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12/05/2002 - 02h49

"Se quisesse prestígio, convocaria mais do Rio", diz técnico

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FÁBIO VICTOR
FERNANDO MELLO
JOSÉ ALBERTO BOMBIG

da reportagem e do Painel FC da Folha de S.Paulo


Folha - Quais as consequências de a seleção ter, de certa maneira, saído do eixo-Rio-São Paulo?

Scolari -O eixo Rio-São Paulo sempre dominou a seleção. Agora quem está na seleção é um gaúcho. As possibilidades de notícia, de tititi, de ouvir uma conversa entre amigos, é muito maior lá no Sul do que aqui, em São Paulo ou no Rio. Então os caras já "rãrã" [faz careta]. Perderam a notícia quente. Às vezes a notícia chega de segunda mão, então os caras acham que não pode ser assim.

Folha - Mas acha que há animosidade com o fato de ser gaúcho?


Scolari -Não, com o público não. Ando na rua... andava na rua, em algumas convocações anteriores a essa última, eu corria lá na beira da praia [no Rio], os caras passavam: 'Ei, Felipão, chama o fulano aí'. Normal, normal.

Folha - Você descentralizou a convocação. Sua seleção é a mais distribuída nacionalmente dos últimos anos, a menos concentrada no eixo Rio-SP. Sua origem tem a ver com isso?

Scolari - Posso ver de dois lados. Tem a ver com o fato de eu vir do interior. Mas, ao mesmo tempo, se os melhores estivessem no Rio, eu ia ter que convocar. Na minha opinião, os que eu convoquei são os melhores. E, por alguma razão, não estão no Rio ou na sua maioria não estão em São Paulo. Peguei os que achei que me dariam condições de fazer um bom trabalho. Mas, se tivesse preocupado em ganhar prestígio nacional com a convocação, teria chamado mais dois, três, quatro do Rio.

Folha - Mas, se você tivesse trabalhado no futebol carioca, o único dos grandes centros em que não trabalhou, a convocação poderia ter sido diferente?

Scolari - Talvez eu tivesse mudado, observado mais. É natural. Trabalhei em Minas, então observo o Cruzeiro, o Atlético, o América, com outros olhos, diferente.

Folha - O assédio do público te incomoda ou te alegra?

Scolari - Me alegra, naturalmente. Tu trabalhas para ter uma situação de conhecimento público, para as pessoas te reconhecerem, te valorizarem, te parabenizarem por isso ou aquilo. Claro que dentro desse contexto tem aqueles que não concordam. Assim como tu abanas e agradece aquele que te elogia, tu também tens que tratar bem aquele que não concorda contigo.

Eu lido bem, mas, quando eu posso, evito ir a alguns lugares, me abstenho de algumas coisas, até para evitar certas dificuldades para mim, ou mesmo para ficar um pouco mais longe.
Minha família poucos conhecem. Pouco andam comigo e eles não falam [>com os jornalistas].

Folha - Sua família vai assistir a algum jogo da Copa lá na Ásia?

Scolari -Não, nada.

Folha - Nem numa final?

Scolari -Se for à final, pode ser que o Leonardo [o primogênito] vá, mas a Olga [a mulher>], não, nem o Fabrício [o outro filho]. Pelo menos é o que vou tentar ver, se isso é o normal. Nem o Leonardo quer ir. A Olga disse que ia, mas conheço bem. Ela vai ficar em casa cuidando das crianças.

Folha - Você é muito caseiro?

Scolari -Na medida do possível. Até porque sair na rua é um parto. Saio com a família e não posso ficar junto, porque o pessoal pede autógrafo, fotos. E o meu menino mais novo fica puto da cara: 'Quero ficar com meu pai'.

Folha - Você chamou Ronaldinho, Kaká e Juninho como meia-atacantes e Rivaldo como atacante. Não há meia de armação no time?

Scolari - Meias de armação são o Vampeta e o Kleberson. Eles não são volantes. Volantes são o Emerson e o Gilberto Silva. Quem é o volante no Corinthians? O Fabrício. O Vampeta faz segunda função, que é a de armador. Foi ele quem armou a jogada para o primeiro gol do Corinthians contra o Brasiliense. Na minha opção, o Alex seria meia-atacante, tanto quanto o Ronaldinho, assim como o Djalminha e o Ricardinho [do Corinthians].

Folha - Então, para ter um armador na seleção, o Vampeta ou o Kleberson serão titulares?

Scolari - Se for o caso de jogar com um meia armador... Só que, na minha seleção, eu não quero um armador só, mas alguém que saiba também marcar, passar bem a bola. Se vocês examinarem os jogos do Kleberson, verão que ele é quem arma as jogadas.

Folha - Você poderia recuar o Emerson para a zaga?

Scolari - O Emerson não. Só em caso de emergência. Uma expulsão, fim de jogo, aí tu inventas qualquer coisa.

Folha - A classificação mais correta para o sistema de jogo do Brasil não seria 3-4-1-2?

Scolari - É, é mais correto. O Ronaldinho é quem faz a função de ligação, de atacante e de organizador. Então o "um" [jogador de ligação entre o meio-campo e o ataque] é o Ronaldinho. Isso não quer dizer que o Ronaldinho seja o único naquela posição. Ele pode fazer dupla com o Ronaldo, e o Rivaldo seria o "um".

Folha - Porque o "um" do Zagallo era o Rivaldo...

Scolari - Era, mas ele era um "um" fixo, ficava sempre aqui. Podia ir, mas voltava como nenhum dos dois [Ronaldo ou Bebeto] voltava para fazer essa posição. Quando o Rivaldo passava, ele depois voltava para marcar ali, fazer o "um" de novo. Agora, não. Se o Ronaldo passar e ficar, o Rivaldo faz a posição dele.

Folha - Você disse que o 3-5-2 é por causa do Cafu, mas ele declarou que se adapta sem problemas ao 4-4-2, é só o técnico pedir...

Scolari - Ótimo, isso aí revela que ele tem vontade de ajudar. Mas a mim cabe analisar as qualidades técnicas do atleta, se ele consegue fazer isso. É preciso observar nos treinamentos se ele vai conseguir, em 15 dias, voltar a jogar do outro jeito, se vai conseguir marcar.

Folha - Há muitas críticas sobre o Cafu, inclusive a de que ele não sabe cruzar, que um levantamento da Folha mostrou não ser verdadeiro. Sabendo disso e da disposição do Cafu, dá para mudar e até começar algum jogo na Copa com o 4-4-2, e não apenas como uma variação?

Scolari - Se eu sentir, nos dias que eu tenho aí, 17 dias para trabalhar, que eu tenho confiança, tudo bem. Só que, até agora, não tenho essa confiança definida, não. Até porque eu nem tive possibilidade de treinamento. Eu vou treinar as alternativas, mas com o que eu convivi até agora em termos de seleção, principalmente do lado direito, não me estimula a fazer essa troca.

Folha - Se o Rogério for o titular, ele poderá bater faltas?

Scolari - Se nos treinamentos o aproveitamento dele superar o dos outros, bate sim.

Folha - Você se queixou do fato de o Rivaldo ter contratado um fisioterapeuta particular, mas o Ronaldo tem um. Há alguma distinção?

Scolari - Não, não, não. O Filé [Nilton Petrone, fisioterapeuta de Ronaldo] é contratado pela Inter, é pago pelo clube.

Folha - Mas o pessoal do Rivaldo argumenta que o Renato Fernandez foi pago pelo Barcelona...

Scolari - O pessoal do Rivaldo não tem nada que argumentar. É a mesma coisa que tu cometeres um crime porque o outro cometeu. Só que nem o Rivaldo nem o procurador dele falaram que, quando jogamos em Portugal, nós definimos que qualquer problema, o atleta que estava convocado deveria telefonar ao doutor Runco, ou ao Felipe ou ao Paixão.

Folha - Ele desrespeitou a hierarquia?

Scolari - Não é que desrespeitou. O atleta às vezes nem sabe o que está sendo organizado pelo procurador dele.

Folha - Quando você assumiu, o Ricardo Teixeira pediu que você transformasse a seleção num "time de bandidos". Pelo que se vê, seu time não tem nenhum "bandido". O que houve?

Scolari - Ele quis dar uma conotação de um time malandro, experiente, aguerrido, um time com alguma bagagem, para não sofrer certas coisas e certos gols que sofremos em outras oportunidades. E isso aí a gente está tentando fazer.

Folha - Se a seleção ganhar, onde desembarca primeiro no Brasil?

Scolari - Vamos fazer primeiro mais ou menos o que é o oficial, Brasília. Não sei onde vai parar. Porque eu já disse para vocês: o presidente determinou, eu vou cumprir. Para mim... Eu sei para onde eu vou depois de ganhar a Copa, já tenho o meu itinerário. Terminaram as obrigações com a CBF: 'Ó, Felipão, aqui termina'. Então tá bom.

Folha - Até quando vai o seu contrato?

Scolari - Até o último dia da Copa do Mundo.

Folha - E o sexo, ou a falta dele, na concentração? Você poderia explicar a sua declaração de que quem não consegue passar 50 dias sem sexo não é humano, é bicho?

Scolari - Acho isso mesmo. Quem não consegue se controlar por um tempo é um animal. Todo mundo fica espantado com essa postura, mas só pensam nos jogadores. Ninguém fala nas mulheres deles, que vão ficar aqui 50 dias sem sexo. Então elas podem se abster, e eles não? Eu queria ver qual seria o comportamento se as mulheres dos jogadores dissessem que não aguentariam ficar tanto tempo sem sexo. São dois pesos e duas medidas.
 

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