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17/06/2000 - 02h49

Lelé transporta sua "fábrica de cidades, escolas e hospitais" para Veneza

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CELSO FIORAVANTE
da Folha de S. Paulo, em Veneza

O carioca João Filgueiras Lima, o Lelé, que representa _junto a Paulo Mendes da Rocha_ o Brasil na 7ª Bienal de Arquitetura de Veneza, não é aquele arquiteto padrão, que aparece com frequência na mídia e trabalha seus projetos de olho em sua visibilidade, obras em que o fora parece mais importante que o dentro.

Lelé é diferente. Desde 1957, quando iniciou sua carreira no canteiro de obras de Brasília, sob a tutela de Niemeyer, seu mestre, o arquiteto desenvolve uma carreira cuja característica é a reunião de forma e função. É um arquiteto humanista, que concilia diversas áreas do conhecimento com um objetivo: o bem-estar do cidadão.

Lelé vai à bienal com exemplos de três categorias de trabalho que desenvolve, e que a curadoria do evento chamou de "fábricas de cidades, escolas e hospitais". Essas categorias remetem ao trabalho que o arquiteto desenvolve com pré-moldados, utilizados na produção de equipamentos urbanos (bancos, pontos de ônibus etc.), escolas e hospitais. Entre suas obras está a construção dos hospitais da rede Sarah Kubitschek, em Brasília, Salvador, Fortaleza, São Luís e Belo Horizonte.

Flamenguista, apesar de ter ganho o apelido graças ao Vasco da Gama, esquadra do ponta-direita Lelé, mesma posição em que ele jogava na juventude, o arquiteto falou à Folha sobre sua carreira, seus amigos e suas influências.

Folha - Qual foi a importância de Brasília em seu trabalho?
João Filgueiras Lima -
Brasília contribuiu muito, pois eu fui para o canteiro de obras e não para trabalhar como projetista. Isso fez com que eu me ligasse aos problemas da construção. Em 1962, fui convidado pelo Niemeyer para ser secretário-executivo do centro de planejamento da Universidade de Brasília. Lá comecei a realizar os projetos de industrialização em concreto armado.

Folha - Brasília também foi responsável por seu encontro com o artista Athos Bulcão, que trabalha com você até hoje...
Filgueiras Lima -
O Athos Bulcão foi para Brasília em 1959, com o restante da equipe de arquitetos. Ele é um dos poucos artistas que consegue produzir algo integrado ao projeto arquitetônico, mas interferindo nos espaços.

Folha - Há relações entre seu trabalho e o de Paulo Mendes da Rocha, que também vai para Veneza?
Filgueiras Lima -
O trabalho de Paulo Mendes da Rocha me sensibiliza muito pois, muito embora eu tenha atuado mais na questão da industrialização, a origem dos dois está na arquitetura moderna, absorvida por meio da experiência de Niemeyer, Artigas e Reidy.

Folha - Quais as vantagens do pré-moldado para a arquitetura?
Filgueiras Lima -
No Brasil, a construção é tratada sob a ótica do desemprego ou do uso de mão-de-obra desqualificada, mas ela possui aspectos diferentes. De um lado, muito atrasada e, de outro, extremamente criativa, como nos trabalhos de Oscar Niemeyer e Paulo Mendes da Rocha, que usam o concreto com talento.
Existe ainda o problema de conseguir construções mais econômicas, em que são necessários os sistemas de industrialização.

Folha - O pré-moldado empobrece a relação entre meio e cidadão?
Filgueiras Lima -
Esse empobrecimento é consequência de uma falta de criatividade. As soluções empobrecedoras são adotadas com o único objetivo de baratear a obra. Arquitetos envolvidos com processo criativo nem comparecem nessas obras. São um subproduto, mas não são a regra.

Folha - Suas obras possuem características semelhantes às do arquiteto finlandês Alvar Aalto, que também se dedicou à construção de hospitais.
Filgueiras Lima -
O Alvar Aalto deu uma grande contribuição à arquitetura. A idéia de usar "sheds" (aberturas ou transparências no teto que possibilitam ventilação e iluminação naturais) é muito escandinava, pois eles possuem poucos meses de sol. Isso deixa o prédio mais compacto.

Folha - Alvar Aalto usava processos industrializados?
Filgueiras Lima -
Muito embora a proposta da arquitetura moderna seja o uso de materiais industrializados na construção, ela não foi levada adiante na escala em que se propunha. A arquitetura de Alvar Aalto usava muito tijolo e processos convencionais, mas com uma riqueza construtiva enorme e um cuidado tremendo com os detalhes.

O jornalista Celso Fioravante viaja a Veneza a convite da Fundação Bienal, que organiza a participação brasileira

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