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06/02/2001
-
19h34
LUIZ CAVERSAN
Colunista da Folha Online
Seria uma grande injustiça se Lucy Needham Vianna fosse lembrada apenas como "a mulher inglesa de Herbert Vianna", como vem sendo tratada pela maioria dos veículos de comunicação a vítima fatal do acidente que mantém o líder dos Paralamas do Sucesso numa cama de hospital.
Uma injustiça e uma pena.
Porque Lucy não foi apenas isso, mulher e mãe, embora cumprisse esses dois papéis com competência ímpar, alegria e dedicação.
Tive o imenso prazer de ser amigo de Lucy, nossas famílias compartilharam momentos de alegria, e eu pude desfrutar de sua conversa inteligente, seu entusiasmo, curiosidade e permanente atenção quanto à produção cultural brasileira.
Ela era antenada, antenadíssima em tudo o que de bom e novo acontecia neste país, principalmente, é claro, no campo musical.
Assim é que escrevia frequentemente sobre o tema, trabalhava com produção e era também empresária do ramo. Foi ela quem descobriu e lançou o grupo Penélopes, apenas para citar o exemplo mais recente de seu trabalho.
Ela sabia tudo sobre os movimentos musicais mais undergrounds das mais diversas partes do país; acompanhou de perto o desabrochar do mangue beat, era entusiasta de Chico Science (esse também morto precocemente) e tinha o olhar aguçado (aliás, típico dos ingleses) para a importância cultural emergente de atitudes ou manifestações musicais aparentemente anódinas.
Nisso era a inglesa mais brasileira que já conheci.
Era, sim, a mulher de Herbert, uma espécie de Yoko Ono às avessas, a estimular, colaborar, influir positivamente e a inspirar o trabalho do marido e do seu genial grupo. Era querida e respeitada pelo Barone, pelo Bi Ribeiro e pelo staff dos Paralamas.
O acidente que tirou sua vida e põe em risco a de Herbert é uma fatalidade daquelas de dar raiva. Ambos viviam um momento extremamente bonito de suas vidas: três filhos lindos (Luca, o mais velho, criança super vivaz; Hope, a "mandona" da casa, e a pequenina Phoebe), uma bela residência recém-construída junto às matas de Vargem Grande, (localidade próxima de Jacarepaguá, Rio), uma vida tranquila, honesta e honrada.
Mas Herbert Vianna não amava (e amava muito, como fazia questão de deixar claro) apenas sua mulher. Tinha a paixão pelas guitarras (possui uma adorável coleção), pelos vinhos e, infelizmente, por voar.
Filho de oficial da Aeronáutica, primeiro aprendeu a pilotar helicópteros, depois passou para o ultraleve comum e, há poucos meses, adquiriu o aparelho que o levaria de uma vida feliz e harmoniosa à perda e à tristeza profundas.
Claro que a tragédia poderia ter ocorrido num acidente de automóvel ou de outra maneira banal. Assim são as tragédias.
Mas essa ocorreu justamente numa atividade que causava grande prazer ao artista.
Por conta dessa estúpida fatalidade, justamente num momento em que o casal desfrutava merecidamente a vida, Herbert perde seu grande amor, ainda corre o risco de perder a própria vida e nós perdemos a doce e querida Lucy.
Leia mais notícias sobre Herbert Vianna
Comentário: Lucy Vianna, uma inglesa bem brasileira
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Colunista da Folha Online
Seria uma grande injustiça se Lucy Needham Vianna fosse lembrada apenas como "a mulher inglesa de Herbert Vianna", como vem sendo tratada pela maioria dos veículos de comunicação a vítima fatal do acidente que mantém o líder dos Paralamas do Sucesso numa cama de hospital.
Uma injustiça e uma pena.
Porque Lucy não foi apenas isso, mulher e mãe, embora cumprisse esses dois papéis com competência ímpar, alegria e dedicação.
Tive o imenso prazer de ser amigo de Lucy, nossas famílias compartilharam momentos de alegria, e eu pude desfrutar de sua conversa inteligente, seu entusiasmo, curiosidade e permanente atenção quanto à produção cultural brasileira.
Ela era antenada, antenadíssima em tudo o que de bom e novo acontecia neste país, principalmente, é claro, no campo musical.
Assim é que escrevia frequentemente sobre o tema, trabalhava com produção e era também empresária do ramo. Foi ela quem descobriu e lançou o grupo Penélopes, apenas para citar o exemplo mais recente de seu trabalho.
Ela sabia tudo sobre os movimentos musicais mais undergrounds das mais diversas partes do país; acompanhou de perto o desabrochar do mangue beat, era entusiasta de Chico Science (esse também morto precocemente) e tinha o olhar aguçado (aliás, típico dos ingleses) para a importância cultural emergente de atitudes ou manifestações musicais aparentemente anódinas.
Nisso era a inglesa mais brasileira que já conheci.
Era, sim, a mulher de Herbert, uma espécie de Yoko Ono às avessas, a estimular, colaborar, influir positivamente e a inspirar o trabalho do marido e do seu genial grupo. Era querida e respeitada pelo Barone, pelo Bi Ribeiro e pelo staff dos Paralamas.
O acidente que tirou sua vida e põe em risco a de Herbert é uma fatalidade daquelas de dar raiva. Ambos viviam um momento extremamente bonito de suas vidas: três filhos lindos (Luca, o mais velho, criança super vivaz; Hope, a "mandona" da casa, e a pequenina Phoebe), uma bela residência recém-construída junto às matas de Vargem Grande, (localidade próxima de Jacarepaguá, Rio), uma vida tranquila, honesta e honrada.
Mas Herbert Vianna não amava (e amava muito, como fazia questão de deixar claro) apenas sua mulher. Tinha a paixão pelas guitarras (possui uma adorável coleção), pelos vinhos e, infelizmente, por voar.
Filho de oficial da Aeronáutica, primeiro aprendeu a pilotar helicópteros, depois passou para o ultraleve comum e, há poucos meses, adquiriu o aparelho que o levaria de uma vida feliz e harmoniosa à perda e à tristeza profundas.
Claro que a tragédia poderia ter ocorrido num acidente de automóvel ou de outra maneira banal. Assim são as tragédias.
Mas essa ocorreu justamente numa atividade que causava grande prazer ao artista.
Por conta dessa estúpida fatalidade, justamente num momento em que o casal desfrutava merecidamente a vida, Herbert perde seu grande amor, ainda corre o risco de perder a própria vida e nós perdemos a doce e querida Lucy.
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