Revista da Folha

Morar

31/08/2007

Capa: Criação coletiva

Nova geração de arquitetos doma a vaidade, dispensa o personalismo e começa a ganhar mais espaço trabalhando em equipe; conheça a trajetória de sucesso de seis jovens grupos paulistanos

por por Heloísa Helvécia, Danae Stephan e Renato Schroeder

Nelson Kon

Terminal de ônibus da Lapa, projetado pelo grupo Núcleo



Bebete Viegas
Casa no condomínio Porto Ibiúna, de autoria do grupo
Casa no condomínio Porto Ibiúna, de autoria do grupo
Arquiteto já foi visto como o iluminado que, com traço único e imaginação genial, modela o nada e cria outra realidade. Embora todo projeto sempre passe,passou e passará por muitas mãos antes de seguir para a engenharia, o que contava era o nomão de peso na placa da obra.

Em muitos casos ainda conta,mas os jovens estão mudando isso.Desencanados da questão da assinatura, eles saem das faculdades em pares ou grupos que logo viram sociedades. Somam habilidades, adotam a cooperação no lugar da hierarquia e não perdem tempo e espaço com espetáculo-solo. Quando o sucesso vem, sobressai o nome da banda.

E o sucesso pode vir até antes dos 30, nesse modelo estratégico de produção horizontal. Basta ver, em várias cidades, a quantidade de times novos que vem vencendo concursos e abocanhando projetos. Tem sempre um "arquitetos-futebol-clube" atrás de uma escola, um centro cultural, um terminal de transporte. E de obras privadas, que começam a se destacar na paisagem urbana brasileira.
Pregnolato & Kusuki
Da esq. para a dir. , Sérgio, 42, Luciano, 41, e Marcelo, 43, do escritório Núcleo
Da esq. para a dir. , Sérgio, 42, Luciano, 41, e Marcelo, 43, do escritório Núcleo

"Com o aumento do número de cursos e da oferta de recém-formados, o mercado virou um funil. Ficou complicado arrumar trabalho, por isso essa geração se organiza em grupos", diz Marcelo Suzuki, 51, um dos jurados do 8º Prêmio Jovens Arquitetos do IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil). O resultado do concurso confirma: o primeiro lugar na categoria de projetos e obras executados foi para um edifício inaugurado este ano em São Bernardo, mas concebido a partir de 1999 por uma equipe que na época saía da faculdade - alguns nem formados eram.

Parte desses meninos integra hoje o Arquitetos Cooperantes. Pablo Hereñú,Eduardo Ferroni, Fernanda Neiva, Anna Helena Villela, Fernanda Palmieri, Sabrina Lapyda e Maria Júlia Herklotz são o "núcleo duro"do escritório, que funciona na galeria Metrópole e está sempre aberto a associações.Aquilo é um entra-e-sai de colaboradores: equipes se criam e se desmancham conforme a necessidade,e cada um também toca seus trabalhos independentes, explica Hereñú, 30, um dos autores do trabalho premiado, ao lado do já citado Ferroni e de Kátia Melani,Apoena Amaral,Carlos Ferrata e Moracy Amaral:

"Em 2002 nos organizamos, originalmente com dez pessoas, para trabalhar em equipe, dividir a estrutura física, trocar nossas experiências como estagiários e manter os questionamentos", diz. O grupo não segue uma filosofia comum, nega essas classificações de "escola paulista"ou "escola carioca". "Temos repertórios diferentes, mas também afinidades que permitem troca. Uma delas é a crença no trabalho coletivo", afirma Hereñú.

Pregnolato & Kusuki
Prédio no ABC com piscina na cobertura
Prédio no ABC com piscina na cobertura
"Esse é o futuro", na visão do arquiteto Angelo Bucci,do escritório SPBR. Com 43 anos, faixa em que a maioria começa a subir numa carreira que pela própria natureza é lentamente edificada,Bucci pode ser considerado da nova geração, pela idade. Mas já ganhou tanto prêmio e fez tanta coisa (recentemente,a biblioteca da PUC, no Rio) que, aqui, ele fala como veterano: "Os Cooperantes rede- senham a forma de atuar. Ainda amadurecem isso, mas já conquistam um espaço onde antes não haveria qualquer chance. Buscam mais o engajamento do que a invenção", diz Bucci, fã das escolas dos Cooperantes.

O cooperante Hereñú explica que sua geração tem outras referências além da arquitetura moderna e, mais que isso,demandas complexas, de um mercado que exige flexibilidade: "Acultura da construção mudou. Na hora do vamos ver, não há como se espelhar no passado, os métodos de trabalho precisam ser reinventados", diz.

O projeto do edifício no ABC,que segue para a Bienal de Buenos Aires com os outros trabalhos premiados, até se inspira na tradição da escola paulista. Mas o processo de criação e o jeito de ser dos seus autores são diferentes da atitude que prosperou nos anos de ouro do movimento moderno.

Pregnolato & Kusuki
Maria Júlia, 31, Anna Helena, 29, Henrique, 30 (em pé), Fernanda, 29, e Sabrina, 30
Maria Júlia, 31, Anna Helena, 29, Henrique, 30 (em pé), Fernanda, 29, e Sabrina, 30
"Com a autoria minimizada, sem estrelismo, uma massa maior de profissionais acaba atingindo mais clientes e, com isso, passa a ter influência mais profunda na construção da cidade", diz Hereñú.Se entre os anos 50 e 70 poucos arquitetos de prestígio davam a cara para um bairro inteiro, caso de Higienópolis, hoje é impossível decorar todos os nomes dos profissionais envolvidos nas obras espalhadas pela cidade.


Arquitetura coletiva é uma tendência mundial e um "caminho irreversível", segundo Ciro Pirondi, 51, diretor da Escola da Cidade."É salutar,porque retira da figura do arquiteto a aura do demiurgo. No grupo, a reciclagem dos pensamentos é mais efetiva. É inteligente reconhecer quando uma idéia alheia é melhor que a própria, ou uma competência é mais importante que outra para determinado trabalho. Equipe doma o ego, baixa a bola e não prejudica a criatividade individual."

Na instituição de ensino de arquitetura e urbanismo que Pirondi dirige, alunos de níveis diferentes se juntam em pesquisas e projetos acadêmicos. "O quinto ano aprende com o primeiro e vice-versa. Os jovens estão interessados num uso mais social da arquitetura. É coerente que busquem soluções coletivas."

É o que faz o escritório Núcleo, criado há 18 anos pelos colegas de FAU Luciano Margotto, Marcelo Ursini e Sérgio Salles. "O que nos identifica é a preocupação com o espaço público", diz Margotto, hoje com 41 anos.

A equipe é responsável pelo projeto do terminal de ônibus da Lapa, aquele das leves e alvas coberturas em arco, cuja obra foi concluída em 2003."O terminal mostra como esse grupo trabalha de forma flexível, como é aberto à experimentação, à pesquisa e à expressão poética, sem ortodoxias, sem se auto-impor um modelo", elogia o arquiteto Joan Villà, 66.

Os novos arquitetos que começam a interferir na escala pública são também os que mais chamam a atenção de Antonio Carlos Sant'Anna, 56, professor da FAU e do Mackenzie. Além desse pessoal do Núcleo, Sant'Anna destaca a dupla Vinícius Andrade e Marcelo Morettin (que venceu o concurso HabitaSampa, na gestão Marta Suplicy, para projetar residências no Centro) e o grupo Una (leia à pág. 25): "Todos fazem uma arquitetura que está longe de ser espetaculosa, mas apontam para a retomada do espaço coletivo, hoje abandonado", diz.

Uma marca dessa última leva de arquitetos é a aversão a tábuas de mandamentos. Ela carrega a herança modernista sim, mas com visão crítica e mesclada a uma variedade de influências e técnicas. Significa que "boa arquitetura",agora, pode até ter telhado - contrariando uma das leis que já vigoraram na produção brasileira.

Antes,bacana era imprimir o mesmo estilo em tudo.Agora, cada casa é um caso."O projeto é definido pela própria dinâmica do trabalho conjunto.Vamos ajustando a criação e as visões diferentes, incluindo a do cliente, de acordo com o andamento da coisa. Fala-se muito do gesto, do projeto resolvido num traço.É justamente isso que nossa arquitetura não é", diz Alberto Barbour,30, do escritório Urdi (leia à pág. 22).

Acabou o marasmo que se seguiu à superação do pós-modernismo, na análise de Ciro Pirondi."Essa faixa entre 30 e 45 anos renova, porque prefere refletir e pesquisar o que dá para fazer em cada lugar. Tem visão plural, segue outros caminhos que não o da última revista de Milão. Não está presa a uma cartilha formal ou a algum material, como o modernismo esteve ligado ao concreto", ilustra.

É um jeito mais pragmático de atuar."Nossa geração se voltou ao ofício, quer construir, fazer acontecer. Não tem problemas de consciência como nos anos 70, quando projetar era 'servir às elites'", diz Mario Biselli, 45, professor de projeto no Mackenzie e na Belas Artes.

Os velhos mestres, como Oscar Niemeyer,Paulo Mendes da Rocha e Villanova Artigas, criaram em momentos de expansão econômica e altos investimentos do Estado. "Já a nossa geração começou fazendo obras privadas. Agora é que as novas turmas estão pegando coisas públicas, de maneira legítima, por concurso", diz Biselli. Nos últimos quatro anos ele venceu uma seqüência considerável de concorrências, incluindo as do teatro de Natal e do aeroporto de Florianópolis.

Apreocupação com a sustentabilidade dos projetos é outro traço distintivo dos arquitetos da vez. Daí sua ansiedade por sistemas construtivos mais industrializados, que permitam menos desperdício e gerem menos entulho. Segundo Biselli, se a indústria cooperar,o Brasil tem tudo para ser vanguarda nessa questão.

"Os primeiros modernistas já falavam em arquitetura orgânica, somos formados com essa mentalidade. Tem uma agenda para o século 21, está todo mundo ligado. A sustentabilidade vai diferenciar as próximas gerações de arquitetos. "Mas esforço individual não interessa", ele avisa: "Tem que ser ação coletiva".

Ópera sem prima-dona
Imagem digital Opera Quatro
Projeto vencedor para o Teatro Municipal de Londrina, criado pela turma do Ópera Quatro
Projeto vencedor para o Teatro Municipal de Londrina, criado pela turma do Ópera Quatro
Os profissionais do Ópera Quatro têm em comum os diplomas da Mackenzie e a "paixão tresloucada" por arquitetura, como diz Thiago Nieves,um dos integrantes.Até aí normal. Cada um com suas experiências, Nieves, 28, Amauri Sakakibara, 30, Fernanda Ferreira, 28, Pablo Chakur, 28, e Andre Luqui,27,partilham também o fato incomum de já desfrutar, neste primeiro tempo do jogo da carreira, de reconhecimento e projeção nacional.

Se atuassem isoladamente, ainda estariam ralando para veteranos de renome como a maioria dos recém-formados e nem tão recém-formados assim, sem chance imediata de ver uma idéia própria materializada. Mas juntaram o aprendizado adquirido em grandes escritórios paulistas por onde passaram e venceram um concurso para projetar o teatro municipal de Londrina.

Imagem digital Opera Quatro
Projeto vencedor para o Teatro Municipal de Londrina, criado pela turma do Ópera Quatro
Projeto vencedor para o Teatro Municipal de Londrina, criado pela turma do Ópera Quatro
O trabalho concorreu com outras 105 propostas.Destacouse pela simplicidade estrutural e facilidade de execução,"apesar da complexidade", segundo Fabio Penteado, 75, conselheiro do IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil), entidade que promoveu o concurso com a Prefeitura de Londrina. "A preocupação com o público, mostrada nas facilidades de acesso aos espaços do complexo cultural, e a integração do teatro com a cidade foram algumas características que garantiram ao grupo o primeiro lugar", explica Penteado.

Os arquitetos trabalham num mesmo endereço, mas em "cafofos" independentes, um ao lado do outro. Agora, para dar conta do projeto executivo do teatro e dos trabalhos que virão na rasteira do prêmio, criaram um escritório coletivo.O nome foi escolhido em "brainstorming": além do sentido de obra, ópera remete a teatro, que foi o que os uniu. "O fato de cada um ter um ponto de vista e influências diferentes provoca questionamentos que levam a uma aferição maior de cada trabalho. No caso dos concursos, essas discussões são ainda mais necessárias", explica Nieves. Eles reconhecem que são muito jovens para tocar um projeto do porte do teatro de Londrina, daí a importância de somar referências. "A gente se espelha em arquitetos com mais estrada, sabemos que só vamos estar no ápice depois dos 40", completa Pablo Chakur.

Cris Bierrenbach/Folha Imagem
Pablo, 28, Amauri, 30 (primeiro plano), Fernanda, 28, e Thiago, 28
Pablo, 28, Amauri, 30 (primeiro plano), Fernanda, 28, e Thiago, 28
E depois do teatro, para onde vai a turma? "Nosso intuito é ser um grande escritório de São Paulo e do país", responde Nieves."Queremos colocar um pouco de juízo no mercado imobiliário, que cede à vontade de empreendedores e faz cópias distorcidas da arquitetura clássica. O Brasil tem tradição de design e pujança de criação.Vamos tirar partido disso."

Trama dupla
Alberto Barbour,30, e Alexandre Liba, 32, cruzaram suas linhas de interesse na faculdade, a USP de São Carlos.A parceria foi formalizada três anos atrás, no escritório Urdi, que já nasceu diferenciado, por causa da expertise dos sócios em arquitetura cênica. Agora, eles interferem nos espaços do Colégio São Luís.

Kiko Masuda/Divulgação
Cantina do Colégio São Luís depois da intervenção do escritório Urdi, formado pelos arquitetos Alexandre, 32, e Alberto, 30
Cantina do Colégio São Luís depois da intervenção do escritório Urdi, formado pelos arquitetos Alexandre, 32, e Alberto, 30
A escola, um grupo de prédios no quarteirão que pega Paulista, Bela Cintra, Haddock Lobo e Luís Coelho, precisa crescer, mas sem aumentar a área que ocupa.Já passou por tanta obra nos seus 140 anos que o resultado é uma mistura de estilos e um mau uso dos espaços.Os moços da Urdi, inicialmente chamados para traçar o teatro do São Luís, estudaram os desafios do conjunto e também do quarteirão. Junto com os clientes jesuítas, concluíram que o certo era fazer um plano de intervenção de médio e longo prazos, tocando os projetos por ordem de necessidade.

O trabalho começou pelos laboratórios, hoje reformados. Em seguida, surgiu um espaço para as crianças brincarem, enquanto aguardam os pais na saída. O escritório dinamizou a cantina e atraiu público para ela, banhando-a de luz natural e integrando-a à piscina (mas não criou "área de convivência", porque "área de convivência não é projetada, é eleita", cutuca Barbour). O centro de eventos e as calçadas do quarteirão também foram modernizados.A saga continua, agora com o projeto do teatro.

Fotos Cris Bierrenbach/Folha Imagem
Arquitetos Alexandre, 32, e Alberto, 30
Arquitetos Alexandre, 32, e Alberto, 30
Do todo aos detalhes, da mera reforma de um banheiro à criação de um edifício público com 10 mil m2 (caso do teatro municipal de São José dos Campos, projetado pelo Urdi), o que caracteriza o trabalho da dupla não é uma "linguagem", como eles falam ironicamente, mas um jeito de fazer, e esse jeito é em equipe, o que pressupõe "linguagens".

No Urdi, tudo começa com dois, mas pode terminar com 200."Arquitetura é um fractal de especialidades.Aimportância da equipe, na nossa geração, é uma resposta à forma como esse ofício se desenvolveu nos últimos tempos.É um jeito de correr atrás de tecnologia e qualidade", diz Barbour."Já na faculdade percebemos que o que você desenvolve sozinho não atende mais ao mercado."

Daí os novos escritórios evitarem nomes próprios na razão social, siglas, acrônimos. "Às vezes um nome encabeça tudo, mas é só um status.Sempre tem uma grande equipe em um grande projeto.Quando montamos a empresa, fizemos questão de um nome que expressasse o conceito do trabalho em equipe", diz Barbour. Urdi vem de urdidura,conjunto de traves no teto de um palco. Explica Liba: "É um equipamento fundamental em teatro, uma das nossas frentes de trabalho. Mas também significa tecer.Tudo a ver com essa poética de elaborar um projeto cruzando informações e sintetizando as linhas mais diferentes."

Sustentabilidade em família
Os irmãos Nitsche - Lua, 34, e Pedro, 31 - cresceram em São Paulo, numa casa criada por Paulo Mendes da Rocha. Deu no que deu.

Nelson Kon
Casa ecológica no litoral paulista, projetada por Pedro e Lua
Casa ecológica no litoral paulista, projetada por Pedro e Lua
Formados pela FAU-USP, Lua e Pedro estagiaram em escritórios de gente como Isay Weinfeld, Ruy Ohtake, Filipe Crescente e André Vainer, antes de montarem o Nitsche Arquitetos Associados, em 2001. O primeiro trabalho da dupla, uma casa na Barra do Sahy, ganhou o prêmio Planeta Casa de arquitetura sustentável e espaço em publicações especializadas. Logo pintaram outros projetos de residências no litoral paulista.

Todas as casas criadas pelos Nitsche têm estrutura leve, materiais que permitem construção rápida (para economizar e reduzir o impacto da obra no ambiente) e espaços integrados." Aarquitetura tem que ser instigante, convidativa, e para isso o imóvel precisa ter fluidez e acesso irrestrito", diz Pedro."Buscamos o máximo de integração dos espaços, sem divisão nem hierarquia. Quem determina o uso é o próprio morador", completa Lua.

Nelson Kon
Pedro, 31, e Lua, 34
Pedro, 31, e Lua, 34
Sustentabilidade, na concepção da dupla, vem na raiz do projeto e se traduz do posicionamento da casa no terreno às aberturas criadas para ventilação. "O que se vê hoje são algumas construções tradicionais que acoplam equipamentos para tentar se transformar em sustentáveis, mas o projeto não partiu desse conceito", critica Lua.

Entre as marcas de sua geração, os irmãos notam, além da obsessão com o meio ambiente, a exploração de novos materiais e a velocidade no encontro de soluções. "Com a aceleração dos processos matemáticos e de cálculo, as formas propostas podem ser dimensionadas com rapidez, o que permite maior liberdade de experimentação", diz Pedro.

Hoje, além de desenhar lojas e projetar uma fazenda totalmente sustentável (esta, sim, com captação de energia solar, reaproveitamento de água etc.),os dois se dedicam a planos pessoais igualmente complexos: Lua acaba de dar à luz e Pedro tem casamento marcado para outubro.

Arquitetura de diferenças
Um exemplo da boa e nova arquitetura praticada em São Paulo está plantado em Aldeia da Serra, Barueri. Sem muros de divisa e sem frente ou fundos definidos, a "casa Yamada", conhecida no metiê pelo nome do seu proprietário, foi construída em 2004 e desenhada a partir da releitura de outra casa, assinada por Villanova Artigas (1915/1985).

Carlos Kipnis
Escola na periferia da zona sul, criações do Estúdio 6, que reúne arquitetos de uma mesma turma da FAU formada em 99.
Escola na periferia da zona sul, criações do Estúdio 6, que reúne arquitetos de uma mesma turma da FAU formada em 99.
O projeto da casa Yamada é do Estúdio 6, organizado em 2001 por Alexandre Mirandez de Almeida, César Shundi Iwamizu,Marcelo Pontes de Carvalho e Ricardo Bellio.Aturma se formou na mesma escola, a FAU, e no mesmo ano, 1999 - com exceção de Bellio, que concluiu em 2001 o curso de arquitetura na Belas Artes."Batizamos assim o escritório porque eram cinco os estúdios na FAU, então viramos o sexto. O importante era não ser o nome de ninguém. Quando os arquitetos se desapegam da assinatura, a vida vai melhor", diz Alexandre Mirandez, 30.

Nelson Kon
Casa em Aldeia da Serra
Casa em Aldeia da Serra
Segundo ele, cada projeto que entra no escritório é uma experiência única: "O trabalho é sempre resultado de um debate intenso. Temos em comum apenas o desejo de fazer boa arquitetura, que, independentemente de gosto ou esti- 24 Morar | Revista da Folha | 31 de Agosto de 2007 lo, é resultado do desenvolvimento coletivo de uma boa idéia e do entendimento de que uma obra não se encerra nela mesma, daí a consideração com quem vai usá-la, o entorno, a cidade, o ambiente", afirma Mirandez.

Essa preocupação é óbvia na escola estadual do Jardim Umuarama,a primeira obra pública executada a partir de um projeto do grupo.O prédio, aberto para o exterior, tem grandes janelas,amplas áreas de circulação e toda uma lógica que subverte a das construções escolares, rompendo o "confinamento das salas de aula", nas palavras de seus criadores.

Fotos Cris Bierrenbach/Folha Imagem
Ricardo, 32, e Alexandre, 31
Ricardo, 32, e Alexandre, 31
Foi assim que o desenho de uma escola lá para os lados do Campo Limpo, na periferia da zona sul,ganhou exposição na Bienal de Veneza.O projeto venceu,em 2004,o Prêmio Jovens Arquitetos do IAB e do Museu da Casa Brasileira.

Os profissionais do Estúdio 6, é inegável, ainda têm em comum a referência de mestres como Artigas ou Mendes da Rocha. Mas sem dogmatismo, diz Martinez: "Pegamos emprestado da escola paulista só o que há de melhor, e cada um de nós absorve a seu modo as novidades da arquitetura mundial. A intenção é desenvolver a nossa própria arquitetura, uma arquitetura feita a partir das nossas diferenças."

Sociedade cheia de história
A nova arquitetura plural também atende pelo nome de Una.Quando o assunto é projeto coletivo, esse grupo paulistano acaba sendo citado por profissionais e acadêmicos de diferentes gerações.

Nelson Kon
Escola Pública na periferia de Campinas, trabalho premiado do grupo Una
Escola Pública na periferia de Campinas, trabalho premiado do grupo Una
Ex-colegas de FAU, Fábio Valentim, 36, Fernanda Barbara, 40,Fernando Viégas,36, e Cristiane Muniz,36, são sócios faz 11 anos, desde que venceram um concurso nacional para a preservação do patrimônio histórico. Eles projetaram a restauração da agência central dos Correios - um prédio de 1922, concebido por Ramos de Azevedo."Mexeram tanto na nossa proposta que a gente nem reconhece mais essa autoria,mas foi assim que o escritório começou, em 96", conta Valentim.

Hoje, muitos prêmios depois, celebram o andamento das obras do terceiro andar do Instituto de Arte Contemporânea, na Vila Buarque, e é da responsabilidade deles o restauro e a reforma do Centro Universitário Maria Antônia.

Cristiane, 36, Fernando, 36, Fabio, 36, e Fernanda, 40
Cristiane, 36, Fernando, 36, Fabio, 36, e Fernanda, 40
Como boa parte dos novos escritórios, o Una desenhou escolas da FDE (Fundação para o Desenvolvimento da Educação).Também assina a nova unidade do colégio Santa Cruz, considerada um "ponto alto da arquitetura atual" por Pedro Paulo de Melo Saraiva, 73, professor de projeto na Mackenzie, na Anhembi Morumbi e na Escola da Cidade. Outro trabalho premiado do grupo é uma escola pública na periferia de Campinas, que impressiona "pela beleza e a simplicidade", elogia Roberta Kronka, 36, pesquisadora da FAUUSP na área de conforto ambiental.

Os quatro arquitetos se dedicam agora a cinco estações da nova linha F da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), projetadas em estrutura metálica. "Pretendemos resgatar o conceito de gare na cidade de São Paulo", adianta Valentim, referindo-se às formas das antigas estações de ferro de inspiração européia.

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