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30/06/2000
-
05h29
CELSO FIORAVANTE
da Folha de S. Paulo, em Veneza
A 7ª edição da Bienal de Arquitetura de Veneza, em cartaz na cidade italiana até 29 de outubro, seguiu o tema "Cidade - Menos Estética, Mais Ética", proposto por seu curador, o arquiteto e urbanista italiano Massimiliano Fuksas.
Seguiu, mas foi logo adiante, ultrapassando-o, pois percebeu que, devido ao seu maniqueísmo, o tema deveria ser subvertido. Produziu pavilhões como o do Japão, que, apesar de absolutamente estético, era movido por preocupações éticas.
Fuksas, o curador, ao contrário, pregou um discurso ético, mas o que se sobressaiu foram as características estéticas de sua curadoria, como os 300 metros do telão em que eram exibidas imagens on line de metrópoles de todo o mundo. Não se comentavam as imagens, mas apenas o tamanho do telão.
Questões políticas importantes, como imigração, deslocamentos e habitação para desabrigados e vítimas de guerras, também foram abordadas.
O evento dedicou uma seção especial ao arquiteto francês do pós-guerra Jean Prouvé, mas colocou-o em um espaço isolado no espaço Arsenale, sem identificação, o que fez com que suas construções parecessem destroços e não "arquitetura de sobrevivência". Prouvé dedicou-se à criação de alojamentos com estruturas pré-fixadas destinados a satisfazer situações de emergência, como o abrigo de refugiados de guerra.
Krysztof Wodiczko, designer industrial e artista plástico polonês radicado nos EUA, apresentou em Veneza seu "The Homeless Vehicle Project" (Projeto para Veículo de Desabrigado), uma espécie de veículo de mão em que o proprietário pode guardar seus utensílios básicos e dormir. Wodiczko é diretor do Center for Advanced Visual Studies do MIT (Massachusetts Institute of Technology).
A Alemanha também utilizou sua experiência com guerras (e a consequente destruição arquitetônica advinda delas) para conceber seu pavilhão no evento. Sob o tema: "Transformações Urbanas: Berlim 1940-1953-1989-2000-2010", o país apresentou um painel histórico da evolução arquitetônica da sua capital.
Trata-se de um retrato trágico. O desenvolvimento dos mapas na cidade mostra como a cidade foi absolutamente destruída e reconstruída no período.
Aquilo que escapou dos ataques aéreos inimigos não sobreviveu aos tratores dos planos urbanísticos locais.
A reconstrução de Berlim foi um ato político, já que ali deveria nascer uma nova sociedade. A planta histórica da cidade foi submetida a uma nova rede de estradas e linhas ferroviárias.
A nova cidade deveria cancelar os resíduos de um mundo burguês. Isso deu espaço para o trabalho de dezenas de arquitetos de todo o mundo, inclusive Oscar Niemeyer.
Tudo isso é observável no pavilhão, que traz ainda um didático painel de fotografias que mostra dezenas de pontos da cidade em diferentes anos.
O Brasil nunca precisou se preocupar com a guerra e seus refugiados e desabrigados, mas a participação do país na Bienal de Veneza abordou problemas de outros excluídos: aqueles desprovidos de escolas ou assistência médica.
O pavilhão brasileiro apresentou obras do arquiteto João Filgueiras Lima, cujas preocupações são absolutamente sociais.
Lelé, como é conhecido, desenvolve um trabalho baseado em um sistema de produção industrializado (pré-moldados), com o qual viabiliza a construção de escolas e hospitais em curto espaço de tempo e baixo custo.
Entre suas obras mais importantes, estão os hospitais da rede Sarah Kubitschek, em Brasília, Salvador, Fortaleza, São Luís e Belo Horizonte, e escolas na periferia de Salvador. O Brasil apresenta ainda projetos de Paulo Mendes da Rocha.
O site da Bienal de Arquitetura de Veneza é www.labiennale.org.
O jornalista Celso Fioravante viajou a Veneza a convite da Fundação Bienal, que organiza a participação brasileira
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Bienal de Veneza vê na arte e na ética os caminhos do homem
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da Folha de S. Paulo, em Veneza
A 7ª edição da Bienal de Arquitetura de Veneza, em cartaz na cidade italiana até 29 de outubro, seguiu o tema "Cidade - Menos Estética, Mais Ética", proposto por seu curador, o arquiteto e urbanista italiano Massimiliano Fuksas.
Seguiu, mas foi logo adiante, ultrapassando-o, pois percebeu que, devido ao seu maniqueísmo, o tema deveria ser subvertido. Produziu pavilhões como o do Japão, que, apesar de absolutamente estético, era movido por preocupações éticas.
Fuksas, o curador, ao contrário, pregou um discurso ético, mas o que se sobressaiu foram as características estéticas de sua curadoria, como os 300 metros do telão em que eram exibidas imagens on line de metrópoles de todo o mundo. Não se comentavam as imagens, mas apenas o tamanho do telão.
Questões políticas importantes, como imigração, deslocamentos e habitação para desabrigados e vítimas de guerras, também foram abordadas.
O evento dedicou uma seção especial ao arquiteto francês do pós-guerra Jean Prouvé, mas colocou-o em um espaço isolado no espaço Arsenale, sem identificação, o que fez com que suas construções parecessem destroços e não "arquitetura de sobrevivência". Prouvé dedicou-se à criação de alojamentos com estruturas pré-fixadas destinados a satisfazer situações de emergência, como o abrigo de refugiados de guerra.
Krysztof Wodiczko, designer industrial e artista plástico polonês radicado nos EUA, apresentou em Veneza seu "The Homeless Vehicle Project" (Projeto para Veículo de Desabrigado), uma espécie de veículo de mão em que o proprietário pode guardar seus utensílios básicos e dormir. Wodiczko é diretor do Center for Advanced Visual Studies do MIT (Massachusetts Institute of Technology).
A Alemanha também utilizou sua experiência com guerras (e a consequente destruição arquitetônica advinda delas) para conceber seu pavilhão no evento. Sob o tema: "Transformações Urbanas: Berlim 1940-1953-1989-2000-2010", o país apresentou um painel histórico da evolução arquitetônica da sua capital.
Trata-se de um retrato trágico. O desenvolvimento dos mapas na cidade mostra como a cidade foi absolutamente destruída e reconstruída no período.
Aquilo que escapou dos ataques aéreos inimigos não sobreviveu aos tratores dos planos urbanísticos locais.
A reconstrução de Berlim foi um ato político, já que ali deveria nascer uma nova sociedade. A planta histórica da cidade foi submetida a uma nova rede de estradas e linhas ferroviárias.
A nova cidade deveria cancelar os resíduos de um mundo burguês. Isso deu espaço para o trabalho de dezenas de arquitetos de todo o mundo, inclusive Oscar Niemeyer.
Tudo isso é observável no pavilhão, que traz ainda um didático painel de fotografias que mostra dezenas de pontos da cidade em diferentes anos.
O Brasil nunca precisou se preocupar com a guerra e seus refugiados e desabrigados, mas a participação do país na Bienal de Veneza abordou problemas de outros excluídos: aqueles desprovidos de escolas ou assistência médica.
O pavilhão brasileiro apresentou obras do arquiteto João Filgueiras Lima, cujas preocupações são absolutamente sociais.
Lelé, como é conhecido, desenvolve um trabalho baseado em um sistema de produção industrializado (pré-moldados), com o qual viabiliza a construção de escolas e hospitais em curto espaço de tempo e baixo custo.
Entre suas obras mais importantes, estão os hospitais da rede Sarah Kubitschek, em Brasília, Salvador, Fortaleza, São Luís e Belo Horizonte, e escolas na periferia de Salvador. O Brasil apresenta ainda projetos de Paulo Mendes da Rocha.
O site da Bienal de Arquitetura de Veneza é www.labiennale.org.
O jornalista Celso Fioravante viajou a Veneza a convite da Fundação Bienal, que organiza a participação brasileira
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