Folha de S.Paulo Moda
* número 22 * ano 6 * sexta-feira, 6 de julho de 2007
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O ateliê misterioso

A Folha visitou o local onde a Cartier produz as suas peças mais exclusivas

Funcionário faz polimento em bracelete de platina, no ateliê de alta joalheria da Cartier

Num prédio de seis andares da rue de la Paix, 13, no centro de Paris, a Cartier guarda seu tesouro mais precioso: o ateliê de alta joalheria. Ali, em três pavimentos, cerca de cem pessoas _que não podem ter seus rostos fotografados nem seus nomes revelados_ trabalham na confecção de peças milionárias que podem custar o mesmo que um jatinho ou um quadro de Modigliani.

A Folha visitou este local superexclusivo durante os desfiles do prêt-à-porter de Paris, em março, guiada por Xavier Gargat, diretor dos ateliês da Cartier. "Trabalhamos com peças de prestígio excepcional", explica ele, enquanto conduz a reportagem por um labirinto de salas, cujas janelas jamais dão para a rua principal. Dois andares não puderam ser visitados, pois são de alta segurança.

Nas mesas de trabalho, safiras, esmeraldas e diamantes de diferentes tamanhos são lapidados, polidos e ajustados em peças complexas, como um bracelete na forma de um leopardo. Tudo é feito artesanalmente, com extremo cuidado e lentidão. O bracelete do leopardo, por exemplo, levará cerca de 600 horas para ser produzido. Um diadema encomendado por alguma princesa do Oriente Médio pode levar de um a dois anos de trabalho.

As peças são feitas a partir de pedidos especiais de clientes muito ricos. "Não são compradas porque estão na moda, mas adquiridas como uma obra de arte", conta Gargat, que trabalha há 36 anos na Cartier. Os pedidos são feitos nas próprias lojas _elas são 245 em todo o mundo, sendo duas no Brasil (uma em São Paulo e outra no Rio).

Cinco criadores desenham as peças, cujos projetos são encaminhados ao ateliê de alta joalheria. Primeiramente, é feita uma escultura de cera especial, que leva de duas a três semanas para ser realizada, e deve reproduzir, meticulosamente, a estrutura da jóia.

A escultura de cera, ajustada a um molde de gesso, vai para a fundição e derreterá à medida que o metal precioso ocupar o seu lugar _num processo de "cozimento" que dura cerca de 12 horas numa temperatura de 800º C (a platina exige mais calor, porque se funde a 1.700º C, segundo Gargat).

Dali, sai a peça principal em metal precioso, que será polida antes de ter as pedras afixadas. Os polimentos são feitos também com fios de algodão e até com penas de aves. Em seguida, começam os ajustes das pedras preciosas, já lapidadas. Todo o trabalho exige muito método e rigor, infinita paciência e um sigilo completo dos funcionários, como nos melhores filmes de mistério.

A Cartier em sete datas

1847 O joalheiro Louis-François Cartier cria a maison Cartier, em Paris

1898 Alfred Cartier, filho de Louis-François, muda a maison para a rue de la Paix, no endereço onde fica hoje o ateliê de alta joalheira

1904 Louis Cartier, filho de Alfred, projeta para o seu amigo Santos-Dumont um dos primeiros relógios de pulso

1909 Abertura da Cartier de Nova York, na Quinta Avenida

1924 É criada a aliança de três anéis, feita em três cores de ouro e que vira objeto de culto do poeta Jean Cocteau

1938 Começam a ser produzidos os perfumes Cartier

1992 A Fundação Cartier para a Arte Contemporânea se muda para o prédio desenhado pelo arquiteto Jean Nouvel em Paris

por Alcino Leite Neto (em Paris)
fotos Antonio Barros

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