16/07/2001
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10h08
Vídeo: "Rap do Pequeno Príncipe" se perde na dispersão
JOSÉ GERALDO COUTO colunista da Folha
As trajetórias paralelas de dois jovens saídos de um subúrbio miserável -um "justiceiro" e um músico de rap- formam o ponto de partida de "O Rap do Pequeno Príncipe contra as Almas Sebosas".
O local é Camaragibe, cidade-satélite do Recife. Aos 21 anos, Hélio dos Anjos, o "Pequeno Príncipe" do título, é acusado do assassinato de 65 marginais ("almas sebosas", na gíria da periferia). Aos 26, Alexandre Garnizé toca bateria na banda Faces do Subúrbio e desenvolve projetos sociais com crianças pobres.
O filme de Paulo Caldas e Marcelo Luna poderia ser um documentário memorável se se concentrasse na relação entre essas duas formas opostas de expressão dos excluídos: a violência e a arte.
Os primeiros minutos anunciam justamente isso. Imagens de Recife à noite, seguidas de uma nervosa câmera na mão que percorre ruelas e becos de uma favela, alternam-se com depoimentos em "off" dos protagonistas, sobrepostas a planos fixos dos dois.
Está tudo ali: a tensão, a opressão e o medo que reinam naquele mundo, bem como diferentes maneiras de reagir contra isso.
O problema é que, aparentemente fascinados demais pelo universo que abordam, os dois cineastas deixam-se dominar por ele, ao invés de dominá-lo.
O filme se perde então na dispersão e na falta de objetividade, tornando-se um invertebrado inventário de imagens e discursos.
A certa altura, estamos na periferia de São Paulo, ouvindo depoimentos dos integrantes da banda Racionais MC. Vemos também trechos de shows e ouvimos canções inteiras do grupo.
Misturados com isso, surgem depoimentos de um delegado e de um advogado sobre os crimes do "Pequeno Príncipe" e registros de uma sessão de tatuagem nas costas de Garnizé.
A essa altura nos perguntamos: sobre o que, mesmo, é esse filme? Se a intenção era traçar um panorama do movimento hip hop no país, o resultado é limitado demais. Se a idéia era falar da vida nos guetos miseráveis, perdeu-se o pulso e o foco.
Sempre haverá quem sustente que essa heterogeneidade de ritmos, assuntos e linguagens está em sintonia com o universo caótico que se quer retratar. Pode ser. Mas o mais provável é que reflita uma certa autocomplacência e falta de projeto estético, ficando como exemplo vivo da diferença entre videoclipe e cinema.
O Rap do Pequeno Príncipe contra as Almas Sebosas Produção: Brasil, 2000 Direção: Paulo Caldas e Marcelo Luna Distribuição: Europa Filmes
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