Folha de S.Paulo Moda
* número 22 * ano 6 * sexta-feira, 6 de julho de 2007
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moda /Verão 2008

Era uma vez dois verões

Na praia, flores, cores, roupas vaporosas e tropicalismos de estação. Na cidade, muito preto, cinza, flúors artificiais e modelos esportivos e práticos, quase unissex. As duas faces do novo verão brasileiro ganharam formas mais nítidas na temporada "quente" de desfiles do Fashion Rio e da São Paulo Fashion Week, no mês passado.

O verão praiano saiu perdendo, graças a uma edição muito fraca do Fashion Rio, em que a falta de idéias e a adoção de fórmulas prontas roubaram o brilho da estação mais esperada pelos cariocas. Entre os melhores momentos, a moda praia sofisticada e inteligente da Lenny e as meninas tecnobucólicas e multiestampadas da Cantão.

Na areia, o maiô ganha recortes abusados e vira hit da estação. Da praia às festas, a peça também faz onda à noite, em pares sensuais com jeans e microshorts. Na onda do "beachwear" sofisticado, as saídas de praia deixam as cangas para trás e investem em tecidos e modelagens mais nobres.

Apesar de também ter apresentado uma temporada morna e repetitiva, a SPFW trouxe um pouco mais de novidades, em coleções que pensaram o verão a partir das cidades e da realidade do asfalto.

O esportivo, prático e adequado ao dia-a-dia das metrópoles, está cada vez mais presente, tanto nas peças de "streetwear" mais básicas quanto nas produções feitas para a noite. Tecidos tecnológicos, cordões, abotoamentos e bolsos utilitários fazem parte do vocabulário de grifes sofisticadas, como a Huis Clos.

Os vestidos se modificam, viram chemises amplos ou trench-coats, curtos ou na altura do joelho, as calças ficam mais soltas, e os shorts se adaptam a diferentes "shapes" de corpo. Para as mais ousadas, as "hot pants": calcinhas grandes e exibidas, mais parecem biquínis que cresceram, fugiram da praia e resolveram parar o trânsito na cidade.

Em busca de praticidade, as mulheres invejam o conforto simples do guarda-roupa masculino, e nele buscam elementos para se reinventar. Coletes viram vestidos, o smoking se despedaça _transformando-se em saias e camisas_, e inocentes paletós ganham decotes imprevistos.

Nessa redescoberta dos gêneros, Alexandre Herchcovitch foi além e fez o melhor desfile da temporada, com imagens de moda fortes e intensas: suas garotas/garotos mostram a força e o poder sexual do elemento feminino, mesmo sob camadas de alfaiataria em preto e branco.

O verão ainda tem espaço para uma terceira imagem, menos comercial e mais difícil de rotular, que transita livremente entre o ócio da praia e o caos racional das cidades.

Entre o sol e o asfalto, surge uma mulher que é de todos os lugares e de lugar nenhum, poderosa e envolta numa aura mítica. Como a Cleópatra pop e ultramoderna da estilista Fabia Bercsek, essa figura guarda em si a vontade de lidar, de forma muito atual, com o feminino essencial e, assim, realizar um dos grandes desafios de comunicação da moda: encarnar, com o espírito do agora, todas as mulheres do mundo.

por Camila Yahn e Vivian Whiteman
fotos Alexandre Schneider/Folha Imagem

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