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27/05/2001 - 14h30

Selo GLS lança livro na Bienal sobre "clandestinidade" gay

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free-lance para a Folha Online

"Desclandestinidade", lançado na 10ª Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro pelo selo GLS Summus, conta a história de um homossexual que resolve enfrentar os preconceitos da sociedade e assumir sua sexualidade. O livro, autobiográfico, questiona posicionamentos históricos e religiosos.

O autor, Pedro Zarur Almeida, se lança no mercado editorial aos 30 anos contando a sua história, de um homossexual religioso que fala das dores e angústias vividas durante dez anos, dos 13 aos 23, quando até tentou anular a homossexualidade.

"Demorei dez anos para perceber que não havia o caminho da heterossexualidade pra mim. Foi quando pintou uma relação na minha vida e aquilo me fez esquecer todos os receios. Percebi que o maior problema dos meus amigos homossexuais é sempre o receio da vida social, dos parentes e amigos. As pessoas evitam experimentar ter uma vida aberta e não experimentar causa muitas frustrações. O livro mostra que existem outras alternativas", disse o autor.

A iniciativa de tornar menos dramático o processo se transformou numa sensível autobiografia. Ele fala da relação estável que mantém há sete anos e explica porque decidiu processar judicialmente a LBV (Legião da Boa Vontade), onde trabalhou e a quem acusa de ter perseguido e demitido quando tornou pública a sua opção sexual. "Não apresento fórmulas. Conto muitas histórias, mas procuro não dar receitas porque cada caso é um caso."

"Desclandestinidade" tenta mostrar a fraqueza dos argumentos usados pra condenar a homossexualidade. "O sofrimento de manter uma vida clandestina ou dupla quase sempre é desnecessário. Cada pessoa tem que procurar sua felicidade. Se você tem que ser outra pessoa para ser aceita por alguém que você considera amigo, alguém da família, ou alguém que tem carinho, é porque essa pessoa na verdade não te ama".

"Quando eles tiveram a certeza da minha boca, nossas relações ficaram estremecidas no máximo um mês, mas depois que assumi passei a ter uma vida mais feliz", disse o escritor.

Confira o que pensa o autor e alguns pensamentos expostos no livro "Desclandestinidade":

Sair da clandestinidade
Manter uma vida assumida, num círculo social por menor que seja, é a única forma de ser feliz. Você não vai precisar mais mentir pra ninguém, nem viver na clandestinidade. No livro, conto várias histórias que exemplificam esse aspecto.

Minha história
A idéia inicial não era uma autobiografia. Seria como um ensaio, abordando diversos pontos de aspectos que abordam a homossexualidade. Mas acabei contando a minha história (me baseio em experiências) e a história de outras pessoas que convivi. Tive um bar GLS e conheci muitas delas. Coloquei no livro algumas situações que julguei importantes para que a pessoa possa se revelar: a primeira delas é não julgar que homossexual tem que ficar no 8 ou 80, primeiro se reprime e depois extrapola... E a segunda é levar a família a conhecer "tudo" o que envolve a homossexualidade e deixá-la participar de todo o sofrimento que passou se anulando, muitas vezes por causa deles.

O medo
Todos são criados para serem heterossexuais. E muitas vezes os próprios homossexuais não se aceitam por medo de não serem mais aceitos. Não é um preconceito que está com a pessoa, mas sim com os elementos com que ela foi educada e não quer entrar em choque.

Religião
Tive uma formação que me cobrou muito pesado. Minha orientação religiosa não é católica nem evangélica, religiões que são mais claras no preconceito a homossexuais": a evangélica é diretamente clara e a católica, na última catequese diz seja efeminado, mas não faça sexo. Aceitamos os gays, desde que não transem: isso é um absurdo. Eu cresci numa crença espírita, que diz tolerar a homossexualidade, só que ninguém precisa da tolerância, pois eu quero respeito. O espiritismo parece aceitar o homossexual, mas na verdade, acho que isso é "um verniz de respeito", que nos trata como alguém que tem uma prova a passar, e a condição homossexual vira um "problema espiritual" a ser resolvido. É visto como um carma negativo a ser superado. Muitos se privam da religião porque lá no ambiente religioso não seriam respeitados. Acho que as instituições religiosas perdem muito com isso.

Papéis do homem e da mulher
Isso não existe. Esta visão já está ultrapassada para um casamento heterossexual, quanto mais num casamento homossexual. Na prática, não existe essa coisa do ativo e passivo, não existe papel... o papel é estar junto.

Medo de se expor
Eu só me expus porque vi nisso uma oportunidade de ajudar as pessoas, não uma bandeira. Assumo as conseqüências dessa exposição, sem me sentir um mártir ou coisa parecida. Normalmente, o homossexual que aparece não é o tipo mais tranqüilo, equilibrado (os casais mais harmoniosos), são normalmente os estereótipos: a mulher machona e o travesti. Existem vários casais (gays) que a gente esbarra nos supermercados e nem se dá conta.

Dúvidas
Eu comecei a perceber que meu desejo era por homens aos 13 anos. Mas sempre pensava que todo mundo passa por dúvidas sobre a sexualidade e eu não era o único. Achava que iria conseguir viver como um heterossexual. Somente aos 23 anos, depois de terminar o segundo noivado, percebi que não havia caminho para mim na heterossexualidade. Tive relacionamentos com mulheres, foram todos bons, mas, quando eles começavam a ficar mais sérios e duradouros, os meus anseios homossexuais voltavam como um turbilhão, tomavam conta de mim e eu me sentia totalmente desestruturado. A certeza veio no primeiro relacionamento homossexual que tive.

Mensagem
Não se prenda, nem se preocupe em ficar agradando a família com sua própria vida. Agindo assim vai estar jogando uma boa parte dela fora e vai sofrer desnecessariamente. Quem faz isso um dia percebe que foi inútil.

Livro: Desclandestinidade (144 págs.)
Autor: Pedro Zarur Almeida
Editora: Selo GLS Summus
Preço: R$ 20

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