Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
30/12/2000 - 08h52

Comentário: Por que torcer para o Vasco

Publicidade

HELDER BERTAZZI
da Folha Online

É sempre a mesma história. O time mais fraco tem a preferência nacional dos torcedores. Na final da Copa JH, entre Vasco e São Caetano, não será diferente: o 'azulão' leva enorme vantagem, ao menos nos corações de todos os não-vascaínos.

É fácil entender o porquê. Nem é preciso se alongar. Optamos sempre contra o mais forte e ponto. Mas como toda regra tem sua exceção, nessa final vai ser difícil vibrar, torcer, ficar tenso, nervoso pelo mais fraco. E razões para isso não faltam.

Empolgados com o 'azulão', alguns comentaristas chegaram a comparar o time do ABC com o Santos de Pelé e Coutinho. O próprio Jair Picerni disse que se baseia no Santos da década de 60 para montar taticamente o São Caetano.

Mas o São Caetano não é um bom time? É claro que sim. Tem seus méritos e bons jogadores, assim como o Malutrom (quem?) e o Paraná, que não tirou o Vasco porque lhe faltou um gol (talvez tenha faltado um pênalti inexistente, que sobrou ao São Caetano).

Mas, afinal, por que torcer contra o São Caetano? Imaginemos a seguinte cena: final de luta de peso-pesados, que está sendo decidida em 12 extenuantes assaltos. No último assalto, um dos lutadores abandona o ringue e assume seu posto um peso-médio, descansado, que lutou pouco o ano todo. E então recomeça a luta. Bingo. Aí está o São Caetano.

A cena acima é pura imaginação, já que não se troca de lutadores em uma luta e muitos menos dois lutadores se enfrentam em categorias diferentes.. Agora, diga a um forasteiro que no Brasil um time de segunda divisão chega a uma final de um outro campeonato, de uma divisão maior, no mesmo ano de disputa, e imagine qual não será seu espanto.

Os pênaltis

Quando no futebol um time menor, o chamado pequeno, é escancaradamente beneficiado pela arbitragem? Nunca... Mas com o São Caetano tem sido diferente. Muito diferente. Só para lembrar, lembram do Castrilli no jogo da Lusa (e olhem que a Lusa tem lá suas tradições)? São incontáveis as vezes que a Lusa foi prejudicada pela arbitragem. E quando foi beneficiada, foi por um erro de matemática do então juiz Armando Marques em uma final com o Santos pelo Paulista. E lá se vão mais de 25 anos.

Pois bem: Em dois jogos decisivos, o time do ABC teve a seu favor dois pênaltis inexistentes que influenciaram _e como_ o resultado. Não lembro na história do futebol um time sem tradição, pequeno, ser assim beneficiado.

Vamos aos fatos: contra o Palmeiras, no segundo e decisivo jogo, uma falta fora da área virou pênalti. Lá vai o Palmeiras em busca do resultado. Juninho é pisado na grande aérea adversária (até perdeu a chuteira)..., mas nada é marcado. Para o árbitro, o jogador simulou a falta, provavelmente 'arrancando a própria chuteira', num malabarismo inédito, que deve ter custado ao jogador do Palmeiras vários dias de ensaio em um grande circo para conseguir tal intento.

Mais? Tarde de sol em Porto Alegre. O Grêmio joga por uma vitória simples. Termina o primeiro tempo vencendo por 1 a 0, o resultado que precisava. Mas aí, em frente ao árbitro, Oscar Roberto Godói, o mesmo que três dias antes havia se esquecido de apitar o término do jogo entre Palmeiras e Vasco, dando oito minutos de desconto, e que apitará a final em São Januário (te cuida, Vasco) viu um pênalti para o São Caetano inexistente.

Coincidência? Aí dirão os milhões de torcedores emprestados de outros clubes ao 'azulão': mas o jogo foi 3 a 1, e não 1 a 1!. Esquecem que o empate mudou a partida. Lá foi o Grêmio para cima, desguarnecendo-se. Pronto, está feito. O São Caetano na final.

As regras

Em que país do mundo o título maior é definido por um clube da segunda divisão? Por favor, se isso acontece em algum lugar, avisem-me. Não vale o argumento de que o erro é da cartolagem que fez as regras. Que prevaleça o bom senso e que se discuta aqui um tanto acima do nível desses.

Partindo com a segunda

Para quê então gastar milhões com estrutura e salários milionários? É mais fácil optar -se fosse possível (e com os nossos cartolas tudo é possível)- pelo Módulo Amarelo, onde se joga com times de Tocantins, Rio Branco, Amapá etc... e depois pegar na final um Vasco, um Cruzeiro, um Palmeiras, que passaram pela Libertadores, as Copas do Brasil, dos Campeões e Mercosul e mais algum torneio que inventarem no meio do caminho, e pronto -chega-se à final.

Sobra, por fim, o argumento de que se torce para o São Caetano como forma de protestar, já que a Copa JH começou errada, com times da segunda divisão. Portanto, que vença um time da segundona, para desmoralizar de vez o campeonato. Mas se o time desse torcedor estivesse na final, seria essa mesma a forma de pensar?

Nada, absolutamente nada contra o São Caetano, ou Bahia ou ainda o Fluminense, mas tudo, absolutamente tudo contra um time, seja ele qual for, que chega a uma final do Brasileiro nessas condições. Hoje, sou Vasco desde criancinha. E duvido que em São Januário, na terra de Eurico, o juiz assinalará pênalti em uma falta fora da área. Ainda assim, te cuida, Vasco!!!

E-mail: bertazzi@folhasp.com.br
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página