Folha Online Ilustrada  
Crítica
03/08/2002 - 03h04

Nelson Rodrigues recria história do Fluminense em livro

JOSÉ ROBERTO TORERO
da Folha de S.Paulo

Saiu um livro de Nelson Rodrigues, desta vez com crônicas sobre o Fluminense. Chama-se "O Profeta Tricolor".

E eu, caro leitor e caríssima leitora, vos pergunto: "Um livro de Nelson Rodrigues deve ser comentado nas páginas da Ilustrada ou nas de Esporte?". Pois eu vos respondo: "Nas da Ilustrada".

É que suas crônicas, mais do que considerações sobre o futebol, são exercícios de ficção. Para quem discorda, é só dar uma olhada no "Aurélio". Está lá: "Ficção: coisa imaginária, fantasia, invenção, criação". E é isso que são as crônicas.

Nelson Rodrigues usava os jogos de futebol como mote para suas criações literárias. Assim pariu personagens míticos como o Gravatinha, o Sobrenatural de Almeida e o Profeta. E, quando a realidade não o contentava, ele a reinventava. Foi desta forma que transformou Denilson em craque de seleção (não o atacante do Betis, mas um modesto zagueiro da década de 60), jogos feios em batalhas espartanas, times medianos em exércitos imbatíveis, o Fluminense no maior clube do Brasil, ou melhor, do mundo, ou melhor ainda, do universo.

São textos de um escritor e não de um analista. Ele não fala jamais de táticas ou esquemas. Seu tema são as paixões, as vitórias e derrotas pessoais, as tragédias, as sinas. Nelson Rodrigues mostrava algo além de como foi a partida. Mostrava sua estrutura épica, suas qualidades dramáticas. Para ele tudo era obra de um destino escrito "6.000 anos atrás" e sempre havia "lágrimas de esguicho", fossem de alegria ou tristeza. Como ele mesmo dizia: "Ai daquele que não consegue ser jamais ridículo". Não é à toa que é o nosso melhor cronista esportivo de todos os tempos.

Este livro, organizado por Nelson Rodrigues Filho, tem algumas diferenças em relação às coletâneas anteriores publicadas pela Companhia das Letras e organizadas por Ruy Castro. Sua seleção traz apenas, ou quase apenas, crônicas relativas ao Fluminense. Ou seja, aqui não estão as melhores crônicas de Nelson, mas as mais apaixonadas. Nestes textos ele usa ainda mais hipérboles, adjetivos e metáforas do que seu leitor está acostumado. Falando apenas de seu time ele é ainda mais exagerado, ainda mais barroco.

Porém, há alguns senões. A seleção de textos poderia ser mais severa e a divisão em temas ("torcida e dirigentes", "jogadores e técnicos", "títulos e personagens") acaba gerando uma leitura um tanto cansativa, pois crônicas sobre um mesmo assunto acabam ficando muito próximas. Além disso alguns pés de página com informações sobre as partidas e os campeonatos citados poderiam ser interessantes para que soubéssemos se Nelson Rodrigues errou ou não em suas previsões.

Ou talvez não. Vai ver é como ele mesmo diz: "Será que os imbecis não percebem o óbvio, isto é, que um estilista só tem deveres literários?".

O Profeta Tricolor
Autor: Nelson Rodrigues
Lançamento: Companhia das Letras
Quanto: R$ 32 (256 págs.)

   
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