Folha de S.Paulo Moda
* número 21 * ano 6 * sexta-feira, 23 de março de 2007
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Inverno genérico

Estilistas apostaram no sport-chic, no futurismo pop e em temas sociais em temporada de pouca força criativa

A moda brasileira está passando por uma séria crise de imagem. Foi essa a impressão deixada pelas duas maiores semanas de moda do Brasil, o Fashion Rio e a São Paulo Fashion Week. Com raras exceções, faltou força criativa a boa parte das coleções na temporada outono-inverno 2007.

A estação foi recheada de coleções sem vigor nem invenção, cenário que escancara um dos principais impasses do design nacional. Em nome da “segurança comercial”, muitas grifes estão deixando de aprofundar suas pesquisas de moda e evitando correr riscos no prêt-à-porter.

Essa postura só faz diminuir as chances de criar uma moda com DNA brasileiro, que possa oferecer um produto mais criativo ao consumidor local e atrair a atenção do mercado internacional.

Embora nenhuma imagem feminina forte tenha sido delineada para o inverno, algumas referências e inspirações ajudam a esclarecer quais são as principais tendências para a próxima estação fria.

As grandes apostas dos estilistas se voltaram para três vertentes: o sport-chic, que nesta temporada foi abordado pelo viés ecológico, com elementos futuristas; o retrofuturismo pop, que resgatou o estilo Courrèges e o imaginário espacial da década de 60; e a imagem de uma mulher mais adulta e confiante, traduzida em peças de uma elegância impositiva.

No segmento sport-chic, a Osklen e a Ellus investiram na discussão sobre as conseqüên-cias do aquecimento global e o consumo consciente. O tema ecológico foi traduzido em imagens otimistas (às vezes escapistas) e utilitárias de jovens entusiastas da natureza –com muitos casacos-casulo, vestidos-barraca, tecidos inteligentes e peças em moletons com cortes sofisticados.

O toque futurista ficou por conta da pesquisa de têxteis ecologicamente sustentáveis e pelo shape maximalista, principalmente nas jaquetas e casacos, que parecem projetados para resistir ao tempo e a situações climáticas extremas.

Principalmente entre as grifes do Fashion Rio, apareceram coleções retrofuturistas, quase sempre apoiadas em ícones pop, como no desfile da Sommer. Barbarella, “Guerra nas Estrelas” e os primórdios da corrida espacial foram fonte de inspiração para diversos criadores que, em geral, revisitaram formas minimalistas, cores primárias e experiências e estampas geométricas.

Em menor escala, apareceu outra vertente do pop, mais focada no mix caótico de estampas e nos anos 80, como nas coleções de Marcelo Sommer para a grife Do Estilista e de Fábia Bercsek, respectivamente.

Na moda mais adulta e sofisticada, os designers apostaram em um perfil feminino ativo e seguro. A sensualidade é discreta, e a idéia é a de uma mulher que faz diferença no meio em que vive, que preza a praticidade, mas não abre mão de um certo charme. As peças-chave são as roupas emprestadas do guarda-roupa masculino, os trenchs, as pantalonas e os vestidos pouco acima do joelho.

Alguns criadores investiram em inspirações com fundo social. A Huis Clos injetou espírito combativo à sofisticação de suas mulheres intelectuais do verão passado, Ronaldo Fraga olhou para a China para opor tradição e modernidade, Alexandre Herchcovitch recorreu as bóias-frias altivas e elegantes, vestidas com provocadores sacos de lixo. Temáticas ousadas para um inverno bastante genérico e muito conformista.

por Camila Yahn e Vivian Whiteman
fotos Alexandre Schneider

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