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31/08/2004 - 08h45

Raiz nipônica ainda impulsiona o judô brasileiro

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EDUARDO OHATA
FERNANDO ITOKAZU

da Folha de S.Paulo

Os ideogramas "ju" (suave) e "do" (caminho), além de nomearem a única modalidade na qual o Brasil sempre conquista medalha desde os Jogos de Los Angeles-84, servem também para explicar o sucesso do país nos tatames.

Influenciado pelos efeitos da imigração japonesa, o judô brasileiro nasceu e se desenvolveu tendo como modelo a técnica oriental em contraponto ao estilo baseado na força dos europeus.

A habilidade nipônica, que dominou o pódio de Atenas (conquistou oito dos 14 ouros e mais duas pratas), é citada por atletas, treinadores, dirigentes e historiadores como um dos fatores do sucesso dos judocas nacionais.

"Há o lado histórico. Em razão da imigração japonesa, conseguimos nos formar calcados em uma qualidade técnica muito apurada", afirma o coordenador técnico da CBJ (Confederação Brasileira de Judô), Ney Wilson.

"O europeu busca ganhar na força, pegar na perna. O judô brasileiro, que é mais parecido com o japonês, usa mais a técnica", analisa Leonardo Eduardo, campeão mundial júnior, cuja iniciação foi feita por um professor japonês.

Outro discípulo da escola oriental trouxe um bronze de Atenas. "Foi o estilo que me ensinaram, que meus mestres disseram que era o mais certo, que é mais natural para mim e que acho ser o mais eficiente, embora respeite o europeu", diz Leandro Guilheiro.

No início, a prática estava restrita à comunidade, em academias que eram comandadas por "sensei" (professor em japonês).

"No início, os japoneses boicotavam mesmo a participação dos não-orientais. Foi somente na década de 40 que os ocidentais passaram a praticar mais", declara Stanley Virgílio, pesquisador e autor de sete livros sobre judô.

Ele aponta que a influência européia começa a ser sentida no país, mas que o judô nacional ainda é o que mais lembra o japonês.

A abertura aconteceu em academias como a de Massao Shinohara, que começou a dar aula perto de sua casa porque conhecidos japoneses haviam pedido. O judô não era a fonte de renda principal.

Um dos alunos de Shinohara foi o maior judoca brasileiro da história, Aurélio Miguel, que conquistou o ouro em Barcelona-1992 e o bronze em Atlanta-1996.

O sucesso desta geração despertou o interesse dos clubes, que passaram a investir no esporte.

As opções se ampliaram, algumas escolas passaram a incluir o judô em seu currículo, e os descendentes de japoneses passaram a ter novos colegas nos tatames.

"Hoje em dia 70% dos alunos são ocidentais e 30%, orientais", calcula o professor Shinohara.

"A maioria, atualmente, é mesmo de não-descendentes de japoneses", concorda Mario Tsutsui, ex-membro da seleção brasileira e coordenador de judô do São Caetano, clube de vários atletas da equipe olímpica, como Carlos Honorato e Edinanci Silva. "Por causa do sucesso dos últimos anos, todo mundo já ficou mais familiarizado com o esporte."

Da seleção que competiu na Grécia, apenas 3 dos 12 integrantes têm ascendência japonesa.

Além da ampliação do leque de opções, outro fator que permitiu a popularização foi a filosofia. "O judô deixa o aluno mais disciplinado. E isso é um chamariz para os pais", aponta Mario Tsutsui.

De acordo com a CBJ, em todos os 27 Estados do país há praticantes registrados. "Da quantidade acabamos tirando a qualidade", afirma Wilson. "A renovação acaba sendo constante."

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