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14/12/2003 - 09h16

Luxemburgo deixa de lado a seleção e quer a Europa

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JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
da Folha de S.Paulo

A seleção deixou de ser a obsessão da vida de Wanderley Luxemburgo. Agora é com a Europa que ele sonha.

O técnico, 51, que diz ter realizado trabalho com muito profissionalismo e humildade no Cruzeiro, quer comandar times da elite do futebol europeu.

Em entrevista à Folha, por telefone, fez propostas para o Brasileiro de pontos corridos, lembrou sua passagem pela seleção e comentou a volta por cima com o título do Cruzeiro.

Folha - Antes de o Brasileiro começar, você chegou a tecer algumas críticas ao campeonato de pontos corridos. Qual sua avaliação agora que ele termina com o Cruzeiro campeão?

Wanderley Luxemburgo - Foi muito bom, e acho que a tendência é melhorar ainda mais. Se eu lamentei alguma coisa, foi em relação ao número de participantes. Vinte e quatro equipes é demais. O número ideal é 18, sendo quatro rebaixados para a segunda [divisão]. Os outros times iam brigar por vagas na Libertadores e na Sul-Americana, e os do pelotão da frente, pelo título. O que iria acontecer? Todos ficariam ainda mais motivados.

Folha - Você foi campeão fora do eixo Rio-São Paulo, parou de ser tanto o alvo dos holofotes, mas agora, com o título, voltou à cena. Qual a sensação?

Luxemburgo - Quando você fala em eixo Rio-São Paulo, esquece que Cruzeiro, Atlético-MG, Inter, Grêmio e o próprio Atlético-PR são times de ponta que podem ganhar o Brasileiro com um bom planejamento. Essa coisa de o futebol brasileiro ser Rio e São Paulo é relativa. Eu vim a Minas não para ter sossego, mas para trabalhar com profissionalismo, sabendo da estrutura do Cruzeiro.

Folha - E como você viu a torcida gritando ""ei, ei, ei, Wanderley é nosso rei"? Porque você passou por problemas, condenação [pela Justiça Federal do Rio a cinco anos e três meses de prisão, em regime semi-aberto, por sonegação fiscal], processo de falsidade ideológica. O brasileiro tem memória curta? Há três anos era todo mundo xingando.

Luxemburgo - Não me incomoda ser xingado e não me deixa muito envaidecido ouvir a torcida gritando meu nome. Faz parte do futebol. Se perde, você é uma bosta, se ganha, é o melhor do mundo.

Folha - Você se arrepende de alguma coisa que fez na seleção?

Luxemburgo - Não. E faria tudo igual ao que fiz. Aqueles episódios aconteceram porque faziam parte da vida. Hoje adquiri mais experiência, agradeço a Deus por ter deixado eu sair da origem humilde que tinha, chegar aonde cheguei, ter acontecido tudo aquilo lá e eu ter continuado meu trabalho, humilde, conseguindo os resultados.

Eu sempre falei que não era nada daquilo que as pessoas falavam, não perdi meus direitos como cidadão brasileiro. Discuti meus problemas como cidadão, não podia pagar mais para a Receita só porque eu era o técnico da seleção. Tinha que pagar o justo, tanto que entrei no Refis [2, programa que permite a empresas e pessoas físicas parcelarem dívidas com o governo em até 180 meses].

Acho que todo mundo deveria fazer uma reflexão, a imprensa inclusive, para ver se estava certo, se não estava certo, porque eu paguei por uma coisa que não fiz. Só que entendo que aquilo fazia parte da vida. Meu trabalho na seleção foi muito bom, segundo nas eliminatórias, campeão da Copa América, do Pré-Olímpico.

Na Olimpíada só não fomos bem porque vieram todas aquelas coisas que não tinham nada a ver com futebol. Fiz uma ampla renovação, e 19 jogadores meus disputaram o Mundial.

Folha - E o que você quer do futuro? Pensa em 2006, depois da Copa, em assumir a seleção?

Luxemburgo - Não trato mais a seleção brasileira como objetivo de vida. Antes eu era obcecado com a seleção, hoje sou parceiro do Parreira, como fui do Felipão. Se acontecer, aconteceu, mas hoje meu objetivo maior é abrir mercado para o técnico brasileiro na Europa. Temos competência para dirigir times europeus de ponta.

Folha - E por que não dirigem?

Luxemburgo - Porque, quando você vai para fora, não trabalha em time de primeira. Aqui, eu dirijo Corinthians, Palmeiras, Cruzeiro, lá não. Oferecem times médios, e aí não dá. Em vez de abrir mercado, você se afunda.

Tenho conversado com brasileiros que atuam na Europa, tenho amigos, tenho gostado do trabalho do Felipão [na seleção de Portugal], mas só vamos emplacar se pegarmos times de ponta.

Quero o Real ou o Barcelona, da Espanha, o Milan, a Inter, a Juventus, da Itália, se for para a Inglaterra, o Manchester. Aí seu trabalho aparece, e o Brasil ganha o mercado que merece.

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