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02/09/2004 - 09h10

Ministro do Esporte protagonizou uma patriotada arcaica no caso Vanderlei

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DEMÉTRIO MAGNOLI
Especial para a Folha de S.Paulo

"Não sei se venceria." O maratonista brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lima, que foi atropelado por um fanático religioso quando liderava a prova que fechou a Olimpíada de Atenas, não só conseguiu completar o percurso na terceira posição mas também revelou um equilíbrio que parece faltar ao ministro do Esporte, Agnelo Queiroz.

Enquanto o esportista recusava-se a formular um prognóstico impossível, o ministro emitia nota criticando o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e solicitando ao Comitê Olímpico Brasileiro "providências firmes" sobre o incidente. Não satisfeito, também pediu o "empenho" do Itamaraty para "reforçar as ações brasileiras junto ao governo grego e a entidades internacionais envolvidas na questão".

Logo após o encerramento da maratona, o comitê presidido por Carlos Arthur Nuzman formulou um recurso que demanda a concessão de uma medalha de ouro a Vanderlei Cordeiro de Lima.

O destino do recurso é a Corte de Arbitragem do Esporte, sediada em Lausanne, na Suíça. Esse tribunal nada tem a ver com os governos nacionais. O Comitê Olímpico Internacional, os comitês olímpicos nacionais e o Comitê Organizador dos Jogos de Atenas também não têm relação com Estados ou governos.

O ministro Agnelo evidencia espantosa desinformação quando menciona supostas "ações brasileiras junto ao governo grego".

Já o chamado ao Ministério das Relações Exteriores deve ser qualificado como uma patriotada arcaica, felizmente mais ridícula que perigosa.

Durante duas semanas, comentaristas esportivos repetiram incansavelmente o lugar-comum que descreve os Jogos Olímpicos como um "congraçamento entre os povos".

As Olimpíadas da Era Moderna são, na verdade, uma representação simbólica da guerra. Os atletas, enquanto esportistas, se confraternizam com seus adversários, mas os Estados encaram o evento como palco de afirmação do prestígio nacional, e as potências dedicam-se com afinco a galgar posições no teatro de combate do quadro de medalhas.

Contudo, de modo geral, as autoridades de governo evitam politizar formal e explicitamente o espetáculo olímpico.

O ministro Agnelo produziu uma constrangedora exceção, envolvendo o governo brasileiro em assuntos que concernem exclusivamente aos órgãos esportivos.

Com um olho nos holofotes da mídia e outro no calendário eleitoral, descobriu um atalho para um palco reservado a outros heróis.
Por sorte, ele não está em posição de declarar guerra aos atenienses.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre Vanderlei Cordeiro de Lima
  • Leia o que já foi publicado sobre Agnelo Queiroz
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