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20/07/2001
-
04h42
VALMIR SANTOS
da Folha de S.Paulo
Quando escreveu "Eles Não Usam Black-Tie" (1958), Gianfrancesco Guarnieri declarou que o fez graças à sua participação no Seminário de Dramaturgia do teatro Arena, em São Paulo. Foi o empurrão decisivo para o ofício.
Um pouco daquele espírito que dominou a cena teatral nos anos 60, terreno propício para surgimento de novos autores, como Augusto Boal e Oduvaldo Vianna Filho, parece ter voltado à baila no eixo Rio-São Paulo.
Em agosto, o teatro Carlos Gomes, no Rio, abre o projeto Nova Dramaturgia Brasileira e destina sala exclusiva para revelação ou consolidação de autores.
Em setembro, o Espaço Ágora, no bairro paulistano da Bela Vista, idealizado por Celso Frateschi e Roberto Lage, abriga o Seminário Ágora Livre Dramaturgias, com 12 autores convidados a criar seus textos a partir de conceitos como "escreva sobre sua aldeia e falará do universo".
No primeiro semestre de 2002, entra em cena o Festival de Dramaturgia Brasileira Contemporânea, idealizado pelo grupo Teatro Promíscuo, leia-se os atores Renato Borghi e Elcio Nogueira Seixas. Vinte e um autores foram convidados a escrever peças curtas, com no máximo cinco
personagens, a serem encenadas por elenco fixo em vários Estados.
Uma prévia desse projeto acontece hoje no ciclo Leituras de Teatro promovido pela Folha, com participação de peças de Luiz Cabral, Mário Bortolotto, Fernando Bonassi e Victor Navas.
"Nos últimos 15 anos aconteceu uma produção furiosa, caótica e diversificada de textos encenados como guerrilhas isoladas, em espaços mais do que alternativos, sem qualquer condição de produção, com atores kamikazes", afirma Renato Borghi, 64.
"Chegamos a um ponto em que a grande crise, e sempre haverá crise no teatro, é a da dramaturgia. Precisamos configurar a demanda da nova geração de autores", afirma Roberto Alvim, 28, que até anteontem havia recebido 111 textos para o projeto do teatro Carlos Gomes (serão escolhidos e montados 14).
Alvim diz que o desembarque em palcos nacionais de autores contemporâneos estrangeiros, como o norte-americano Eric Bogosian, de "SubUrbia", o canadense Brad Fraser, de "Pobre Super-Homem", e o britânico Patrick Marber, de "Mais Perto", são indícios da tendência, mas não refletem o contexto local.
"Até que enfim os caras estão pensando nisso. É uma dramaturgia que existia havia um tempão, mas vivia sufocada pela ditadura dos diretores", afirma Mário Bortolotto, 38, do grupo Cemitério de Automóveis ("Nossa Vida Não Vale um Chevrolet").
Dionisio Neto, 29, autor de peças como "Antiga" e "Perpétua", desenvolve sua teoria sobre o panorama atual: "A morte do Plínio Marcos [em novembro de 1999], que sustentava junto com Nelson Rodrigues os pilares da dramaturgia no século 20, acabou com a mitificação de que não existia outros dramaturgos com tanta importância", afirma. "Na verdade, não existe um, mas muitos".
Projeto dá voz à dramaturgia contemporânea no Rio a partir de agosto
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da Folha de S.Paulo
Quando escreveu "Eles Não Usam Black-Tie" (1958), Gianfrancesco Guarnieri declarou que o fez graças à sua participação no Seminário de Dramaturgia do teatro Arena, em São Paulo. Foi o empurrão decisivo para o ofício.
Um pouco daquele espírito que dominou a cena teatral nos anos 60, terreno propício para surgimento de novos autores, como Augusto Boal e Oduvaldo Vianna Filho, parece ter voltado à baila no eixo Rio-São Paulo.
Em agosto, o teatro Carlos Gomes, no Rio, abre o projeto Nova Dramaturgia Brasileira e destina sala exclusiva para revelação ou consolidação de autores.
Em setembro, o Espaço Ágora, no bairro paulistano da Bela Vista, idealizado por Celso Frateschi e Roberto Lage, abriga o Seminário Ágora Livre Dramaturgias, com 12 autores convidados a criar seus textos a partir de conceitos como "escreva sobre sua aldeia e falará do universo".
No primeiro semestre de 2002, entra em cena o Festival de Dramaturgia Brasileira Contemporânea, idealizado pelo grupo Teatro Promíscuo, leia-se os atores Renato Borghi e Elcio Nogueira Seixas. Vinte e um autores foram convidados a escrever peças curtas, com no máximo cinco
personagens, a serem encenadas por elenco fixo em vários Estados.
Uma prévia desse projeto acontece hoje no ciclo Leituras de Teatro promovido pela Folha, com participação de peças de Luiz Cabral, Mário Bortolotto, Fernando Bonassi e Victor Navas.
"Nos últimos 15 anos aconteceu uma produção furiosa, caótica e diversificada de textos encenados como guerrilhas isoladas, em espaços mais do que alternativos, sem qualquer condição de produção, com atores kamikazes", afirma Renato Borghi, 64.
"Chegamos a um ponto em que a grande crise, e sempre haverá crise no teatro, é a da dramaturgia. Precisamos configurar a demanda da nova geração de autores", afirma Roberto Alvim, 28, que até anteontem havia recebido 111 textos para o projeto do teatro Carlos Gomes (serão escolhidos e montados 14).
Alvim diz que o desembarque em palcos nacionais de autores contemporâneos estrangeiros, como o norte-americano Eric Bogosian, de "SubUrbia", o canadense Brad Fraser, de "Pobre Super-Homem", e o britânico Patrick Marber, de "Mais Perto", são indícios da tendência, mas não refletem o contexto local.
"Até que enfim os caras estão pensando nisso. É uma dramaturgia que existia havia um tempão, mas vivia sufocada pela ditadura dos diretores", afirma Mário Bortolotto, 38, do grupo Cemitério de Automóveis ("Nossa Vida Não Vale um Chevrolet").
Dionisio Neto, 29, autor de peças como "Antiga" e "Perpétua", desenvolve sua teoria sobre o panorama atual: "A morte do Plínio Marcos [em novembro de 1999], que sustentava junto com Nelson Rodrigues os pilares da dramaturgia no século 20, acabou com a mitificação de que não existia outros dramaturgos com tanta importância", afirma. "Na verdade, não existe um, mas muitos".
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