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14/03/2001 - 04h18

Seleção cultural brasileira "joga" em NY

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CASSIANO ELEK MACHADO, da Folha de S.Paulo

Geraldo de Barros, Pignatari, Pape, Iran e Rivane; Nélida, Bessa e Paulo Herkenhoff; Hermeto, Sérgio e Odair Assad.

Essa é a escalação do time de artistas, escritores e músicos brasileiros que entra em campo amanhã, em uma das avenidas mais elegantes do mundo, a Park Avenue, em Nova York.

É lá que fica a instituição Americas Society, que está promovendo a série de eventos "Forma: Brazil". Com custo estimado de US$ 300 mil, esse conjunto de exposições, palestras e concertos se estende até o final de julho.

A "seleção cultural brasileira" tem como principais jogadores três craques consagrados. São eles o poeta Décio Pignatari, 73, e o artista plástico e fotógrafo Geraldo de Barros (1923-1998), fundadores dos movimentos concretistas na literatura e na arte, e a artista plástica Lygia Pape, 71, uma das mães do neoconcretismo.

"Nunca foi feita uma exposição como essa em Nova York. É uma mostra bem interessante para situar a criação de dois movimentos que são originais do Brasil", diz Pape à Folha.

O curador do evento, Gabriel Perez-Barreiro, conta que decidiu organizar essa exposição em torno do concretismo e do neoconcretismo desses artistas por dois motivos. "Por um lado, sempre achei que essas duas correntes formam um momento fundamental na arte brasileira e universal.
Por outro, pensava que o que se conhece das artes concretas brasileiras no exterior é muito simplificado, centrado só em Lygia Clark e Helio Oiticica."

Diretor de artes visuais da Americas Society (AS), instituição fundada pelo banqueiro David Rockefeller em 1965 que difunde nos EUA discussões culturais e políticas dos países dos continentes americanos, Barreiro diz que a idéia de fazer um evento sobre o Brasil já vinha desde 2000, por conta dos 500 anos.

Inicialmente, a AS pretendia receber parte da Mostra do Redescobrimento. A instituição acabou perdendo o braço nova-iorquino da megaexposição para o Guggenheim (a partir de setembro), mas fez um de seus projetos mais ambiciosos.

"É a primeira vez que a programação dos nossos três departamentos está unida", conta Barreiro, falando sobre os segmentos de música, literatura e artes plásticas.

O "pontapé inicial" vem das letras. Considerado o grande tradutor de português e espanhol, responsável pela versão americana de "Cem Anos de Solidão", de García Márquez, o americano Gregory Rabassa fala sobre o romance brasileiro: de Lima Barreto a Osman Lins. "Ele é chamado de o "divino tradutor". É um homem de rara erudição", diz sobre Rabassa a escritora Nélida Piñon.

Ela é a segunda atração da programação. Depois de ter dado aulas sobre Machado de Assis em lugares como Harvard e Georgetown, a ex-presidente da Academia Brasileira de Letras "introduz o universo machadiano" em Nova York. "Vou falar sobre o imaginário brasileiro no mundo novelesco de Machado. Sobre como ele se serve do Brasil."

Na terça-feira próxima começa a atividade central do ciclo (a "center piece", nas palavras do diretor de literatura do Americas Society Daniel Shapiro), a primeira exposição consistente de trabalhos de Lygia Pape e Geraldo de Barros nos Estados Unidos.

De Pape foram selecionadas obras emblemáticas do neoconcretismo. São três tipos de trabalho. Os livros ("Livro da Criação" e "Livro da Arquitetura"), as gravuras da série "Tecelares" e uma projeção de "Balé Neoconcreto nº 1", em que bailarinos se colocavam em formas geométricas. "O corpo deles não aparecia. Funcionavam como motor da forma."

Completam a exposição uma série de "fotoformas" de Geraldo de Barros, fotografias abstratas feitas no final dos anos 40 e início dos 50 a partir de registros de elementos urbanos e cotidianos.

"Esses trabalhos mostram o momento da construção do movimento concretista", diz Paulo Herkenhoff, que ajudou a selecionar os artistas e as obras.

Curador-adjunto do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), Herkenhoff, que vai fazer palestra no dia 21, diz que a exposição não é grande, mas deixará marcas. "A mostra traz mais índices, soluções pontuais. Mas é muito relevante, serve como um portal de Geraldo e Lygia Pape."

O outro vértice da mostra, o poeta Décio Pignatari, chega a Nova York trazendo uma pasta com traduções recentes para o inglês de seus poemas.

"Com ele montamos um programa que analisa as relações entre a poesia concreta brasileira e a language poetry norte-americana, que será apresentado por Sergio Bessa, artista e curador brasileiro que mora em Nova York", explica Perez-Barreiro. Pignatari é o "jogador" mais ansioso com a partida. "Não piso em Nova York há 25 anos. Quando fui a última vez, tive muito medo".
 

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