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17/03/2001 - 12h52

Intenção de exposição com corpos é educativa, garante médico alemão

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LIGIA BRASLAUSKAS
da Folha Online, em Berlim

Gunther von Hagen, 56, é formado em medicina pela Universidade de Heildelberg (Alemanha) e especializou-se em anatomia. Já esteve no Brasil várias vezes para dar cursos de anatomia em faculdades de medicina de São Paulo e do Rio de Janeiro e estuda o método de "plastinação" desde 1977.

Von Hagen, que concedeu entrevista à Folha Online, é uma personalidade curiosa: tem a pele muito branca, quase pálida, usa sempre um chapéu preto, gosta de explicar minuciosamente como trabalha com os cadáveres e falar sobre a genialidade de sua "invenção". Leia a seguir trechos da entrevista:

Folha Online - Como surgiu a idéia de fazer uma exposição de cadáveres, como se a arte a ser mostrada fosse uma grande autópsia aberta ao público?
Gunther von Hagens -
Descobri a "plastinação" em 1977, ainda quando estudava medicina na faculdade de anatomia da Universidade de Heidelberg. Desde então, desenvolver essa técnica foi o principal objetivo do meu trabalho e algo que, depois de terminado, deveria ser mostrado para outras pessoas.

Folha Online - A exposição já passou pelo Japão (2,5 milhões de visitantes), por Viena, na Áustria (550 mil visitantes) e por várias cidades da Alemanha, somando, até agora, um total de mais de 6,2 milhões de visitantes. Além do tema da exposição chamar a atenção por si só, ao final da visita, é possível encontrar diferentes tipos de lembranças, como bottoms, camisetas, relógios, calendários e cartões postais, todos com as imagens dos cadáveres. O que a exposição significa para o senhor, arte ou negócio?
Von Hagens -
As duas coisas. Não é possível separar a criação da exibição. Obviamente, o trabalho possui um teor educativo bastante forte, as pessoas podem aprender muito visitando a exposição e queremos levá-la ao maior número de países possível, onde haja interesse das pessoas em aprender. Os suvenires fazem parte de qualquer exposição e os visitantes gostam de levar coisas que vêem nos museus.

Folha Online - O senhor pretende levar a exposição para o Brasil ou países da América Latina?
Von Hagens -
Não, pelo menos agora. Na América Latina há uma "máfia" no negócio de entretenimento. Não estamos vendendo arte, queremos ser convidados, que alguma empresa nos patrocine, não quero entrar nesse tipo de negócio. Quero trabalhar com transparência e organização.

Folha Online - Por que o senhor colocou os corpos em formatos artísticos, imitando movimentos e ações em obras de arte?
Von Hagens -
Queríamos apresentar os corpos na exposição de uma forma que estivessem o mais próximo possível da vida real, para que as pessoas pudessem ver de perto o lado de dentro em cenas cotidianas. Por outro lado, a exposição de um pulmão com câncer não significa que estamos dizendo para o visitante o que deve fazer. Não estou dizendo "pare de fumar", mas ele tem a oportunidade de ver de perto o que o cigarro ou o excesso de álcool podem fazer com o organismo.

Folha Online - O senhor enfrentou muitos problemas com a Igreja?
Von Hagens -
Eu não tenho problemas com eles, eles é que têm problemas comigo. Algumas pessoas ficaram chocadas porque acreditam que a exposição dos corpos é uma afronta à moral, que foge à realidade da existência de Deus. Não estamos tratando de religião, mas da fascinação do corpo humano.

Folha Online - Trabalhar com os corpos das crianças e com os fetos foi mais difícil para o senhor?
Von Hagens -
Não. Quando pego o corpo de uma criança ou um feto, não fico olhando para saber o que passou, não deixo o emocional interferir. Naquele momento, trabalhar com o corpo de uma criança ou de um adulto significa a mesma coisa. É a arte de fazer a plastinação.

Folha Online - Se o senhor vivesse na época dos Faraós, no antigo Egito, e pudesse fazer naquele tempo o mesmo trabalho de conservação dos corpos que faz hoje, qual seria a sua classificação?
Von Hagens -
Em importância, seria o segundo homem depois do Faraó.

Folha Online - O senhor vai doar seu corpo para estudos científicos? Atualmente, o IFP (Instituto para Plastinação) recebe cinco doações por dia de pessoas que têm interesse em entregar seus corpos para a "plastinação"...
Von Hagens -
Sim. Quero ser "plastinado".

  Veja mais fotos da exposição

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