Folha Online Ilustrada  
Crítica
01/11/2001 - 10h52

Gêmeos discutem identidade em "Carrego Comigo"

ARMANDO ANTENORE
da Folha de S.Paulo


Um documentário sobre gêmeos univitelinos é, por tabela, um documentário sobre a exceção. A frase, lógica, define somente em parte o média-metragem de Chico Teixeira que a Mostra exibe hoje à tarde.

De fato, "Carrego Comigo" aborda um fenômeno relativamente raro na natureza: o de irmãos que nascem idênticos. Poderia tratar o assunto apenas pelo viés daquilo que foge à regra. Mas não -e eis o principal mérito do filme.

O diretor aproveita o tema aparentemente restrito para discutir questões mais universais. Toma os gêmeos como hipérbole de uma inquietação que, na realidade, atinge todo mundo: o que, afinal, nos distingue uns dos outros? De que maneira nos tornamos únicos, particulares, diferentes em meio à multidão de iguais?

Não há respostas no documentário. Há, sim, uma original investigação sobre a agonia e o fascínio que tais perguntas despertam.

Participam do filme tanto irmãos famosos quanto desconhecidos -e a maioria divide, além de identidade física, a mesma profissão. Os cartunistas Paulo e Chico Caruso alternam depoimentos com as cantoras Pepê e Neném, um par de drag queens, uma dupla de cabeleireiras, outro par de cantoras (Celma e Célia), uma dupla de modelos, um par de pilotos automobilísticos, dois frades, duas jovens praticantes de nado sincronizado, dois presidiários.

Surgem, então, histórias incríveis de cumplicidade. Chico Caruso conta, por exemplo, que nasceu com as pernas enganchadas nas de Paulo. "Ele tentava sair do útero, e eu o puxava para dentro."

Pepê e Neném relatam um sonho muito parecido que tiveram simultaneamente. Os pilotos recordam que, por longo tempo, possuíam só um carro e uma carteira de motorista. "Não necessitávamos de mais. Andávamos sempre juntos."

Em certos casos, os gêmeos chegam a confundir os nomes, não conseguem precisar quem deixou primeiro o ventre materno e não se reconhecem numa fotografia antiga. "Sou eu ou é ele?"

Por um lado, declaram-se felizes com tamanhas proximidades. Imaginam-se protegidos pelo irmão-espelho. A existência do parceiro ameniza-lhes a angústia de viver. "Quando quero saber se estou velho, olho para ele."

Por outro lado, ver-se como clone de alguém traz dores profundas. "Os esforços que faço para me sentir eu mesmo não adiantam nada." E existe ainda o risco da inveja, das disputas, dos rompimentos. "Conheço as fraquezas de meu irmão. Posso feri-lo séria e brutalmente."

Talvez o ápice do documentário se dê quando os gêmeos discorrem sobre a morte. Ficam nervosos, desconcertados só de considerar a possibilidade de o espelho desaparecer. Nesse momento, justificam plenamente o título do filme, extraído do poema homônimo de Carlos Drummond de Andrade. Uma composição melancólica que diz: "Perder-te seria/ perder-me a mim próprio./ Sou um homem livre/ mas levo uma coisa".

 Serviço

Carrego Comigo
Direção: Chico Teixeira
Produção: Brasil, 2001
Quando: hoje, às 15h30, no Unibanco Arteplex




Leia notícias e programe-se para a 25ª Mostra Internacional de Cinema



   
Destaques

OSCAR 2003 Guerra coloca realização da cerimônia do prêmio em xeque; veja especial

"BIG BROTHER 3" Saiba o que acontece no dia a dia do "reality show" da Globo

TEATRO Veja a programação do 12º Festival de Teatro de Curitiba

EXPOSIÇÃO Faça um passeio virtual pela mostra da China que está em SP

"BIG BROTHER 3" Saiba o que acontece no dia a dia do "reality show" da Globo


NotíciasNoticias

17/04/2003

00h45 Ooops! bate recorde e agradece publicando e-mail de leitores

00h19 Confira o resumo das novelas desta quinta-feira

00h03 Clipe de Madonna reeditado após a guerra estréia segunda

00h02 Madonna olha para o próprio umbigo em novo CD

00h01 Folha Online estréia novo projeto gráfico


Copyright Folha de S. Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).