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14/09/2004 - 09h17

"Anjo" de Vanderlei Cordeiro de Lima pede apenas um aperto de mão

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GUILHERME ROSEGUINI
da Folha de S.Paulo

Esparramado no sofá de sua casa, Polyvios Kossivas gostou do estilo daquele desconhecido corredor brasileiro que liderava a maratona nos Jogos de Atenas.

Decidiu então desligar a TV e acompanhar a prova in loco. Chamou mulher e filha, deixou sua casa de número 26 na rua Papaflessa e seguiu para uma avenida na qual os atletas iriam passar.

R.Sprich/Reuters
Polyvios Kossivas (à dir.)
ajuda o brasileiro



Nem imaginava que, naquela abafada tarde do dia 29 de agosto, se tornaria uma figura central para a definição do resultado.

"Quando vi o Vanderlei [Cordeiro de Lima] chegando perto de onde a gente estava, notei que a multidão começou a olhar para o outro lado da rua. Era o irlandês que aparecera como um raio para derrubar o atleta no chão", recorda Kossivas, na entrevista que concedeu à Folha de S.Paulo.

Foi naquele exato momento que ele se distinguiu dos outros espectadores. Vestido com camiseta azul, bermuda e mocassim, pulou a faixa que separava a torcida da pista, alcançou e empurrou o ex-padre Cornelius Horan e impediu que o brasileiro perdesse ainda mais tempo com o imprevisto.

Tudo sem pestanejar. "Reagi imediatamente, sem calcular os riscos. Eu afastei o intruso e vi o Vanderlei caído como um pássaro ferido. Comecei a gritar 'vai, vai' para incentivá-lo", relata.

As câmeras de TV registraram a cena. Depois, seguiram na captura de Vanderlei. O atleta retornou à corrida abatido, acabou ultrapassado por dois adversários e completou os 42.195 metros do percurso na terceira posição.

Kossivas, contudo, permaneceu no local do ataque. E viu o ex-padre ser castigado pelo público. "A multidão batia nele e gritava 'o que você fez?'. Só depois foi algemado e tirado de lá pela polícia."

Passado o susto, o circunspecto senhor voltou com a mulher Julia e a filha Smaragda para sua residência. Ligou novamente a televisão para assistir à chegada. Ficou emocionado. À noite, durante a cerimônia de premiação, chorou ao ver Vanderlei no terceiro degrau do pódio. "Para mim, ele é o vencedor da maratona."

No dia seguinte, colocou uma idéia fixa na cabeça: iria cumprimentar o maratonista. Queria uma aperto de mão, nada mais.

Seu primeiro reflexo foi ligar para a Embaixada do Brasil na Grécia. "Eles me disseram que toda a delegação já havia deixado o país e que os cumprimentos seriam transferidos para os dirigentes do esporte no Brasil", explica.

Mal sabia ele que Vanderlei ainda estava em Atenas. Mais: segundo seu treinador, Ricardo D'Angelo, foi justamente no dia subseqüente à prova que o atleta assistiu ao vídeo da corrida e ficou impressionado com a atitude do senhor de barba e cabelos brancos.

"Comentamos ao ver a fita que o cara teve uma presença de espírito muito grande. Nós queríamos encontrá-lo para dizer obrigado. Por tudo o que ele fez por nós, começamos a chamá-lo pelo apelido de Zeus", recorda o técnico.

Depois de retornar de Atenas e cumprir compromissos no Rio, em São Paulo e em Brasília, Vanderlei rumou para Maringá, no Paraná, onde vive com a família.

Mas seu caso segue indefinido. Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, pretendia dar início entre ontem e hoje na Corte Arbitral do Esporte (Suíça) aos procedimentos para tentar dar o ouro para o atleta.

Por hora, o maratonista pede isolamento. Quer pescar em paz. E segue sem conhecer a história do anônimo que deu novo rumo ao dia mais maluco de sua vida.

Polyvios Kossivas nasceu em Atenas, tem 53 anos e é ligado ao esporte desde a infância. Entre 1964 e 1975, foi jogador de basquete na equipe do Sporting.

Detalhe: é a mesma agremiação que Gerasime Bozikis, hoje presidente da Confederação Brasileira de Basquete, defendeu na juventude --ele também nasceu na Grécia e depois veio ao Brasil. "Lembro-me do nome Bozikis, mas nunca atuamos juntos, porque ele é mais velho. Só muitos anos depois descobri que se tornou dirigente em outro país."

Em 1976, Kossivas trocou de uniforme nas quadras e passou a atuar como árbitro, função que exerceu por dez anos. Hoje, longe do basquete, trabalha como vendedor. Seu maior desejo?

"Ainda quero muito encontrar o Vanderlei pessoalmente. Queria apertar sua mão e dizer que, depois de tê-lo ajudado, uma parte de mim também correu com ele."

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