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Com
a simplicidade de quem já viveu muito e parece ter aprendido muito
com a vida, Ferreira Gullar, que, aos 69 anos, acaba de vencer a
categoria Poesia do Prêmio Jabuti 2000, com o livro "Muitas Vozes",
falou à Folha Online sobre o livro premiado, sua obra e suas
lembranças.
Confira trechos da entrevista.
Folha Online - Quais são as 'muitas vozes' de que o senhor fala
no livro?
Ferreira Gullar - Todas as vozes. Eu quero que a minha literatura
represente cada pensamento diferente, cada emoção. Não concordo
que o escritor deva usar só a voz dele, a gente não escreve pra
nós mesmos.
Folha Online - No seu livro "Poema Sujo" (1976), o senhor passa
toda a emoção da saudade de São Luís, já que estava no exílio, num
único poema, que ocupa um livro inteiro. "Muitas Vozes" é dividido
em vários poemas. Qual foi a diferença dos dois?
Gullar - Ah, aquele foi um momento único, não volta mais. Uma
emoção daquela, toda a saudade daquele momento, você não consegue
expressar duas vezes. Eu demorei meses pra escrever aquele poema.
Por isso, este e todos os meus outros livros têm vários poemas:
são pequenas descobertas, um poema é feito de cada pequena descoberta.
É muito difícil uma emoção durar tanto quanto aquela, de ter saudade
do meu país.
Folha Online - O que o senhor vê de novidade na literatura contemporânea?
Gullar - Novidade, novidade, não vejo muita. Mas há escritores
novos aparecendo, alguns bons, outros nem tanto. Para a literatura
ser boa, é preciso amadurecer.
Folha Online - O senhor se considerava um bom escritor no começo?
Gullar - Eu não era bom, depois fui melhorando. Hoje, já tenho
alguns bons textos...
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