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SAPOPEMBA

Insegurança está relacionada à falta de pavimentação; homicídio cresce ano a ano, segundo dados da Seade

Ruas sem asfalto afastam
carros de polícia do bairro

Flávio Florido/Folha Imagem
Willian Souza Perez, 5, brinca ao lado do córrego na Fazenda da Juta, Sapopemba, região que sofre com enchentes constantes

DA REPORTAGEM LOCAL

Na região de Sapopemba (Cidade Líder, Parque do Carmo e São Mateus), extremo leste da cidade, as carências são tão grandes que se entrelaçam. A falta de calçamento e asfalto, apontada por 14% dos moradores como o pior problema do bairro, está ligada à falta de segurança (citada por 42%): as viaturas policiais não entram nas ruas de terra e os homicídios aumentam ano a ano.

Na madrugada de sexta-feira, por exemplo, no Jardim Conquista, distrito de São Mateus, morreram sete pessoas, na segunda maior chacina deste ano.

Entre 98 e 99, a taxa de homicídios na região aumentou de 70,2 por 100 mil para 76,6 por 100 mil, segundo a Fundação Seade (Análise de Dados de São Paulo).

“Aqui a polícia só entra para pegar os corpos”, diz o morador André Luiz Alves. “Aqui a gente dá graças a deus quando é parado por uma viatura. Pelo menos dá a sensação de que não estamos esquecidos”, completa.

Entre os entrevistados, 68% disseram que a prefeitura não agiu em nenhum lugar do bairro nos últimos quatro anos.

No Jardim Conquista as 149 travessas têm nome de letra de música, como Sangue Latino, Vereda Tropical e Sandália Cor de Prata. Apesar disso, o lugar não tem nada de poético. Ao contrário.

De todas as ruas, apenas três são asfaltadas. O lugar é cheio de ladeiras, que quando chovem ficam muito escorregadias.Nem a rua da escola escapa da terra batida.

“Quando chove, os professores não conseguem chegar à escola para dar aula”, diz Hamilton Clemente Alves, presidente da Associação de Moradores do Jardim Conquista.

Clemente conta que as crianças passam o dia brincando nas ruas empoeiradas e acabam ficando expostas a doenças respiratórias.

Os moradores pobres e a maioria sem emprego ainda compram entulhos e terra para aterrar as ruas, permitindo o trânsito de pedestres.

Carros só passam muito lentamente em algumas ruas. Na maioria, o acesso é impossível.

Os ônibus da região trafegam pelas únicas três ruas asfaltadas. Quem mora longe da “pista” não sai a noite, com medo do caminho de volta para casa.

Para completar, há seis quilômetros de esgoto a céu aberto pelas ruas empoeiradas.

Truque

Na eleição passada, um dos vereadores cassados por envolvimento com a máfia da propina, conseguiu centenas de votos no Jardim Conquista prometendo asfalto.

Além as promessas, ele simulou o início das obras e ganhou a credibilidade dos eleitores. “Eu fui um dos que acreditou”, diz Renato Eduardo dos Santos.

O Jardim Conquista foi criado em 89, quando a prefeitura desapropriou uma área para lotear. O problema é que o lugar nunca chegou a ser urbanizado.

Um levantamento feito pelo prefeitura, na hora da divisão dos lotes, mostra que na área moram 7,2 mil famílias. Entre os adultos, 60% são completamente analfabetos: não assinam nem o nome.

Enchentes

Na Fazenda da Juta, Sapopemba, a falta de calçamento une-se a a carência de esgoto e as constantes enchentes.

Na Fazenda da Juta, por exemplo, as famílias não têm móveis todos os anos no período de enchente, a casa deles enche até a metade das paredes. Cerca de 2,2 mil famílias moram às margens do Córrego do Oratório, um rio, transformado em esgoto, que começa em Mauá.

Essa é a área considerada mais crítica da região.

Guilherme Batista Amorim tem um ano e oito meses. Tão pequeno já escapou da morte duas vezes. Uma vez caiu no rio. Na outra, quando sua casa encheu ele e a mãe ficaram presos em um quarto. A geladeira tombou sobre a porta, impedindo-os de escapar. “Fiquei apavorada”, diz Márcia Amorim, avó do garoto. Acabaram salvos por vizinhos.

“Aqui só tem promessa”, diz a dona-de-casa Rita de Cássia Gomes, mãe de cinco filhos.

Ela mora exatamente ao lado do córrego. Nos meses de janeiro e fevereiro, passa dias hospedada na casa dos vizinhos que moram “mais no alto” para escapar da “doença dos ratos”.

É assim que ela chama leptospirose, transmitida por meio do contato com a urina do animal.

Este ano, ela e o marido economizaram R$ 1,2 mil para construir um muro de arrimo para tentar se proteger da “água suja”. Segundo ela, as marcas na pele dos filhos é fruto do contato com a água contaminada.

Na última eleição, Rita e os vizinhos ajudaram um candidato a montar um palanque perto do córrego para que todos ouvissem que ele resolveria o problema. “Depois da campanha, ninguém falou mais no assunto”, diz Márcia, avó de Guilherme.

Há cerca de dois meses, a prefeitura calçou a maior parte do asfalto. Mas isso não protegerá os moradores da enchente.

“Tem que guardar tudo em prateleiras bem lá em cima”, ensina Ulisses Feitosa, que aterrou tanto o quarto das filhas que a cabeça delas quase bate no teto. (Gabriela Athias)


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