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24/07/2001 - 22h41

Sem perspectiva, futebol brasileiro enfrenta sua maior crise

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dos enviados a Cali, pela Folha de S.Paulo

Água no pescoço, lama na canela, fundo do poço, fim do túnel. Todas as metáforas utilizadas recentemente para descrever a situação do futebol brasileiro parecem insuficientes quando se constata que existem poucas perspectivas de reversão do quadro nos próximos meses.

Em meio ao caos, vive-se, também, a era da incerteza, com a seleção brasileira em franca decadência, com os clubes repletos de dívidas, com o Campeonato Brasileiro ameaçado de não ocorrer e com uma série de escândalos investigados pelo Congresso.

Nos próximos quatro meses, quando a seleção brasileira jogará sua história, já que nunca esteve fora de uma Copa do Mundo, o futebol do país deverá continuar o mesmo: investigado por uma CPI, assistindo à fuga de investidores, encurralado pela TV e sem um calendário racional.

A vexatória derrota da seleção para Honduras por 2 a 0, ontem, que eliminou o Brasil da Copa América, é possivelmente o maior emblema do estado terminal em que se encontra o esporte mais popular do país, mas está longe de ser o único.

Depois da partida, o técnico Luiz Felipe Scolari deu um recado claro à torcida: não adianta esperar mudanças para o jogo de 15 de agosto contra o Paraguai, crucial para as pretensões do Brasil nas eliminatórias da Copa-2002, pois o esquema tático adotado na Colômbia será mantido, e a maioria dos jogadores, também.

"Não adianta ficar pensando em trocar oito ou dez. Uns 80% ou 90% desse grupo vão jogar contra o Paraguai. Se o esquema [tático 3-5-2] não foi correto, foi a minha escolha. Se não deu certo, a responsabilidade foi minha de ter escolhido de uma forma diferente, mas não tão diferente, porque é assim que vamos jogar contra o Paraguai", declarou Scolari.

Caso mantenha o péssimo desempenho que vem apresentando nas eliminatórias, o Brasil, que está em quarto lugar no qualificatório, pode se complicar ainda mais.

Na Copa América, em que seu time perdeu de Honduras e México e bateu Peru e Paraguai, Scolari se cansou de repetir que achava 0 a 0 um bom resultado.

Mas um empate sem gols com os paraguaios nas eliminatórias poderá, aliado a vitórias dos concorrentes pela vaga, tirar pela primeira vez o Brasil da zona de classificação ao Mundial.

O mais preocupante é que quando o foco é desviado da seleção, a escuridão é a mesma. A uma semana da data marcada para a abertura do Campeonato Brasileiro, 1º de agosto, não há garantia de que a maior competição do país vá acontecer.

Como já ocorrera no ano passado, uma batalha jurídica ameaça a realização do torneio. O Remo obteve uma liminar para disputar a primeira divisão, e a CBF tenta derrubá-la para poder organizar, como planejou, o Brasileiro com 28 clubes, sem a equipe paraense.

No ano passado, o Nacional, batizado de Copa João Havelange, foi realizado às pressas pelo Clube dos 13, já que a CBF ficou impossibilitada de promovê-lo após seguidas derrotas nos tribunais para o Gama, do Distrito Federal.

As CPIs criadas para investigar o futebol no Congresso _a da Câmara já encerrada, e a do Senado ainda em curso_ revelaram nos subterrâneos do esporte suspeitas de irregularidades passíveis de punição com cadeia, como lavagem de dinheiro, evasão de divisas e enriquecimento ilícito, mas até agora ninguém foi punido nem há perspectivas de que isso aconteça.

Nesse sentido, o novo vexame da seleção brasileira deverá ter pelo menos um efeito prático. Na próxima semana o Congresso Nacional voltará ao trabalho, após período de recesso, e a humilhante eliminação do Brasil da Copa América deverá potencializar a nova ofensiva que a CPI do Futebol (Senado) já havia preparado contra a CBF e o seu presidente, Ricardo Teixeira, e os principais dirigentes do país.

Teixeira, cujo indiciamento foi pedido ao Ministério Público pelo deputado Sílvio Torres (PSDB-SP), divide nos últimos meses suas angústias entre os vexames da seleção e as investigações das comissões do Congresso.

Scolari repetiu que não estava preocupado com avaliações da opinião pública e deixou seu futuro nas mãos do dirigente. "Quem tem que ter desconfiança do meu trabalho é o presidente. Perder num jogo de futebol para Honduras, quando o adversário foi melhor, não é vergonha. Quando for alguma coisa, no futuro, que não agrade a direção da CBF, ela vai tomar a decisão que sempre tomou", disse.

Nos 11 anos da gestão Teixeira, a seleção já teve oito técnicos. Em menos de três anos, já houve duas trocas _Luxemburgo por Leão e este por Luiz Felipe.

Durante o seu período na presidência, Teixeira assinou os mais rentáveis contratos da história da CBF e viu o Brasil ser campeão mundial em 1994 e vice em 1998. Mas, agora, vive também os maiores vexames da seleção.
 

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