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19/02/2001 - 11h05

Autor de "Laços de Família" já prepara novo projeto

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LAURA MATTOS
da Folha, no Rio

As férias de Manoel Carlos, autor de "Laços de Família", prometem não durar muito. Depois de dar à Globo recordes de audiência com a novela e ter atingido 60 pontos no Ibope com o último capítulo, há duas semanas, o autor finca o pé no primeiro time da emissora.

Enquanto descansa, já prepara seu próximo projeto: a minissérie "A Presença de Anita", que deve ir ao ar no próximo ano. E faz planos ambiciosos para a Globo, aconselhando a emissora a adotar um esquema hollywoodiano de produção de novelas e séries.

Aos 67 anos, Manoel Carlos tem bem definido seu papel: "Não sou pago pela Globo para escrever novela. Sou pago para escrever novela que dê ibope".

Assim, aposta sempre na mesma fórmula para suas tramas ("Falar do cotidiano, de história banais até. É o que sei e gosto de fazer") e se orgulha de nunca ter decepcionado ("Todas as minhas novelas tiveram boa audiência").

Em seu apartamento no Leblon, no Rio, esse paulistano do Pari junta recortes de jornais e revistas e joga em uma caixa que chama de lixo, de onde já tirou muita novela de sucesso. Nesse cenário, que parece parte de suas tramas, ele recebeu a Folha para a seguinte entrevista:

Folha - "Laços de Família" foi o maior ibope em novela nos últimos cinco anos e ajudou a audiência média da Globo em 2000 a crescer 6%. Para o sr., o que significou?
Manoel Carlos -
"Laços de Família" foi uma vitória muito grande não só nossa, mas significativa para todos os autores e diretores da Globo. Isso porque foi talvez a primeira novela em que Marluce Dias da Silva (diretora-geral da Globo) pediu uma sinopse, eu entreguei, ela leu e falou: "Sinal verde. Faça com quem quiser, como quiser". Não houve nenhuma interferência. Tanto que foi a primeira novela em que nós participamos da escolha das músicas. A trilha antes era feudo da Som Livre (braço musical da Globo).

Folha - Que tipo de interferência prejudica a criação? Ter de esticar a história, por exemplo?
Manoel Carlos -
Isso atrapalha. Evidentemente, nunca me neguei a esticar a novela diante de um problema da Globo. As reuniões de grupo que a Globo faz para saber o que os telespectadores pensam costumam interferir também. Só acompanhei isso uma vez e não gosto do método. Não acredito nas mulheres que vão sabendo que vão interferir na Globo, dar palpite na novela dos outros. Elas saem de casa e dizem para o marido: "Hoje eu vou mexer na novela da Globo".

Folha - Como é trabalhar na pressão de ter que manter a audiência da novela anterior?
Manoel Carlos -
Nunca senti essa pressão porque minhas novelas sempre corresponderam ao que a Globo esperava. Mas tenho uma opinião sobre isso: eu não me sinto pago para escrever uma novela, eu me sinto pago para escrever uma novela de sucesso. A novela das oito não pode dar errado, é um produto vital para a empresa.
Em "Por Amor", eu era obrigado a fazer, às vezes, capítulos de uma hora e meia para neutralizar o Ratinho. O dia mais forte do Ratinho era quinta-feira. Uma vez, tive de jogar um episódio importante da quarta para a quinta.

Folha - É possível experimentar ou é necessário trabalhar com uma fórmula certa para o Ibope?
Manoel Carlos -
Minha fórmula talvez seja uma que dê certo sempre, é natural, e usei em todas as novelas que escrevi. É uma história realista, do cotidiano. São novelas em que até o nome da protagonista é o mesmo, e as relações são absolutamente iguais, normais, cotidianas, banais até.

Folha - Já existe uma história para sua próxima novela?
Manoel Carlos -
Ainda não tenho nada definido, mas tenho muita coisa guardada. Sou um rato de jornais. A Capitu de "Laços de Família" tirei de uma reportagem da Revista da Folha.
Gosto de fazer novelas sobre coisas que realmente conheço, como o Rio, mas gostaria muito de fazer uma novela passada em São Paulo, porque sou de lá e amo minha cidade. Em novelas passadas em São Paulo, sempre mostram o Minhocão, quatro cenas da avenida Paulista e o resto é no estúdio da Globo, no Projac. E a minha novela não vive disso, vive das ruas. Eu queria fazer uma novela que tivesse o Brás, o Bixiga, o Pari, onde eu nasci.

Folha - Como o sr. analisa o problema da novela com a Justiça?
Manoel Carlos -
Na verdade, o problema foi menor do que parecia. Para mim, o pior foi tirar as crianças das cenas já escritas. Isso deu um trabalho de 15 dias. Foi necessário regravar algumas cenas. E isso impulsionou a novela. Teve gente que não via antes e passou a ver. Essas coisas sempre beneficiam.
Acho que no caso das crianças tivemos uma cena que foi um excesso e um pecado de todos nós. Foi a cena em que Clara (Regiane Alves) era atropelada com a filhinha no colo. Fiquei apavorado de ver que ela teve de repetir a cena, cheia de tensão, dez vezes. A menina chorava e a cena se repetia. Ela não conseguiu mais trabalhar na novela e teve de ser substituída. Com relação às cenas de sexo, acho que estavam dentro de um realismo possível.

Folha - Por que Edu (Reynaldo Gianecchini) foi perdendo espaço na trama e participou pouco do último capítulo, nem ficando ao lado da mulher durante o transplante?
Manoel Carlos -
Não, ele não sumiu. Mas o galã, quando se casa, diminui o papel. Não tem mais assunto. Se o casamento for feliz, pior ainda. Costumo dizer que felicidade não dá ibope. No transplante, não era pertinente que ele entrasse. Em primeiro lugar, ele não era um bom médico. Fez medicina para agradar a tia. E, na hora difícil, as pessoas querem a mãe e não o marido ou a mulher.

Folha - Como é escrever tendo de encaixar publicidade na história?
Manoel Carlos -
Nada é definido sem a autorização do autor. Há pessoas dizendo que fazem merchandising em minhas novelas, mas é mentira. O merchandising social sou eu que coloco, porque acho importante. Tudo que foi dito sobre livros não era comercial. Eu queria promover aquelas obras. O merchandising comercial é acertado entre o autor, um departamento especializado da Globo e a empresa interessada.
 

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