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27/05/2001
-
10h46
ELLEN SOARES
free-lance para a Folha Online
O cartunista e escritor Ziraldo, 69 anos, anda revoltado com o país. Com uma trajetória política sempre ativa, ele fundou a revista "Bundas", um manifesto na mídia que, por falta de patrocínio, não teve vida longa.
Ziraldo é uma das grandes estrelas da Bienal do Livro. Seu "O Menino Maluquinho" atingiu a marca de 2 milhões de exemplares vendidos e uma edição especial neste ano, lançada na 10ª Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro, com capa-dura.
Ele participa de debates ao lado de outros autores infantis e conversa com o público e com professores.
Em entrevista à Folha Online, Ziraldo "soltou os cachorros" contra Fernando Henrique Cardoso, o governo, a política e a corrupção.
Ele manda um recado aos professores: "não transformem o livro num dever. Dêem aula de como aprender a gostar de ler". "Até os 10 anos, não se deveria ensinar para as crianças mais do que a leitura. A criança deveria levar o livro para o banheiro e ter uma relação sexual com ele. Não conheço nenhum canalha que tenha sido uma criança feliz."
Acompanhe trechos da entrevista:
Folha Online - Como você vê o panorama político atual no país, a questão da corrupção?
Ziraldo - Ahhh... você quer falar de sacanagem, não é de livro não... (risos). O país fica a cara de quem o dirige. Você olha o Brasil do Juscelino [Kubitschek] e ele tinha a cara do Juscelino: era um Brasil alegre, campeão do mundo, feliz pra danar, otimista, brincalhão e cheio de alegrias. Depois você pega o país do [João Baptista] Figueiredo e era a cara dele também... e assim foi com Itamar Franco. O país de hoje é a cara do Fernando Henrique Cardoso: um país hipócrita, cínico, mentiroso, impáfio... eu não tenho mais adjetivos para classificar o FHC.
Outro dia uma pessoa da maior seriedade, um homem equilibrado e que foi do governo, comentou comigo, no aeroporto: "realmente é assustador. Esse rapaz é a pior pessoa que já passou pela política brasileira".
O Brasil está péssimo agora devido ao cinismo e à hipocrisia dele. Eles fundaram o PSDB pra ser a vestal da política brasileira, onde só haveriam honestos porque não aguentavam mais a companhia dos fisiológicos do PMDB, de Quércia e companhia. Só no Brasil, evidência não é prova. Será que ninguém se lembra que o ACM gozava as pessoas nos corredores: "eu sei em quem você votou"?
Outro que eu conhecia pessoalmente e achava que era uma pessoa decente, mas ele é pusilânime, é o Arruda. Antes dele, nunca tinha encontrado alguém para aplicar este adjetivo [pusilânime, que significa covarde], mas ele serve perfeitamente para o [José Roberto] Arruda. E os pusilânimes não merecem olhar o filho no olho.
Tudo onde mexemos tem corrupção: futebol, fundos de pensão, tudo é roubo e mais roubo. E agora eles vêm com este negócio do apagão, irresponsavelmente dizem que vão dar um bônus em vez de multar e depois voltam atrás. Eles estão perdidos feito cego em tiroteio. Eu estou com ódio deste país.
Folha Online - De onde vem essa indignação toda?
Ziraldo - Eu estou na briga desde o começo da minha vida adulta, nunca aceitei que o país fosse menos bom do que ele poderia ser. E como a vida me colocou em condições de falar isso pra você e pra todo o mundo, defendo que qualquer artista brasileiro que tenha espaço não possa ficar fazendo brincadeirinha. Não pode ficar fazendo piada de dar pum no elevador. Tem mais o que fazer, o país está por fazer.
Se a gente transformar o Brasil num país de leitores, a gente vai fazer este país melhor. Porque esse povo não reflete, não pensa e nem busca informação. E essa informação fundamental pro homem ser melhor está nos livros. É isso que me entusiasma a escrever, acho que minha missão é essa: trabalhar para transformar o Brasil num país de leitores.
Folha Online - Como alguém com tanta consciência política consegue manter a ingenuidade tão necessária na literatura infantil?
Ziraldo - A vida é departamentalizada. É como dizia o Mário de Andrade: "eu sou 300, 350". A gente é assim, nosso coração é divido em departamentos.
Folha Online - Quando escreveu "O Menino Maluquinho", o senhor esperava atingir essa marca de 2 milhões de livros?
Ziraldo - Eu sabia que ele ["O Menino Maluquinho"] iria agradar. Quando acabei de escrevê-lo, eu exclamei Puta que pariu! Esse livro vai emplacar. Ele era muito original e muito fora dos padrões da época. E aconteceram tantas coisas... ele só falta virar desenho animado... mas a gente vai fazer agora.
Folha Online - Diga uma frase que exprima o que pensa Ziraldo.
Ziraldo - Ler é mais importante do que estudar.
Leia mais notícias sobre a Bienal do Livro
"Eu estou com ódio deste país", diz Ziraldo, pai do Menino Maluquinho
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free-lance para a Folha Online
O cartunista e escritor Ziraldo, 69 anos, anda revoltado com o país. Com uma trajetória política sempre ativa, ele fundou a revista "Bundas", um manifesto na mídia que, por falta de patrocínio, não teve vida longa.
Ziraldo é uma das grandes estrelas da Bienal do Livro. Seu "O Menino Maluquinho" atingiu a marca de 2 milhões de exemplares vendidos e uma edição especial neste ano, lançada na 10ª Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro, com capa-dura.
Ele participa de debates ao lado de outros autores infantis e conversa com o público e com professores.
Em entrevista à Folha Online, Ziraldo "soltou os cachorros" contra Fernando Henrique Cardoso, o governo, a política e a corrupção.
Ele manda um recado aos professores: "não transformem o livro num dever. Dêem aula de como aprender a gostar de ler". "Até os 10 anos, não se deveria ensinar para as crianças mais do que a leitura. A criança deveria levar o livro para o banheiro e ter uma relação sexual com ele. Não conheço nenhum canalha que tenha sido uma criança feliz."
Acompanhe trechos da entrevista:
Folha Online - Como você vê o panorama político atual no país, a questão da corrupção?
Ziraldo - Ahhh... você quer falar de sacanagem, não é de livro não... (risos). O país fica a cara de quem o dirige. Você olha o Brasil do Juscelino [Kubitschek] e ele tinha a cara do Juscelino: era um Brasil alegre, campeão do mundo, feliz pra danar, otimista, brincalhão e cheio de alegrias. Depois você pega o país do [João Baptista] Figueiredo e era a cara dele também... e assim foi com Itamar Franco. O país de hoje é a cara do Fernando Henrique Cardoso: um país hipócrita, cínico, mentiroso, impáfio... eu não tenho mais adjetivos para classificar o FHC.
Outro dia uma pessoa da maior seriedade, um homem equilibrado e que foi do governo, comentou comigo, no aeroporto: "realmente é assustador. Esse rapaz é a pior pessoa que já passou pela política brasileira".
O Brasil está péssimo agora devido ao cinismo e à hipocrisia dele. Eles fundaram o PSDB pra ser a vestal da política brasileira, onde só haveriam honestos porque não aguentavam mais a companhia dos fisiológicos do PMDB, de Quércia e companhia. Só no Brasil, evidência não é prova. Será que ninguém se lembra que o ACM gozava as pessoas nos corredores: "eu sei em quem você votou"?
Outro que eu conhecia pessoalmente e achava que era uma pessoa decente, mas ele é pusilânime, é o Arruda. Antes dele, nunca tinha encontrado alguém para aplicar este adjetivo [pusilânime, que significa covarde], mas ele serve perfeitamente para o [José Roberto] Arruda. E os pusilânimes não merecem olhar o filho no olho.
Tudo onde mexemos tem corrupção: futebol, fundos de pensão, tudo é roubo e mais roubo. E agora eles vêm com este negócio do apagão, irresponsavelmente dizem que vão dar um bônus em vez de multar e depois voltam atrás. Eles estão perdidos feito cego em tiroteio. Eu estou com ódio deste país.
Folha Online - De onde vem essa indignação toda?
Ziraldo - Eu estou na briga desde o começo da minha vida adulta, nunca aceitei que o país fosse menos bom do que ele poderia ser. E como a vida me colocou em condições de falar isso pra você e pra todo o mundo, defendo que qualquer artista brasileiro que tenha espaço não possa ficar fazendo brincadeirinha. Não pode ficar fazendo piada de dar pum no elevador. Tem mais o que fazer, o país está por fazer.
Se a gente transformar o Brasil num país de leitores, a gente vai fazer este país melhor. Porque esse povo não reflete, não pensa e nem busca informação. E essa informação fundamental pro homem ser melhor está nos livros. É isso que me entusiasma a escrever, acho que minha missão é essa: trabalhar para transformar o Brasil num país de leitores.
Folha Online - Como alguém com tanta consciência política consegue manter a ingenuidade tão necessária na literatura infantil?
Ziraldo - A vida é departamentalizada. É como dizia o Mário de Andrade: "eu sou 300, 350". A gente é assim, nosso coração é divido em departamentos.
Folha Online - Quando escreveu "O Menino Maluquinho", o senhor esperava atingir essa marca de 2 milhões de livros?
Ziraldo - Eu sabia que ele ["O Menino Maluquinho"] iria agradar. Quando acabei de escrevê-lo, eu exclamei Puta que pariu! Esse livro vai emplacar. Ele era muito original e muito fora dos padrões da época. E aconteceram tantas coisas... ele só falta virar desenho animado... mas a gente vai fazer agora.
Folha Online - Diga uma frase que exprima o que pensa Ziraldo.
Ziraldo - Ler é mais importante do que estudar.
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