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05/07/2006 - 10h31

Cidade alemã que recebeu a seleção diz que time mereceu a eliminação

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FÁBIO VICTOR
RICARDO PERRONE
da Folha de S.Paulo, em Königstein

Nassim Popal está revoltado, não pára de falar. Dono de um restaurante francês na Limburger Strasse, a rua onde se concentra o lazer de Königstein, chama os repórteres ao primeiro andar da casa. Mostra um telão novo em folha e pragueja. "Vêem? Gastei 2.500 [R$ 7.000 nele] certo de que isso aqui lotaria por causa do Brasil. Não veio ninguém. E tudo pelo jeito com que nos trataram."

A ira do comerciante é hoje um sentimento generalizado na cidade que abrigou a seleção brasileira por duas semanas antes e logo no início do Mundial. Königstein foi onde o time passou mais tempo na Alemanha. Era de se imaginar que seus moradores estivessem tristes com a eliminação dos pentacampeões. Mas, ao contrário, eles soltaram foguetes.

"Eu e quase todos daqui estamos contentes porque o Brasil perdeu. Eles mereceram, foram arrogantes, não deram atenção para quem os recebeu com tanto carinho", reclama Petra Lauterwald, dona de uma banca de revistas a 200 metros do hotel em que se hospedou a equipe dirigida por Carlos Alberto Parreira.

Durante o período, o filho dela, Sebastian, de 10 anos, não conseguiu ver um único jogador brasileiro nem teve chance de pegar um autógrafo que fosse. Segundo os moradores, milhares de fãs tiveram a mesma frustração, porque a equipe ficou isolada num resort e todos os treinos que fizeram em Königstein foram fechados ao público. "O que custava ter organizado num dia uma sessão de autógrafos?", questiona Petra.

"Tanta falta de atenção para jogar o futebolzinho que jogaram, sem coração, sem brigar. A apatia do time só fez aumentar o sentimento de desforra que tivemos quando a França ganhou. Fiquei muito, muito feliz", declara Popal.

A garçonete Agapi Tsingirdakli, que trabalha no bar Bahia, lembra da reação dos clientes no sábado passado. "As mesas estavam lotadas, e todos festejaram a derrota do Brasil. Gritavam que o time havia sido arrogante com a cidade e que tinha jogado sem fome, achando que ainda era o melhor do mundo", conta ela.

A população local também se queixa de que jogadores da seleção de Parreira foram jantar em Bad Homburg, uma cidade vizinha, ou dançar em boates de Frankfurt, a 25 km de distância dali, em vez de prestigiar a anfitriã Königstein.

Os mais exaltados propagam como certeza histórias de que quase diariamente um carro com prostitutas chegava ao hotel da seleção, o que, obviamente, a direção do estabelecimento se recusa a comentar.
Embora sejam evidente minoria, há aqueles que isentam a seleção de culpa pela decepcionante passagem pela cidade.

Caso de Thomas Schwenk, dono de uma papelaria que também vende roupas. "Concordo que eles ficaram muito reclusos, mas seria ingênuo imaginar que os teríamos desfilando por aí. Eles vieram trabalhar. É verdade que, quando vi o Ronaldo se arrastando em campo, pensei: que tipo de trabalho fizeram?", diverte-se ele.

Schwenk avalia que a culpa maior foi da empresa contratada pela Prefeitura de Königstein para organizar um festival durante o período. "Tinha tudo para ser o nosso grande acontecimento em anos, mas a agência fez um péssimo trabalho. A praça onde acontecia tudo ficou vazia e deprimente, parecia a baía de Guantánamo", compara o comerciante alemão.

Ele próprio encomendou 400 camisas e agasalhos com as cores do Brasil e o nome da cidade. Vendeu no máximo 40. O resto ficou lá, encalhado.
Já Nassim Popal, o do restaurante francês, diz ter tido um prejuízo equivalente a R$ 50 mil no período. "Preparamos comidas e bebidas especiais do Brasil, emprestei minha cozinha para uma brasileira fazer feijoada, tudo foi bem planejado. Além da má educação da seleção, nos prejudicou o fato de a prefeitura ter bloqueado as entradas da cidade. Foi um fiasco completo."

Comerciantes de Königstein calculam ter sofrido uma queda de 50% nas receitas durante a passagem da equipe brasileira, entre 4 e 17 de junho. Eram aguardadas 10 mil pessoas por dia no período e, segundo estimativa de lojistas, o número não chegou a mil.

O bureau de turismo da cidade disse ainda não ter dados oficiais. A prefeitura, que investiu o equivalente a R$ 1,5 milhão para receber a seleção, estava fechada ontem à tarde.

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