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18/06/2006 - 08h45

"Símbolos do Mundial são nojentos", diz especialista

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GUILHERME ROSEGUINI
da Folha de S.Paulo, em Munique

Tudo não passa de desenhos ou criações sem importância a um olhar desapercebido. Mas, sempre que encara o logotipo oficial ou a mascote da Copa, Erik Spiekermann diz entender o repúdio que alguns conterrâneos sentem pela competição mais nobre do futebol.

Na sua visão, estão equivocadas a escolha de cores, os traços do design e até o leão eleito para representar o país. "É muito ruim, é nojento. Coisas assim fazem os alemães não se sentirem em casa num evento tão importante, que lutaram tanto para receber", disse à Folha.

O desabafo não vem de um leigo. Spiekermann é hoje um dos programadores visuais mais respeitados da Alemanha.

Co-fundador da agência MetaDesign, tem clientes como Audi, Volkswagen, IBM e Nike.

Seu principal ataque está direcionado ao logo preparado por duas empresas (uma alemã e outra inglesa) para o torneio.

Segundo ele, três rostos sorridentes, cores da bandeira alemã, a taça da Copa e mais o nome da Fifa são elementos demais em um mesmo desenho.
"É a típica coisa para atender aos patrocinadores. Vira um amontoado. Além disso, aquilo não tem nada a ver com o povo. Não usamos essas cores, não temos esses sorrisos. São outras as nossas tradições."

Ele crê que o emblema de um torneio como a Copa influencia muito as pessoas, pois ganha dimensão nacional. "Ele indica caminhos em metrôs, estradas, estádios. Tem uma função psicológica forte. Imagine um alemão olhando aquilo e pensando: "Onde é que essas carinhas sorridentes vão me levar?"

Ele culpa a Fifa e o comitê organizador por terem feito uma "escolha direcionada" das agências que criaram o símbolo -seu grupo não participou da disputa. E lembra outro evento esportivo no país, a Olimpíada de 1972, para dar um exemplo de design com qualidade.

"O logo é todo feito em preto-e-branco, com extrema precisão. Não temos que misturar cores nem buscar ser engraçados para conquistar quem vem de fora", disse Spiekermann.

O fracasso de vendas da mascote da Copa, um leão batizado de Goleo -a empresa que adquiriu os direitos entrou em bancarrota-, também não o surpreende. Para o designer, é uma peça criada apenas para o público de outros países.

"Trata-se de um leão, animal não-tradicional na Alemanha. E "Gol" é algo usado por espanhóis e brasileiros. "Leo" é uma abreviação latina, italiana talvez, para leão. Da nossa cultura, não há nada", explicou.

O bicho também é usado nos estádios. A cada gol, Goleo aparece na tela e dá um rugido.

"É mais um desastre", ataca o designer. "Querem empurrar a mascote de qualquer jeito ao público, criar jogadas de marketing. Isso não funciona."

Novamente, 1972 vem à tona. "Na época da Olimpíada, usaram um cão da raça dachshund como mascote, uma espécie muito popular em toda a Baviera. Foi um sucesso."

É essa valorização da Alemanha que Spiekermann queria encontrar, já que tais símbolos poderiam ajudar a resgatar o nacionalismo alemão.

"Parece que, por termos uma história recente tão ruim, por termos sido o berço de Hitler, não podemos sentir orgulho. Quem cuidou do design se preocupou em fugir de tudo o que é mais comum no país. Pode agradar a quem vem de fora, mas não faz o menor sentido para quem vive aqui", afirma.

Do outro lado, há quem discorde. Alexander Koch foi escolhido pela Fifa para cuidar de toda a programação visual da Copa. Ele diz respeitar as críticas de Spiekermann e outros designers. Mas se defende.

"Em 2004, quando o logo foi lançado, ao menos 50% das críticas que recebemos foram positivas. Como não encontram nada para falar mal no Mundial, resolveram atacar o nosso emblema", disse à Folha.

Sobre Goleo, Koch reconhece que um leão não tem identificação imediata com a Alemanha. Mesmo assim, considera a escolha acertada.

"É um animal que agrada às crianças, passa uma mensagem de carinho e força ao mesmo tempo. Foi ótimo colocar um clipe com ele nos estádios. A cada gol, o público vai vibrar e aprender a gostar da mascote."

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