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19/06/2001 - 04h08

Faustão diz que pretende ir até o fim do contrato com a Globo

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RICARDO KOTSCHO
da Folha de S.Paulo, no Rio

Domingo, seis e meia da tarde. Está terminando o programa da Xuxa. A 25 quilômetros do centro do Rio de Janeiro, em Jacarepaguá, 300 homens estão mobilizados no front do Projac, a central de produção da Rede Globo, para mais uma batalha da guerra dos domingos na TV.

Vai entrar no ar o programa número 639 do "Domingão do Faustão", que estreou em março de 1989 com a missão de ganhar do até então imbatível Sílvio Santos e ultimamente vem sendo batido pelo programa do Gugu em São Paulo, embora continue liderando no resto do país.

O mais tranquilo é o próprio Fausto Corrêa Silva, 51, que não se abala com o corre-corre de diretores, produtores e técnicos, nem com os boatos que nas últimas semanas colocaram o seu programa no centro de uma inédita crise de audiência enfrentada pela maior rede de TV do país.

Aconteça o que acontecer, Faustão está decidido a cumprir até o fim seu contrato com a Globo, que só termina em março de 2003. "Sou profissional e cumpro meus compromissos. Não estou brincando de trabalhar. Tenho filha pequena para criar (Lara, 3 anos) e uma pilha de carnês para pagar"

Na pracinha da cidade cenográfica de "A Padroeira", a nova novela das seis que estreou ontem, ele passeia entre vacas e cavalos, conversa com os figurantes e só pergunta quanto tempo falta para o programa começar.
O resto ele improvisa. "Domingo é dia de alegria", resume, lembrando mais um velho pároco do interior, preparando-se para a missa semanal, do que um general em dificuldades no campo de batalha.

Podem variar o sermão e a freguesia de fiéis, mas a liturgia é a mesma há mais de 12 anos, e ele não pretende mudá-la. Quando a direção tentou fazê-lo, não deu certo. Até hoje, Faustão está traumatizado com as duas derrapadas seguidas do programa quando tentaram enfrentar Gugu no campo dele, no início dessa guerra (os célebres episódios do "sushi erótico" e do Latininho). Nos últimos quatro anos, o programa já trocou de diretor cinco vezes, mas o apresentador resiste ao processo de popularização a qualquer preço da televisão brasileira.

"Dramalhão e baixaria eu não faço", diz ele, indiferente ao estresse da equipe na sala do "switcher", que coloca o programa no ar com um olho nos monitores e outro nos números do Ibope. Faustão faz questão de não ser informado sobre as oscilações do eletrocardiograma da audiência durante o programa. "Se eu não me divirto, como é que posso divertir os outros?", justifica.

A rotina do recluso
Para ele, o "Domingão do Faustão" começa no sábado, quando pega um jatinho em Congonhas, na hora do almoço, e desce direto na acanhada pista de Jacarepaguá, ao lado do Projac. Sem falar com a imprensa desde o Carnaval do ano passado, magoado com fofocas sobre a sua vida particular, ele abriu uma exceção para a reportagem da Folha acompanhá-lo no último fim de semana.

"Eu faço a ponte aérea ao contrário. Vou ao Rio para trabalhar no fim de semana...", brinca, enquanto caminha para o avião ao lado de Mário de Girolamo, um velho amigo italiano, na casa de quem fica hospedado quando passa suas habituais férias em Roma. Leva só uma robusta maleta preta, dessas de vendedor de laboratório, e acha graça quando lhe perguntam se não anda com seguranças. "Para que? Quem precisa de segurança no Brasil não é o artista, é o público..."

Na churrascaria rodízio da Barra da Tijuca onde costuma almoçar, quase não consegue comer. A toda hora vem alguém caçar autógrafos, tirar fotos, mostrar um CD que acabou de gravar "com músicas inéditas", sugerir piadas para o programa, pedir emprego ou, pelo menos, que ele fale o nome da pessoa no programa.

"Posso tirar uma foto para mostrar em Ribeirão Preto? Eu e o maior salário da televisão brasileira?", pergunta uma senhora que vem com a família toda. Faustão fecha a cara. "Pô, eu trabalho há 36 anos e ainda tenho que ouvir uma coisa dessas?", reclama. Depois que entrou na seleta faixa das centenas de milhares de reais por mês, não fala sobre quanto ganha.

Recluso a tarde toda no hotel, faz alguns contatos com a produção e lê jornais. Há muito tempo ele não pode andar na rua (só em Roma, quando vai visitar o amigo Mário). "Eu não vou à praia por um motivo humanitário. Não indo, sobra espaço para mais gente, e evito os pentelhos".

Jatinho-carro-restaurante-carro-hotel-carro-restaurante - é a metódica rotina de Faustão no Rio. Vai sempre aos mesmos restaurantes. Com os inseparáveis amigos Caçulinha e Lucimara Parisi (diretora de palco, que trabalha com ele desde os tempos do "Balancê" na Rádio Excelsior, programa de auditório que deu origem ao "Perdidos na Noite" apresentado em três emissoras antes de ser levado por Boni para a Globo), janta no Antiquarius. Apesar do tamanho, come moderadamente e insiste em sugerir pratos aos amigos. "Alegria de gordo é ver magro engordar..."

De helicóptero
Café da manhã no quarto, jornais, telefonemas. Ao meio-dia em ponto, Faustão deixa o hotel em Ipanema. Cinco minutos depois, está no heliponto da Lagoa Rodrigo de Freitas subindo num Esquilo de seis lugares que vai levá-lo ao Projac, como em todos os domingos. Dá uma de co-piloto e irradia a beleza da paisagem, como se fosse a primeira vez.

É sempre o primeiro da equipe a chegar ao Projac. "Eu só trabalho uma vez por semana, pega mal chegar atrasado." Fecha-se no camarim -e lá fica a tarde toda até a hora do programa. Só sai para gravar alguma chamada. Para o artista não passar fome, a produção deixa montado um farto bufê frio com sashimi, presunto, queijos, saladas e outros petiscos.

Fanático por futebol -começou a carreira como repórter esportivo de rádio em Araras, interior paulista- hoje tem um bom programa para passar a tarde: o jogo Corínthians e Grêmio. Deixa a televisão sem som e fica o tempo todo contando histórias dos seus tempos de repórter. Só interrompe
a hora da saudade para uma rápida reunião com a produção.

Desde as quatro da tarde, 300 pessoas já lotam o auditório e um batalhão
de figurantes está posicionado na cidade cenográfica de onde ele vai abrir o programa dessa noite. O "Domingão do Faustão" é até hoje o único programa gerado ao vivo do Projac -e o único que não é reprisado nas férias do apresentador (ele deixa programas gravados, o que acontece de oito a dez vezes por ano).

Para não estragar a maquiagem, ele é levado numa van com ar condicionado até os cenários de "A Padroeira". Ao chegar, atento a tudo, dá logo uma bronca. "Pessoal, olha uma pick-up aí atrás de mim. Isso aqui é século 18 (época em que se passa a novela), não vai ficar bem." Um contra-regra dá a ordem: "Pode por os burros para andar, figurantes caminhando...
Faustão, atenção, a Xuxa está acabando". Cercado pelos protagonistas da novela, Faustão anuncia: "Às 18h40, diretamente da praça da cidade cenográfica da nova novela das seis, está no ar...".
 

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