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17/03/2001 - 12h50

Médico esculpe em cadáveres reais e cria polêmica em Berlim

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LIGIA BRASLAUSKAS
da Folha Online, em Berlim

A primeira impressão pode ser de horror para uns e de fascinação para outros. Afinal, não é comum visitar uma exposição em que a arte está esculpida em 200 cadáveres. Num momento em que a vaca louca protagoniza as polêmicas na Alemanha, o médico Gunther von Hagens está conseguindo chamar a atenção com sua não menos polêmica exposição Körperwelten ("Mundo dos Corpos"), que já atraiu um público excepcional dentro e fora do país.

Divulgação
Veja mais fotos
Corpo em exposição em Berlim
Até agora, só na Alemanha, 3.161.320 pessoas já visitaram a exposição para ver a arte deste médico, que já causou muita polêmica entre as igrejas católica e protestante e entre os judeus.

Mas tanta repercussão não é para menos: ver de perto corpos dilacerados, cortados em vários pedaços, com todos os órgãos expostos, pode ser uma experiência tanto interessante, como impressionante.

O médico usou imagens conhecidas como a "Vênus de Milo", de Salvador Dalí, para exibir os órgãos internos de um corpo masculino. Nele, vêem-se rins, estômago, intestinos e outros órgãos, dispostos como gavetas que saem da barriga e do rosto do cadáver.

Há também corpos sem pele e fatiados de diferentes formas, colocados como um atleta, uma nadadora, um corredor, um jogador de xadrez e até um cavaleiro montado em um cavalo de porte bastante grande e também aberto em várias partes.

Além disso, durante a visita à exposição, é possível ver de perto e em cores reais cenas de diferentes tipos de doenças que podem levar à morte, como arteriosclerose, câncer de pulmão, cirrose hepática e também outras curiosidades, como fraturas reparadas com pinos metálicos e próteses.

Para a igreja, a exposição de Von Hagens é uma ofensa porque exibe a morte de maneira banal e exclui a presença de Deus. Para o médico, Köperwelten (que também pode ser acessada pela internet em www.koerperwelten.com) é uma forma de mostrar a natureza humana de forma educativa. "Eu não tenho problema com eles (a igreja), eles é que têm problema comigo", diz.

Opinião

Além da igreja, muitas pessoas que visitam a exposição não concordam com a proposta do médico. A estudante Alexandra Fisher, 26, diz que gostaria de saber exatamente de onde vieram esses corpos. Para ela, o lado educativo da exposição é interessante porque funciona como uma sala de anatomia aberta ao público, mas que tanta exposição pode chocar as pessoas que não estão preparadas para ver este tipo de cena.

Já o garçom Peter Siegens diz que a exposição é uma obra de arte que deveria ser vista por todas as pessoas. "Até as crianças gostam do que vêem. É como se estivéssemos em uma aula sobre o corpo humano."

Segundo o próprio Von Hagens, os corpos utilizados na exposição foram doados livremente por pessoas que demonstraram desejo em ter os seus corpos aproveitados para estudos científicos. Outros cadáveres são de doadores que não tinham dinheiro para pagar o próprio enterro ou de pessoas que não foram identificadas em necrotérios.

A holandesa Sandra Koopfen, que foi a Berlim visitar a exposição, diz que a última parte é de muito mau gosto e que a considera desnecessária. A visitante se refere a uma parte isolada da exposição totalmente dedicada ao mundo infantil.

Como um "carrossel dos horrores", Von Hagens mostra a evolução de um bebê durante as diferentes semanas de gestação e fetos abortados por serem portadores de vários tipos de deformação.

"Invenção"

A técnica utilizada para manter os corpos intactos, chamada "Plastination" ("Plastinação"), foi inventada por Von Hagens em 1977 na Faculdade de Anatomia da Universidade de Heildelberg.

Com ela, o corpo passa primeiro por um ressecamento e depois é plastificado quimicamente, o que permite que os órgãos permaneçam com sua cor natural, flexíveis e sem cheiro.

O médico continuou estudando e aperfeiçoando a técnica por mais 19 anos. Em 1994, Von Hagens criou o IFP (Institut für Plastination ou Instituto para "Plastinação").

Para montar a exposição, Von Hagens trabalhou com 20 anatomistas durante 8.000 horas aproximadamente.

A visita, que pode ser feita com explicações em vários idiomas por meio de um telefone sem fio, dura cerca de duas horas e não tem limite de idade. Depois de Berlim, onde ficará até o dia 1º de julho, a exposição segue para os Estados Unidos, para a Inglaterra, Canadá e Espanha, onde deve causar mais polêmica.

  Veja mais fotos da exposição

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