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20/03/2001 - 04h48

Documentário radiografa os bastidores do AI-5

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JOSÉ GERALDO COUTO, da Folha de S.Paulo

A crise política que motivou a decretação do Ato Institucional nº 5, levando ao extremo o autoritarismo do regime militar, em 1968, é esmiuçada e dramatizada no documentário "AI-5 - O Dia Que Não Existiu", dirigido pelo jornalista Paulo Markun.

Realizado pela TV Cultura em parceria com a TV Câmara, o vídeo, de 56 minutos, vai ao ar nas duas emissoras no próximo dia 31, às 20h30.

Antes disso, no dia 26, será exibido em pré-estréia na Pinacoteca do Estado, em São Paulo, na abertura do Festival de Documentários É Tudo Verdade.

Depois de traçar um rápido quadro do contexto da época -passeatas, greves, prisões, confrontos entre estudantes e militares-, o vídeo de Markun se concentra na sessão da Câmara Federal que serviu de pretexto ao regime para baixar o AI-5.

Os militares, irritados com um discurso proferido dias antes na tribuna pelo deputado oposicionista Márcio Moreira Alves, queriam que o Congresso lhes concedesse uma "licença" para processar o parlamentar.

A questão foi decidida na sessão da Câmara de 12 de dezembro de 1968. Considerando que estava em questão a soberania do Congresso, os
parlamentares decidiram negar a tal licença.

No dia seguinte, o governo baixava o AI-5, suspendendo garantias democráticas e estabelecendo uma ditadura sem disfarces.

"AI-5 - O Dia Que Não Existiu" reconstitui a sessão crucial do dia 12 lançando mão de atores nos papéis dos congressistas. Maurício Branco, por exemplo, interpreta Márcio Moreira Alves, e Almir Martins encarna Mário Covas, então líder da oposição na Câmara.

Paulo Markun disse à Folha que teve a idéia de fazer o documentário em maio do ano passado, quando a ex-funcionária do Congresso Ana Lúcia Brandão devolveu às autoridades as notas taquigráficas da fatídica sessão, que ela havia escondido por temor de represálias dos militares.

O receio não era de todo infundado. As gravações dos discursos daquele dia desapareceram. "A desculpa oficial é a de que as fitas foram reaproveitadas, por questão de economia", diz Markun.

Ao pesquisar o assunto, o jornalista percebeu que havia nele "uma grande densidade dramática", mas se deparou também com a escassez de documentos, sobretudo iconográficos.

"O problema é que no dia seguinte veio o AI-5 e, com ele, a censura, o que limitou muito a documentação", diz Markun.

Ele procedeu então a uma delicada costura dos fragmentos de que dispunha (trechos de áudio de alguns discursos, imagens de deputados votando), com a encenação da sessão (realizada no próprio Congresso, com 200 figurantes) e depoimentos atuais dos personagens do episódio.

Entre os entrevistados estão Márcio Moreira Alves, Covas, Jarbas Passarinho e Geraldo Freire.

Apesar da duração excessiva de alguns discursos, o resultado geral é um painel bastante vivo de um dos momentos mais dramáticos de nossa história republicana.

Em 1968, aos 16 anos, Markun participou como secundarista das passeatas contra o regime. Hoje, preocupado com a desinformação dos jovens, o diretor pretende exibir e debater seu vídeo em escolas pelo país afora.

O jornalista (que apresenta o programa "Roda Viva", da Cultura) prepara um documentário sobre a tentativa de golpe contra a posse de João Goulart, após a renúncia de Jânio Quadros, em 61.
 

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