Folha de S.Paulo Moda
* número 21 * ano 6 * sexta-feira, 23 de março de 2007
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moda /outono-inverno 2007

A "nova costura" de Gustavo Lins

Estilista e arquiteto brasileiro participa da semana de alta-costura de Paris



Instalação que fez parte da exposição-desfile de Gustavo Lins em Paris

Conseguir entrar para o restrito e glamouroso circuito da alta costura francesa não é tarefa fácil. Por isso, o estilista mineiro Gustavo Lins tem razões para comemorar. Radicado em Paris há mais de 15 anos, Lins foi o único brasileiro convidado a participar, com sua própria marca, da temporada de moda alta-costura de Paris.

Suas roupas, apresentadas no dia 23 de janeiro, na Galeria Joyce, no Palais Royal, em Paris, criaram o que ele chamou de "desfile estático". Como se fosse uma exposição, não eram os modelos que se moviam diante dos expectadores, mas sim o público que circulava em volta dos manequins. Toda a concepção plástica da exposição foi obra do estilista.

Gustavo se inspirou no vestuario japonês para a coleção outono-inverno 2008. Seus quimonos femininos reversíveis, feitos em seda, têm destalhes formados por um emaranhado de pespontos. Arquiteto de formação e estilista por vocação, ele concebe suas roupas extamente como a construção de um espaço arquitetônico. Cria linhas e perspectivas para conseguir movimento e praticidade. Essa relação corpo-espaço pode ser vista em várias de suas peças, como os casacos e blasers masculinos, trabalhos com linhas em couro que unem os principais eixos do corpo, e os vestidos e blusas femininas, com abertura na altura dos cotovelos e linhas que marcam as costas.

Para o presidente da Federação Francesa de Costura, Didier Grumbach, Lins é mais do que um criador de moda. "Ele é um verdadeiro artista. Seu estilo, sóbrio e elegante, é estranhamente, muito próximo ao trabaho de criadores espanhóis como Balenciaga", afirma. Para a coleção outuno-inverno 2008, o estilista criou 78 modelos, 24 masculinos e 48 femininos, sendo 8 modelos únicos. Os principais tecidos ultizados são lã, seda, algodão, cetim, feltro e couro.

"Não faço nem alta costura, nem prêt-à-porter", afirma o estilista, que prefere adotar o conceito de "nova costura", "esperando que um termo mais apropriado seja adaptado ao universo da moda". Muitas das peças apresentadas em seu desfile estático seguem porém os princípios de uma coleção alta costura. "São peças únicas, criadas sob medida e trabalhadas diretamente no corpo dos manequins", explica. É o caso de seus quimonos, recorrentes no imaginário de Gustavo.

Autodidata, Gustavo Lins nunca passou por renomadas escolas de estilismo.

Começou a desenhar roupas quando cursava, no Brasil, o terceiro ano de arquitetura. Mais tarde, quando foi fazer um doutorado em arquitetura na Universidade de Barcelona, se inscreveu no ateliê de alfaiataria da Academia Rocosa.

Em 1989, mudou-se para Paris onde trabalhou, durante 12 anos, como modelista independente para marcas prestigiosas, como Kenzo, Jean Paul Gaultier, Louis Vuitton e Galliano. Em 2003, criou sua própria marca e abriu, no bairro do Marais, o ateliê Gustavo Lins. Hoje, suas criações são distribuídas em países como o Japão, Estados Unidos, Itália e Inglaterra. Para 2007, seu principal projeto é entrar no mercado brasileiro, onde, paradoxalmente, ainda não está presente.

por Ana Carolina Dani (de Paris)

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