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19/05/2001 - 04h32

Escritor Amós Oz leva brisa do mar ao deserto em novo livro

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SYLVIA COLOMBO
da Folha de S.Paulo

Sobre sua escrivaninha, Amós Oz tem duas canetas -uma azul e outra preta.
Uma delas, o escritor israelense usa para fazer ensaios políticos, em que se posiciona sobre os conflitos entre israelenses e palestinos -"é a caneta que utilizo quando mando governantes irem para o inferno", diz.

Com a outra, Oz faz só literatura: "Pode haver guerra, fanatismo e conflito em qualquer lugar, mas sempre haverá um garoto tentando observar uma viúva por uma fresta enquanto ela tira a roupa".

Em "O Mesmo Mar", livro que sai agora no Brasil, Oz usou sua caneta literária. Nele, acompanha o cotidiano de uns poucos personagens, tomados a esmo da sociedade que observa em seu país: um pai viúvo, um filho desgarrado, uma jovem desorientada e sexy, um marceneiro que ama música erudita, um grego que traz os mortos ao mundo dos vivos.

A natureza tem papel importante, o som do mar e o silêncio do deserto marcam o tempo e orientam o dia-a-dia das pessoas. Oz, ele mesmo um habitante de uma região desértica, concedeu entrevista à Folha, por telefone, de sua casa, em Arad, escutando, ao fundo, uma peça de Pergolesi.

Folha - O deserto sempre foi sua fonte de inspiração. Desta vez, o tema é o mar. Por quê?
Amós Oz -
Por viver no deserto, sinto muita falta do mar. No livro, considero o deserto e o mar como um par de protagonistas. Tentei criar diálogos entre a terra, as montanhas, a água e o gelo e fazer com que se relacionassem com os diálogos de pais, filhos, amigos e familiares. Ambos os diálogos, os da natureza e os das pessoas, são misteriosos e dramáticos.

Folha - A família é assunto constante em seus livros, e "O Mesmo Mar" não é exceção. Sem família, não há literatura?
Oz -
Há literatura em diversos outros temas, mas não para mim. Eu sempre escrevi sobre famílias. Acho que ela é o mais fascinante, estranho e impossível fenômeno no mundo. Neste instante, enquanto conversamos, existem famílias e seus cotidianos acontecendo ao mesmo tempo na Sibéria, África, Irã ou Inglaterra.

Folha - Mas o livro expõe mais os seus conflitos do que seu poder.
Oz -
Sim, e esse foi o desafio. Mostrar como um livro sobre coisas muito simples da vida pode abordar de uma forma dramática os paradoxos da vida familiar. E como ela é poderosa por causa desses paradoxos. A obra é sobre o pão, o queijo e as azeitonas de cada dia e, por isso, é sobre amor, desejo, morte, espera e ilusão.

Folha - Qual dos personagens se parece mais com você?
Oz -
Sou todos eles. Todos se fundem num mesmo mar. É uma comunhão mística, mas que acontece numa tragicomédia.

Folha - Por que resolveu misturar prosa e poesia neste livro?
Oz -
Queria algo cristalino. Alguns críticos disseram que ficou pós-moderno, mas ele é pré-arcaico. Leva o formato do romance de volta às suas origens. Na Idade Média, os trovadores contavam histórias parte poéticas, parte épicas, parte ficcionais e parte pessoais. Foi o que tentei fazer.

Folha - O que o cansa no formato que utilizava até aqui?
Oz -
Nos romances contemporâneos ocidentais, gasta-se cerca de 20 páginas antes que sejam apresentados os personagens. Só então as coisas começam a se mover. Quis fazer um livro leve e direto. É como se tivesse decidido primeiro levantar vôo e depois construído a aeronave. Sou um gato que pariu uma girafa, não acredito que este livro tenha saído de mim.

Folha - Por que decidiu separar aqui a política da literatura?
Oz -
Estou comprometido com meu país como nunca. Mas a política não entra mais quando estiver tocando minha música. Escrevi sobre Israel fora do noticiário. E 90% de Israel está longe dele.

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