Folha de S.Paulo Moda
* número 22 * ano 6 * sexta-feira, 6 de julho de 2007
Folha Online
 
Texto anterior | Índice | Próximo texto

moda /closet

Quase famosos

Ter um "personal stylist" para cuidar do visual é a nova mania das celebridades

A apresentadora Adriane Galisteu, com "look" Vera Arruda, e Tidy, seu "personal stylist" há dez anos

Há mais de dez anos, Tidy é o "personal stylist" exclusivo de Adriane Galisteu. Para cada programa que a apresentadora faz, ele leva dez vestidos para Adriane escolher. "Às vezes é difícil agradar, mas ela tem que confiar 100% em mim. Sou os olhos dela para as novidades", ele diz.

Adriane confirma. "O Tidy é o meu radar", ela exclama. "Nossa parceria dá certo porque eu gosto e entendo de moda também. Quando ele quer que eu use uma roupa, e eu não quero, brigamos. Se algo não me cai bem, não adianta, não uso mesmo. Só que, na maioria das vezes, ele está com a razão", admite.

Se dentro das academias é possível contratar um "personal trainer" com a promessa de deixar o corpo em forma, no mundo das celebridades, dos famosos e até mesmo dos executivos, o "personal stylist" é uma espécie de assistente pessoal de vestuário. É contratado para trazer as novidades do mundo da moda até seus clientes. É ele quem escolhe o que essas pessoas vão vestir em uma festa, em um show, em uma reunião, ou mesmo em um simples jantar. Não é tarefa fácil.

"Personal stylist"s pensam em roupas 24 horas por dia. Estão sempre correndo de loja em loja, buscando as últimas tendências, pesquisando nas revistas e na internet o que vai virar moda e se preocupando muito se vão agradar seus clientes.

"Minha função é surpreender", diz Patricia Zuffa, "personal stylist" de Ivete Sangalo, responsável pelo guarda-roupa e pelos figurinos que a cantora veste nos shows, nas viagens e festas. Zuffa já trabalhou com publicidade e cinema e agora veste também artistas como Déborah Bloch e Cléo Pires.

A cantora Ivete Sangalo no desfile da Neon, na última SPFW

"A cliente tem mais desejo do que se imagina. Mas um bom stylist não impõe o seu gosto, ele penetra na personalidade do cliente", explica a "personal stylist". E tem que tomar muito cuidado, pois nem sempre o artista pode vestir o que gosta ou o que quer. A tendência da hora, em alguns casos, pode não dar combinar com o seu tipo.

"A primeira coisa que temos que ter em mente é que nossas clientes não são modelos", diz Zuffa. "Ivete é uma mulher alta, vistosa. Não fica bem em um jeans skinny, por exemplo. Mas, por outro lado, abuso de elementos que a tornem mais sexy. Quando penso nela, também tenho que pensar em durabilidade, em conforto, já que os seus shows são agitados e demorados."

Paula Lang, que trabalha com Claudia Raia há três anos, diz que a atriz é muito exigente com seu visual. "Ela é uma mulher exuberante. É um traço da sua personalidade que tem que ser realçado. O que faço é lapidar seus gostos com um olhar mais crítico. Ela espera que eu a mantenha constantemente atualizada e que eu esteja pensando nela a cada produção ou roupa que vejo", diz a "stylist", que chega a cobrar cerca de R$ 300 a hora de trabalho.

Para uma grife, uma celebridade ostentando uma roupa de sua marca é algo que não tem preço. Com esse álibi, muitas ganham "presentes". E algumas até usam o seu prestígio para pedir serem presenteadas.

"No exterior, emprestar uma roupa ou dá-la a uma celebridade é chamado de PAG ('product give away'). É uma prática normal entre as marcas. Acho uma troca justa", diz Marcelo Sebá, diretor de marketing da Diesel Brasil. Para ele, o endosso de uma estrela como Madonna pode fazer a fama de uma marca, como ocorreu com a DSquared, grife que já foi usada pela cantora. "Temos apenas que dosar o PGA para que a marca não seja banalizada. Também não gosto muito de pidões. Acho deselegante", afirma Sebá.

Unânimes, os "stylists" dizem que nenhuma de suas clientes aceita presentes. "Quando a Adriane quer algo, ela vai na loja e compra", explica Tidy.

"Toda celebridade ganha muito presente porque todo estilista quer ter um artista vestindo sua roupa. O fato de o artista ser fotografado com a roupa garante boas vendas para a marca", diz Zuffa, que admite ocasionalmente pegar roupas emprestadas para um evento especial.

O trabalho do "personal stylist" exige mais do que simples dedicação. "Tem que ter um amor profundo por moda, gostar de roupa e de conviver diariamente com isso", afirma Lang. Para fazer o trabalho pesado de pegar as roupas ou fazer devoluções, alguns "stylists" contratam assistentes, mas boa parte deles diz que prefere trabalhar sozinha.

Lara Gerin, "personal stylist" de Marília Gabriela e de Carolina Ferraz, optou por não ter assistentes, mas não reclama. "Passo o dia carregando sacolas, da Oscar Freire ao Bom Retiro. É um trabalho de produção", conta. Ela diz que a correria compensa, porque muitas clientes recomendam seus serviços para as amigas.

Apesar dos bons salários, o glamour da moda fica de fora da profissão, para os "personal stylists". "Nosso trabalho é feito de muita ralação", reclama Gerin. "É exaustivo", diz Lang. "Moda não paga bem, fazemos nosso trabalho por amor", desabafa Zuffa. Para Tidy, a verdade é só uma: "Somos sacoleiros de luxo", ele brinca.

texto Eva Joory
foto Camila Falcão

Texto anterior | Índice | Próximo texto
 

Copyright Folha de S. Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).