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A MORTE DE COVAS
Herdeiro político do governador, tucano tem carreira construída na busca de consenso e na ausência de conflitos, tanto com aliados quanto com adversários
De estilo oposto a Covas, Alckmin assume Estado
ROGÉRIO GENTILE
DO PAINEL
Os tucanos costumam definir o
estilo silencioso e conciliador de
Geraldo Alckmin, o novo governador paulista, com uma ironia:
"Se o PSDB é o partido do muro,
Alckmin é o próprio muro".
Maior herdeiro e, ao mesmo
tempo, uma espécie de antítese
política do governador Mário Covas, Geraldo Alckmin, 48, nunca
entra em bola dividida.
Ninguém nunca o viu -e provavelmente ninguém irá vê-lo-
discutindo num palanque com a
camisa manchada de ovo ou enfrentando manifestantes na frente
de algum órgão público.
Sua trajetória na política, desde
que iniciou a carreira aos 19 anos,
em 1972, quando foi eleito vereador em Pindamonhangaba (145
km da capital paulista), é a de
quem sempre evitou qualquer tipo de polêmica e prefere omitir-se
a ficar mal com algum dos lados.
Vereador, prefeito de Pindamonhangaba, deputado estadual e
federal, Alckmin tornou-se vice
de Covas - apesar de a cúpula do
PSDB preferir à época Walter Barelli - justamente porque não incomodava ninguém e tinha bom
relacionamento com todos os diretórios e alas do partido.
No governo, Alckmin conquistou a confiança de Covas pela discrição e pela lealdade. Jamais tentou atropelar sua liderança.
Nas inaugurações que presidiu
como governador interino, sempre fez questão de atribuir a realização das obras a Covas, mencionando-o todas as vezes em que
discursava.
Sua personalidade discreta, no
entanto, rendeu-lhe um apelido,
um tanto quanto maldoso, no
próprio ninho tucano. Colegas dizem nos bastidores que ele é o
"político-água". Explicação: insípido, inodoro e incolor.
A eleição de 1994 é um bom
exemplo do estilo Alckmin de fazer política. Pré-candidato ao governo paulista, Mário Covas pediu a alguns deputados que recolhessem no PSDB uma lista de
apoio a seu nome.
Alckmin sabia que o hoje ministro da Saúde, José Serra, também
pretendia disputar o governo.
Pressionado pelos dois lados,
conseguiu sair pela tangente.
Não assinou a lista, alegando
que, como presidente do PSDB
paulista, não poderia apoiar nenhum dos dois pré-candidatos.
A última eleição, quando Alckmin disputou a Prefeitura de São
Paulo, é outro exemplo. Num debate da TV Bandeirantes, Fernando Collor chamou o presidente
Fernando Henrique de "banana".
Alckmin nem se mexeu na cadeira. Pelas regras do programa, o
candidato poderia ter pedido direito de resposta para rebater as
ofensas ao presidente tucano, mas
optou pelo silêncio.
Bom moço
Médico com pós-graduação em
anestesiologia, casado com Maria
Lúcia, pai de três filhos (Sofia, Geraldo e Thomas), Alckmin cultiva
a fama de "bom moço". E foi à
custa dessa imagem que se projetou na política paulista.
Não fala alto, está sempre com a
gravata alinhada e o colarinho
branco, gosta de contar "causos"
e é um ouvinte atento, capaz de
passar horas escutando prefeitos
e vereadores do interior com um
sorriso discreto e ar acolhedor.
Administrador cuidadoso, costuma ouvir muito seus auxiliares
e refletir bastante antes de tomar
qualquer decisão. Na campanha
para prefeito, fazia longas reuniões noturnas com arquitetos e
técnicos em transporte para se
aprofundar sobre os problemas
urbanísticos de São Paulo.
Em 99, quando o PSDB decidia
quem disputaria a prefeitura, surgiu com uma especial recomendação de Covas, que o classificava
como "um bom nome".
Alckmin conduziu a campanha
dizendo-se capaz de sanear as
contas da cidade e defendeu a necessidade de uma prefeitura "alinhada" com o Estado.
Desconhecido pela maior parte
do eleitorado paulista, foi apresentado na campanha como uma
novidade no cenário político, um
político com "a cabeça no lugar".
Alckmin é adepto da acupuntura. Acredita que a técnica o ajude
a manter seu autocontrole. Na
eleição, atacado por Paulo Maluf,
recorreu por várias vezes às sessões para não perder a calma.
Homem simples, que costuma
ir do prédio onde mora, no Morumbi, ao Palácio dos Bandeirantes caminhando, Alckmin vive
sem ostentação num apartamento de três quartos, cujas prestações não terminou de pagar.
Sai cedo de casa, antes das 7h, e
raramente retorna do Bandeirantes antes do anoitecer. Meticuloso
e organizado, passa audiências
anotando tudo num caderno, para não se esquecer de nenhuma
reivindicação ou sugestão.
Diante de problemas, o novo
governador de São Paulo costuma
citar Juscelino Kubitschek: "O otimista pode até errar, mas o pessimista já começa errando".
No último dia 22 de janeiro,
com a piora de Covas, Alckmin
reassumiu interinamente o governo. Desde então, aumentou a
discussão sobre a possibilidade
ou não de o tucano poder concorrer à reeleição em 2002.
Fiel ao seu estilo, Alckmin desconversa sempre que é questionado sobre o assunto. Mas já andou
fazendo algumas consultas jurídicas para saber se, do ponto de vista legal, pode disputar o cargo.
Colaborou o Banco de Dados
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