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16/03/2001 - 04h12

Crítica: Filme mostra proletariado como classe rude

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da Folha de S.Paulo

Billy é um menino diferente. Não gosta de boxe ou futebol. Gosta de dançar. Mora em uma cidade pequena e está cercado de machismo. Não terá vida fácil: precisará enfrentar a todos para fazer o que deseja.

Esta é a história de "Billy Elliot", que seria revolucionária em 1950. Hoje é injusto dizer que uma ficção desse gênero não tem seu papel: seja em relação ao homossexualismo ou a várias outras espécies de diferenças.
Vivemos em um mundo marcado por intolerância e incapacidade de ver e aceitar o outro.

Talvez seja essa a justificativa para "Billy Elliot" ser indicado para os Oscar de direção e roteiro. Será difícil encontrar outra.

Ao lado da trama envolvendo o menino e seu talento, existe outra: a história se passa num condado de mineiros, em 1984. Como todos se lembram, esse foi o ano da greve que Margareth Thatcher, então primeira-ministra, enfrentou disposta a quebrar a espinha do sindicalismo -conseguiu, para maior glória do então triunfante pensamento neoliberal.

O pai de Billy é mineiro e divide suas atividades entre greves e a tentativa de reencaminhar o filho. Encararemos as coisas positivamente: talvez o filme pretenda dizer com isso que, assim como Thatcher não compreende os mineiros e os massacra, o velho Elliot não aceita os pendores artísticos de Billy.

Aceitar essa hipótese seria como juntar alhos e bugalhos. A analogia não está na imagem. O que está na imagem é o pendor de certo cinema para representar o proletariado como uma classe rude e incapaz de compreender a arte e suas particularidades.

Essa é a tônica. Mesmo se o velho Elliot decide colocar o amor paterno acima de tudo (o filme nos priva de qualquer evolução aceitável: o pai passa de opositor inflexível da opção do filho a entusiasta de sua carreira), o que se vê, e que a cena final torna indesmentível, por motivos que aqui não se pode revelar, é a incomunicabilidade entre arte e operariado.

"Billy Elliot" é um filme inepto. Como se não bastasse, opera uma troca de preconceitos: aceita-se a homossexualidade como opção sexual, mas ao mesmo tempo projeta o operário no poço profundo da insensibilidade.

Que isso sofra uma mudança de 180 graus do meio para o fim, não altera o problema. Apenas mostra o quanto "Billy Elliot" é uma ficção postiça. (INÁCIO ARAUJO)

Billy Elliot
Direção:
Stephen Daldry
Produção: Reino Unido, 2000
Com: Jamie Bell, Julie Walters
Quando: a partir de hoje nos cines Anália Franco, Belas Artes, Center Iguatemi, Morumbi, Sala UOL, Tamboré e circuito

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