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MOOCA

Preocupação com segurança subiu seis pontos percentuais desde 96; 19% consideram que bairro não tem problemas

Para moradores, qualidade
de vida piorou na região

Flávio Florido/Folha Imagem
Moradora em cortiço na rua Ibitinga, na Mooca, onde quem recebe visita paga um adicional nas contas de água e luz pela estadia

DA REPORTAGEM LOCAL

Para 19% dos moradores da área da Mooca _que inclui Tatuapé, Belém e Água Rasa na pesquisa Datafolha_, o bairro onde vivem não apresenta problemas. No entanto, a violência é apontada como a principal deficiência por 42% dos entrevistados.

Além de grande parte dos habitantes não encontrar problemas no bairro, dado que chama a atenção em uma cidade como São Paulo, a região da Mooca destaca-se por outro motivo: de acordo com os entrevistados, esse é um dos bairros onde a qualidade de vida mais caiu desde 96, quando foi realizada outra pesquisa sobre os principais problemas da área.

Em 96, apenas 36% dos moradores reclamavam da violência (contra os atuais 42%) e 29% diziam viver em um local sem problemas. Esse índice caiu dez pontos percentuais em quatro anos.

Entre os entrevistados, 57% afirmaram que hoje evitam certas ruas, locais ou pessoas da vizinhança após o anoitecer, com medo da violência.

Na área da Mooca, 31% dos moradores foram assaltados nos últimos 12 meses, o percentual mais alto registrado na cidade.

“Eu não consigo entender como os moradores da Mooca não enxergam os problemas do bairro”, diz Ana Esteves, do Movimento Popular de Moradia do bairro.

Cortiços

Esse estranhamento ocorre porque os cortiços, considerados pelos movimentos sociais como o maior problema da Mooca, ficam escondido sob fachadas de casas de classe média. O movimento estima a existência de pelo menos cem cortiços em todo o bairro.

Em algumas ruas e avenidas, como a Ibitinga, da Mooca ou Celso Garcia, existem dezenas desses aglomerados urbanos. Dentro deles, famílias numerosas dividem um único cômodo, na maioria das vezes sem ventilação alguma, como dezenas de vizinhos. Todos usam o mesmo banheiro.

No entanto, quem passa na rua não percebe que, por trás de uma fachada pintada, pode estar escondido um cortiço.

“As pessoas sabem, mas preferem não admitir o problema”, diz Ana. “A maioria das empregadas domésticas desses bairro mora nos cortiços”, completa.

Migração

Os migrantes compõem grande parte da população que vive nos cortiços. O maior atrativo da região é justamente ser de classe média. As mulheres trabalham como empregadas domésticas, com a vantagem de poderem ir a pé para o serviço.

Além das residências, também existem pequenas fábricas de roupa, enfeites e flores artificiais.

Quitéria Ventura da Silva é uma típica moradora de cortiço. Nascida em Pernambuco, ela trabalha como empregada doméstica em uma rua próxima de onde mora, a Ibitinga. Ela veio de Mauá com o marido, um mecânico, e o filho Francisco, 14.

“O maior problema daqui é a fila do banheiro”, afirma Quitéria. São 32 famílias dividindo um chuveiro e dois vasos sanitários. Nos horários de pico, como a chegada e saída do trabalho, a fila para utilizar o local fica enorme.

Além disso, quase não há privacidade. O teto da casa de Quitéria é o assoalho do vizinho do andar de cima. É possível ouvir as conversas e todos os outros ruídos quer vêm das casas vizinhas. “Aqui todo mundo ouve e sabe de tudo”, afirma Quitéria.

As contas de água e luz são rateadas entre os moradores. Quem recebe visita, paga a mais pelo período da estadia.

Os moradores dos cortiços enfrentam problemas adicionais. Os localizados no Alto da Mooca, a região mais nobre do bairro, enfrentam dificuldades com o transporte público. O transporte coletivo é citado por 5% dos entrevistados como o principal problema do bairro, enquanto apenas 3% indicaram deficiências na área de saúde como a maior dificuldade.

“As coisas boas já não existem mais”, diz a dona-de-casa Carmelita Ribeiro Venâncio, moradora de um cortiço na rua Padre Raposo, um dos mais arejados.

Carmelita e o filho dividem um cômodo sem ventilação. O único lugar onde há espaço para o armário é justamente na frente da janela. Para utilizar o cômodo, ela e a vizinha pagam R$ 170. Nesse cortiço, 32 pessoas dividem dois banheiros.

A luta dos moradores de cortiço (chamados de encortiçados) ficou mais evidente após a demolição de alguns deles e da posterior construção de prédios para abrigar as famílias.

Recentemente, o governo do Estado comprou o prédio do cinema da Mooca, onde está o maior cortiço da região.

A moradora Edileusa Francisco da Silva, integrante do Movimento Popular de Moradia da Mooca, afirma que, quando é necessário encontrar albergues provisórios para as famílias (até que a obra da moradia definitiva esteja pronta), os condomínios dos prédios se unem para que o “acampamento” não fique próximo deles.

Ao falar sobre as prioridades da próxima administração, 9% dos entrevistados citaram a moradia, item que perde para o transporte coletivo (10%), a saúde (28%), a educação (32%), o desemprego (39%) e a segurança (43%). (GA)


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