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12/10/2000 - 15h00

'U-571' faz água por todo lado

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da Folha Online

Só vale a pena assistir "U-571" se não for levar o filme a sério. Trate-o como uma aventura cheia de "suspense", como versão cinematográfica de um videogame ou de um romance ou de quadrinhos baratos, e, tudo bem, ele vai merecer ao menos duas estrelinhas.

Tente levá-lo a sério como cinema ou registro de um período histórico e vai ficar decepcionado.

Filmes sobre submarinos não são novidade. "U-571" tenta revisitar o gênero, do mesmo modo como "Gladiador" fez com os filmes sobre o Império Romano, ou o ainda melhor "O Resgate do Soldado Ryan" fez com os filmes de guerra em geral.

Mas o alemão "Das Boot" ("O Barco") e velhos filmes americanos como "Periscópio à Vista" ainda dão de dez nessa revisitação cheia de adrenalina e cenas inverossímeis à "Outubro Vermelho".

Patriotismo é o tema básico dos filmes citados; pode ser facilmente confundido com nacionalismo vulgar ou glorificação do "império americano". Mas não é só. Milhares de americanos morreram para acabar com o nazismo e merecem respeito. Isso é um fato.

"Ryan" pôs isso em perspectiva, apesar de dar pouca atenção aos aliados da comunidade britânica. "U-571" pisa bem mais forte no calo deles ao descaradamente roubar um heróico feito dos marinheiros de sua majestade.
Em 1941 os tripulantes do destróier HMS Bulldog capturaram a Enigma, uma espécie de máquina de escrever que codificava as mensagens de rádio nazistas.

Foi um dos grandes golpes da guerra _tanto que só em 1974 revelou-se que os aliados podiam ler as mensagens alemãs e só agora a historiografia está colocando esse sistema, codinome "Ultra", em uma perspectiva mais realista.

Mas tanto faz o que diz a história. Para o filme, foram os EUA os primeiros a capturar uma Enigma, de modo rocambolesco! O diretor tentou se desculpar até em site de discussão. Não cola. Só nos letreiros finais, que poucos lêem, ele conta a história verdadeira.

Submarinos alemães eram conhecidos por números. Centenas foram afundados na Segunda Guerra (um deles por brasileiros, o U-199). O U-571 real esteve longe dos acontecimentos do filme.

Apesar do ritmo rápido típico da era de privilegiar efeitos especiais, alguns deles são de péssima qualidade. O destróier alemão não passa de um rebocador maquiado como se fosse uma velha prostituta. Seus "canhões" tremem como gelatina ao disparar.

E, para finalizar, há a legendagem, sempre terrível com as tecnicalidades bélicas. Usa-se e abusa-se do neologismo "setar", mas tem coisa pior. A curiosa palavra "trimes" não existe na língua de Camões. Trata-se de uma grotesca versão para o verbo "to trim", no sentido de colocar o submarino na posição correta.
 

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