-costura adaptadas ao nosso lifestyle



Os desfiles de outono-inverno avançaram alguns passos na definição dos contornos de um luxo à brasileira, mais despojado e comercialmente possível. Nas passarelas da São Paulo Fashion Week e do Fashion Rio, o ultrachique proposto pelas últimas temporadas européias ganhou certo tempero local (sem cair nos clichês tropicais), ampliou o diálogo com a rua e passou por um choque de realidade, o que, na prática, foi traduzido em coleções com tecidos e propostas de estilo mais adequados às temperaturas do país.

Desse embate entre desejos e possibilidades, despontam duas grandes tendências: a nova aristocracia e o street-chic, ambas inspiradas na sofisticação de formas da alta-costura.

A onda aristocrática, mais sóbria e com alma européia, revê os trajes palacianos de várias épocas, mas de forma mais enxuta. A nova realeza rejeita os excessos ornamentais e procura a diferenciação sobretudo pela nobreza do tecido e pelos exercícios de construção da roupa. Os volumes inusitados e os balonês, por exemplo, voltam com força total.

O street-chic, que pouco a pouco se consolida como grande vocação da moda brasileira, antecipou um pouco do que seria a temporada de inverno da Europa, principalmente no que se refere à sua proximidade com a estética rocker. O punk, o neogótico e o rockabilly –as jaquetas perfecto, ícone da moda de rua dos anos 50, foram reeditadas por várias grifes– deram as caras, mas quem dominou a cena foi o grunge. Esse movimento musical, que lançou bandas como Nirvana e Pearl Jam, tem como características visuais as peças oversized e a sobreposição e lidera uma tendência de resgate dos anos 90 na moda mundial. Apesar do background alternativo, a veia rocker das coleções equilibra a autenticidade e o conteúdo social da moda de rua e os requintes do luxo.

A moda sexy e o trabalho artesanal, duas grandes forças do repertório fashion brasileiro, continuam na ativa, em versões modernizadas. A sensualidade aparece menos submissa, menos expositiva. A mulher contemporânea assume seus desejos com tranqüilidade e está longe da garota-objeto. Acima de tudo, não abre mão de ser feminina e faz do vestido a peça-chave do seu guarda-roupa.

Já o artesanal deixou de ser um estilo à parte, evitando assim os regionalismos ingênuos de temporadas passadas. E funcionou bem como ferramenta, como um jeito brasileiro de conversar com tendências variadas.

E para as milhões de adeptas das cartelas de cores básicas, uma boa notícia: o preto continua com tudo e reina ao lado do branco, do vermelho, do azul e do cinza. Tons de uma nova sobriedade.

por Camila Yahn e Vivian Whiteman
Fotos Folha Imagem, Agência Fotosite, AP Photo, Efe, Reuters e SPFW

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